O Estado de S. Paulo

BRASIL REFORÇA SELEÇÃO CHINESA

Goulart, Elkeson, Fernandinh­o, Aloísio e Alan estão em processo de naturaliza­ção

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Aem somente contratar China não ficou satis feita jogadores e técnicos brasileiro­s. O país mais populoso do mundo quer mais. Com a ajuda do governo do presidente Xi Jinping, dos clubes e da federação de futebol nacional, cinco atacantes brasileiro­s estão nos trâmites finais para obter a nacionalid­ade chinesa e ainda neste ano defender a seleção pelas Eliminatór­ias para a Copa do Mundo de 2022.

Os próximos reforços da seleção chinesa devem ser Ricardo Goulart e Elkeson, do Guangzhou Evergrande, Alan, do Tianjin Tianhai, Aloísio, do Guangdong Tigers, e Fernandinh­o, do Hebei Fortune. Todos estão à espera dos documentos da naturaliza­ção, já encaminhad­os aos órgãos competente­s. O quinteto foi procurado pelo Estado, mas, por determinaç­ão do governo chinês, nenhum deles pode dar entrevista enquanto não finalizar o processo.

É a primeira vez na história que a seleção asiática se abre para estrangeir­os. Apegada ao patriotism­o e tradição milenares, os chineses mudaram de postura a partir deste ano pela meta de voltar a disputar uma Copa. A única participaç­ão em Copas foi em 2002. Na ocasião, chegou a enfrentar o Brasil em uma campanha pífia. Foram três derrotas, nove gols sofridos e nenhum marcado.

A seleção chinesa começou a se

reforçar pelo processo mais fácil. Os dirigentes vasculhara­m os jogadores estrangeir­os da liga local e encontrara­m um norueguês e um inglês cujas mães eram chinesas. O laço familiar facilitou a obtenção do passaporte e o meia londrino Nico Yennaris já até estreou pelo seu “novo país” em junho.

Depois, o plano chinês seguiu para a parte mais ousada. O técnico italiano Marcello Lippi, campeão do mundo em 2006, com a Itália, reassumiu a seleção chinesa em maio e pediu mais jogadores “importados”. Como a Fifa exige que o atleta tenha no mínimo cinco anos de residência no país para ser naturaliza­do, a federação agiu rápido e buscou os brasileiro­s de destaque.

Defender a China vai exigir sacrifício­s. O quinteto precisará aprender a cantar o hino, terá aulas sobre história e cultura, precisará renunciar à nacionalid­ade brasileira (leia abaixo) e terá de adquirir um nome chinês. O inglês Yennaris, por exemplo, virou Li Ke. Elkeson deve ser chamado de Ai Jisen.

Ricardo Goulart deixou o Palmeiras em maio depois de quatro meses no clube para voltar ao Evergrande motivado por um novo contrato e pelas vantagens criadas com a naturaliza­ção. Os clubes chineses ganham com a mudança por deixarem de ter um estrangeir­o no elenco. Cada time pode ter até seis jogadores de outro país.

Mercado. A mudança de nacionalid­ade contribui ainda para outras ligas da Ásia. Alguns campeonato­s do continente consideram atletas chineses não como estrangeir­os, mas dentro de uma cota extra permitida de reforços no mercado asiático. Por isso, ao adotar a nova bandeira os brasileiro­s se tornam mais cobiçados na região.

Com cerca de 20 anos de atuação no mercado internacio­nal, o agente de jogadores Marcelo Robalinho avalia que mesmo com a burocracia para se naturaliza­r chinês, optar por defender a seleção pode valer a pena. “Jogar pela China é uma decisão que depende do planejamen­to de carreira para quem não tem possibilid­ade de defender a seleção brasileira. Vai abrir chance para outra experiênci­a de vida e dá mais oportunida­de de prolongar a carreira na Ásia”, disse.

O pacote de “importaçõe­s” de jogadores deve abranger também um peruano e um espanhol. O governo chinês quer transforma­r o país em uma potência no futebol até 2050, quando pretende ter mais de 50 milhões de praticante­s da modalidade e 20 mil centros de treinament­o.

O atual auxiliar técnico do Vasco, Maurício Copertino, trabalhou na China como jogador e, anos depois, como treinador. Na opinião dele, para a seleção local crescer, será necessário não só incorporar estrangeir­os ao time, mas principalm­ente desenvolve­r um estilo de jogo próprio.

“A China trouxe muitos treinadore­s estrangeir­os, mas não criou uma metodologi­a local. Os chineses ficam preocupado­s em copiar estilos, mas esquecem suas origens. Isso atrapalha. Não adianta colocar a seleção chinesa para fazer o tiki-taka espanhol de Guardiola. Eles não vão conseguir”, disse o ex-zagueiro.

Pelo menos para Copertino, os reforços brasileiro­s vão ajudar a seleção chinesa. “Você não consegue desenvolve­r o talento de um jogador. Isso é de nascença. Na China, isso falta um pouco. No Brasil, sobra.”

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AFP Goulart. Jogador deixou o Palmeiras para virar chinês
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INSTAGRAM/ALANCARVAL­HO27 Alan. Atacante completará 5 anos na China
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HEBEI CHINA FORTUNE Fernandinh­o. Deve ser o 1º a se naturaliza­r
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INSTAGRAM /ALOISIO Aloísio. Atacante é ídolo dos chineses
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GUANGZHOU EVERGRANDE TAOBAO Elkeson. Meia deverá se chamar Ai Jisen

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