O Estado de S. Paulo

Especialis­tas veem riscos de filtro ideológico do governo

Atenção menor a cursos de Humanas preocupa educador; País tem meta de, até 2024, formar 25 mil doutores por ano

- Isabela Palhares

Especialis­tas temem que a inclusão de novos critérios leve a uma “escolha ideológica” na distribuiç­ão de bolsas. Para eles, o País já tem sistema de avaliação da pós-graduação robusto, baseado na qualidade dos cursos.

“É importante que nenhuma área seja deixada de fora. Uma preocupaçã­o seria com a desassistê­ncia às Humanas, que em outros momentos também já foram excluídas, como no programa Ciências sem Fronteiras (criado na gestão Dilma Rousseff, que financiava intercâmbi­os no exterior). É perigoso que haja direcionam­ento ideológico”, alerta Simon Schwartzma­n, da Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes).

Especialis­tas também questionam o uso do Índice de Desenvolvi­mento Humano (IDH) como critério, já que a maioria das pós estão em áreas em que o indicador é mais alto. “Regiões com IDH muito baixo não têm programas de doutorado”, afirma João Cardoso Palma Filho, professor da Universida­de Estadual Paulista (Unesp) e ex-presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Estadual de Educação de São Paulo.

E, para ele, se querem priorizar a bolsa para o doutorado, seria preciso mudar a estrutura de pós no País, que exige passagem pelo mestrado. Como o Estado revelou em junho, a Universida­de de São Paulo (USP) propôs à Capes um novo modelo de pós-graduação, integrando o mestrado ao doutorado, o que reduziria o tempo total de titulação de seis para cinco anos. A meta do Plano Nacional de Educação é de formar, até 2024, um total 25 mil doutores por ano no País. Em 2016, esse número foi de cerca de 20,6 mil.

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