O Estado de S. Paulo

A Zona Franca de Manaus e a reforma tributária

- CELSO MING

Um dos complicado­res para aprovação de uma reforma tributária é a situação da Zona Franca de Manaus (ZFM). Os principais projetos de reforma preveem cobrança do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que é uma variação do atual ICMS, não mais na origem da mercadoria ou do serviço, mas no destino, como deve ser. Ou seja, paga o imposto não quem fabrica, mas quem consome.

O problema é que os incentivos fiscais destinados à Zona Franca de Manaus correspond­em à isenção de impostos sobre produtos lá fabricados. A questão está em saber como se sustentari­a a ZFM, a partir do momento em que mudar o regime tributário para cobrança no destino.

Para o autor da proposta encaminhad­a pelo deputado Baleia Rossi (MDBSP), que tramita na Câmara dos Deputados, o economista Bernardo Appy, esta e qualquer outra política de incentivo regional deve prever destinação orçamentár­ia. O Congresso vota quanto dos recursos arrecadado­s vão para cada projeto e, assim, os subsídios são apontados no Orçamento da União.

O outro projeto que está no Senado, de autoria do ex-deputado tucano Luiz Carlos Hauly, prevê a concessão de um “crédito presumido” destinado a manter a competitiv­idade das empresas da área. A bancada dos políticos do Amazonas parece preferir essa segunda opção.

Mas há uma questão anterior a essa: a da maneira de preservar a Zona Franca independen­temente das novas regras tributária­s. Trata-se de saber até que ponto vale a pena manter um programa de desenvolvi­mento que até agora não apresentou resultados.

A Zona Franca foi criada em 1967, no governo militar, com o objetivo de desenvolve­r uma área imensa, objeto de cobiça de outras potências. Tratavase, então, de um programa temporário que garantiria a criação de uma indústria

local que se encarregas­se de proporcion­ar grande número de empregos e, assim, de emancipar a região. Não foi o que aconteceu. Mesmo agraciada com alto volume de subsídios e de renúncias fiscais, da ordem de R$ 24 bilhões por ano, a maioria das indústrias que lá operam não passa de maquiadora­s de produtos importados ou montadoras de peças também importadas, cuja competitiv­idade é fortemente atacada pelo alto custo da logística, especialme­nte do transporte. Mesmo com todo o empurrão oficial, as exportaçõe­s são insignific­antes. Até mesmo a área de hardware (equipament­os de informátic­a), que exige chips importados, preferiu dispensar os subsídios e se instalar em outros Estados.

O setor não conseguiu criar mais do que 40 mil empregos diretos e indiretos nem garantiu o prometido desenvolvi­mento sustentáve­l para a região. O que era para ser temporário já tem mais de 50 anos e vai se perpetuand­o.

A Zona Franca terá ainda mais dificuldad­es para se manter a partir do momento em que a abertura da economia para o exterior e a forte redução do Imposto de Importação, prevista nos acordos de comércio, passarem a vigorar.

Em vez de lá manter uma indústria artificial e provavelme­nte sem futuro, melhor seria aproveitar os recursos fiscais despejados na Zona Franca para um amplo programa de investimen­tos em infraestru­tura e desenvolvi­mento humano.

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ALBERTO CESAR ARAUJO/ESTADÃO - 12/8/2010 Manaus. Indústrias artificiai­s
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