Professores aderem a protestos em Hong Kong
Novas manifestações contra o governo, ligado à China, estão marcadas para este domingo
Milhares de professores protestaram pacificamente ontem em Hong Kong com o lema “Protejamos a próxima geração, deixem que as nossas consciências falem”, em apoio às manifestações próDemocracia – lideradas por jovens – que ocorrem há 11 fins de semana seguidos na região. Novos protestos estão marcados para hoje.
A manifestação reuniu cerca de 30 mil pessoas, segundo os organizadores. Com guardachuvas, os manifestantes caminharam em direção à residência da chefe do governo, Carrie Lam, com gritos de “Protejam os estudantes! Os professores caminham com eles” e “Parem com a brutalidade policial, escutem as reivindicações do povo!”. Esta é a segunda vez desde que começaram as mobilizações em massa, em junho, que os professores se manifestam.
O deputado e diretor do Sindicato dos Professores Profissionais de Hong Kong, Ip Kinyuen, criticou a polícia pela linha dura com os jovens nos protestos e o governo, por não tomar
medidas a respeito das demandas dos manifestantes, que basicamente se opõem ao autoritarismo da China.
As manifestações em Hong Kong começaram no início de junho, contra um polêmico projeto de lei de extradição que, segundo os opositores, poderia permitir que críticos ao regime comunista fossem levados à China para serem julgados sem garantias de direitos.
Muitos cidadãos de Hong Kong consideram a ilha o último bastião da democracia na China. Hong Kong faz parte da China continental, mas é um território semiautônomo que por 150 anos permaneceu como colônia britânica. Em 1997, a ilha foi devolvida à República Popular da China após uma
série de negociações. Até 2047, Hong Kong deveria ser capaz de se governar sob uma política conhecida como “um país, dois sistemas”, ou seja: Hong Kong permaneceria sob soberania chinesa, mas com independência para manter seus próprios sistemas políticos e jurídicos.
Mas as interdições na vida política têm sido cada vez mais frequentes. Apesar da retirada do projeto, os protestos continuaram e agora exigem o fim do governo de Carrie Lam, considerado submisso aos desejos da China continental, e pedem eleições livres e com participação de toda a população. Hoje, só metade dos 70 legisladores são eleitos pelo voto popular direto.
Intervenção chinesa. Ainda ontem, milhares de partidários do governo se concentraram em um parque de Hong Kong para criticar o movimento pró-democracia e apoiar a polícia, uma demonstração das crescentes divisões na cidade.
O governo chinês vem usando os protestos e os bloqueios realizados pelos manifestantes, nas ruas e no aeroporto de Hong Kong, como propaganda política.
A imprensa estatal publicou uma enxurrada de artigos, imagens e vídeos sobre o assunto.
Nos últimos dias o governo começou a transferir unidades militares para Shenzhen, a cidade chinesa do outro lado da fronteira, a menos de 40 quilômetros de distância da antiga colônia britânica. O movimento de tropas foi recebido com estardalhaço pela mídia estatal chinesa.
Imagens de satélite confirmaram a presença de várias dezenas de veículos blindados no estádio de Shenzhen. Fotografias divulgadas na sexta-feira pela agência Reuters também mostram soldados chineses fardados fazendo exercícios para conter manifestações como as que mantêm Hong Kong mergulhada na maior crise de sua história moderna, qualificadas esta semana por Pequim como “terrorismo”.
Os Estados Unidos alertaram que uma intervenção militar seria um “grande erro”, e a União Europeia conclamou os manifestantes e o governo a negociarem uma solução para o impasse em “um amplo diálogo que também inclua a comunidade internacional”.