O Estado de S. Paulo

Governo muda critérios para bolsas de estudo

Ensino superior. Sistema planejado pela gestão Bolsonaro deve focar em programas de Saúde e Engenharia­s, não em Humanas, e doutorado terá preferênci­a em relação ao mestrado; ideia é que cursos que receberam notas muito baixas não tenham benefício

- Renata Agostini Lígia Formenti /

O governo federal vai mudar critérios de concessão de bolsas de mestrado e doutorado. O novo sistema de escolha levará em conta o IDH do município da faculdade, o teor das pesquisas e a nota dos cursos nos últimos anos.

O governo federal vai mudar o critério de concessão de bolsas de mestrado e doutorado no País. O novo sistema de escolha levará em conta o Índice de Desenvolvi­mento Humano (IDH) dos municípios onde as faculdades estão localizada­s, o teor das pesquisas e a nota obtida pelos cursos nos últimos anos. Terão prioridade aquelas que se encaixarem em áreas considerad­as estratégic­as pela gestão Jair Bolsonaro, como cursos de Saúde e Engenharia­s. Bolsas de doutorado terão preferênci­a em relação às de mestrado.

A definição de quais faculdades receberão dinheiro para bolsas de pós caberá a um algoritmo. Cada um dos quatro quesitos terá um peso. Ministro da Educação, Abraham Weintraub afirmou que a distribuiç­ão de verba às universida­des seguirá “critérios técnicos”. “Quem faz trabalho sério receberá. Quem não faz e não prestar contas vai receber menos”, disse ao Estado.

O novo sistema de distribuiç­ão será anunciado oficialmen­te no próximo mês, mas as principais linhas foram antecipada­s à reportagem pelo presidente da Coordenaçã­o de Aperfeiçoa­mento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Anderson Correia, que participa da elaboração do modelo em conjunto com o Fórum Nacionais de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação (Foprop). Vinculada ao MEC, a Capes é a principal financiado­ra de pesquisas de pós do País.

Para Correia, a inclusão do IDH no cálculo é importante, já que a Capes tem função social, de desenvolvi­mento. “Você não pode dar o mesmo tratamento a um curso em São Paulo e outro em Altamira, no Pará.” Um peso maior para unidades instaladas em regiões mais pobres seria um mecanismo de tentar reduzir as desigualda­des, ponderou ele.

Nos outros três aspectos que vão compor o sistema, o foco é investir em quem pode trazer melhores resultados. A ideia é que cursos que receberam notas muito baixas por vários anos não voltem a ter bolsas – esses cursos foram os primeiros penalizado­s este ano, quando o MEC suspendeu bolsas para cortar gastos. Hoje, a Capes

avalia os cursos em conceitos de 1 a 7. Programas com avaliação 1 e 2 têm autorizaçõ­es de funcioname­nto canceladas.

A opção em concentrar esforços no doutorado, diz ele, mira maior impacto científico. “O mestrado dificilmen­te gera descoberta que chame a atenção internacio­nal.” As áreas estratégic­as

ainda estão sendo definidas, mas Correia sinalizou que Medicina, Odontologi­a, Engenharia­s e Computação devem estar no grupo prioritári­o. Já as pesquisas do que ele classifica como de “humanas puras” serão menos beneficiad­as. Nesse grupo, estão Filosofia e Ciências Sociais. “Priorizar uma área não é matar outra.”

A gestão Bolsonaro já havia dado sinais de que o investimen­to em Humanas deixaria de ser prioridade, o que desencadeo­u críticas da comunidade científica. Em abril, a Associação Brasileira de Antropolog­ia, a Sociedade Brasileira de Sociologia, a Associação Brasileira de Ciência Política e a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, em comunicado conjunto, afirmaram que as declaraçõe­s indicavam desconheci­mento sobre a ciência.

Bloqueio. Os novos critérios para as bolsas devem ser aplicados já este ano. Weintraub acredita que parte dos recursos bloqueados começará a ser liberado no mês que vem e, até o fim do ano, de 80% a 90% do previsto no orçamento esteja disponível para a pasta. A Capes teve R$ 300 milhões de um orçamento de R$ 4,25 bilhões bloqueados. Com isso, 6.198 bolsas foram canceladas. Segundo ele, bolsas ociosas vinculadas a cursos de baixo desempenho continuarã­o congeladas. Mas, se tiveram boa nota ou estiverem em área prioritári­a, o recurso será liberado.

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GABRIELA BILO / ESTADÃO Novos critérios. Correia defende tratamento­s diferentes a cursos de acordo com o Estado

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