O Estado de S. Paulo

Letícia Colin, de volta ao drama

A atriz fala sobre sua personagem viciada em drogas em nova série

- Adriana Del Ré

Até o mês passado, Letícia Colin estava no ar na Globo como a adorável Marilyn, a musa do sertão, na série cômica Cine Holliúdy. A primeira temporada da produção, protagoniz­ada por Edmilson Filho, chegou ao fim já com a promessa de uma nova safra de episódios. O humor leve da série e seus saborosos personagen­s conquistar­am o público – e garantiram a continuida­de da saga na TV. “Eu já admirava o cinema de Edmilson. Então, queria muito me misturar com essa galera e aprender, porque é um humor que adoro, me divirto, é brasileiro, tão autêntico e bem feito pelo pessoal do Ceará. Foi um desafio para mim. E tenho amigos, tenho laços muito próximos”, diz a atriz, em entrevista ao Estado.

Mas, enquanto Cine Holliúdy estava sendo exibida, Letícia já se dedicava à gravação de outra série, cuja história traz uma atmosfera totalmente oposta. Na densa e dramática Onde Está Meu Coração, série original Globoplay – criada e escrita por George Moura e Sérgio Goldenberg –, a atriz vive Amanda, uma brilhante médica de classe média alta, mas que perde o controle de sua vida após ficar viciada em drogas. “O crack a carrega para essa roda de destruição. Ela não consegue mais dar conta do trabalho dela como residente, deixa de ter o controle da vida dela e passa a viver de ir atrás de mais drogas”, descreve ela. “O crack tem essa caracterís­tica, é destrutivo, é uma coisa que drena a pessoa. Então, ela vai perdendo tudo, vai se colocando em risco.”

Amanda é filha de David (interpreta­do por Fábio Assunção), renomado médico, o que, de certa forma, a sufoca. Isso seria um dos estopins para sua jornada de autodestru­ição. “Ela vive sob uma influência intensa do estresse. É uma médica que sai do ambiente da escola e se depara com o dia a dia duro do hospital, porque ela enfrenta ali a questão da perda da vida humana, diferentem­ente do distanciam­ento da sala de aula. Ela também tem essa dificuldad­e de aceitar que a medicina não dá conta de tudo, que não explica tudo”, pondera. “Acho que tem uma cobrança pessoal dela com a figura do pai, que é muito bom médico, essa coisa de você não se achar boa o suficiente, essa falta de espaço para colocar suas vulnerabil­idades em questão, para desabafar. A gente vai perdendo isso com a pressa, com a correria. A gente vai achando que é desimporta­nte acolher as nossas vulnerabil­idades. E a droga está totalmente ligada com vulnerabil­idade.”

Tal e qual a vida real, a família de Amanda também é afetada por sua dependênci­a química. O casamento com Miguel (Daniel de Oliveira) entra em colapso; seu pai e sua irmã, Julia (Manu Morelli), tentam entender o que está acontecend­o; mas é sua mãe, Sofia (Mariana Lima), que não desiste dela. “É a única que fica até o fim, paga dívida da filha, leva para internação. Isso também é o que geralmente acontece fora da ficção.”

Durante a preparação para a personagem, Letícia conta que visitou locais como o Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) e a Cracolândi­a, em São Paulo. “Eu também encontrava com algumas pessoas que me contavam um pouco sobre suas histórias pessoais. Isso me ajudou muito. Elas me contavam o que sentiam, porque tem um momento em que a pessoa entra e parece que não tem saída, que é muito difícil recomeçar e se levantar pela vigésima vez da vigésima recaída.”

A atriz também encontrou

A gente vai achando que é desimporta­nte acolher as nossas vulnerabil­idades. E a droga está totalmente ligada com vulnerabil­idade”

apoio no ator Fábio Assunção, que fala abertament­e sobre a própria dependênci­a química. “Nós como atores usamos muito nossas experiênci­as. Se você vai fazer uma história de amor, você revisita seus encontros românticos, e o Fábio tem muita história de vida e isso é muito rico para o ator. Ele tem um coração gigante, e tem um pensamento muito progressis­ta sobre esse assunto: de drogas, tratamento, políticas de drogas”, comenta a atriz. “É um cara que admiro muito. Então, quando alguém tem essa inteligênc­ia, essa maturidade para usar essa história pessoal a serviço das coisas, é maravilhos­o. E claro que, muitas vezes, eu desabafei, perguntei coisas, queria a opinião dele, mas não acho que tenha sido tão diferente quanto as vezes que perguntei para a Mariana Lima, por exemplo. Todos nós temos histórias.”

Gravidez. Casada com o ator Michel Melamed – que também está no elenco da série –, Letícia Colin, aos 29 anos, descobriu que estava grávida durante as gravações de Onde Está Meu Coração. Tudo junto e ao mesmo tempo. “Sou uma pessoa muito intensa, muito emotiva e sensível desde criança. Levei minha vida sempre de um jeito muito próximo das minhas emoções, dos meus sentimento­s. Não tenho medo de me emocionar. Isso tudo me ajudou a não endurecer, não ter medo, falar ‘ok, uma coisa de cada vez’. Tive calma comigo mesma, os 9 meses são para nós dois, para a mãe e para o bebê. As coisas não são imediatas e blocadas. Vou ter tempo de assimilar, como muitas mulheres fazem: trabalhand­o, vivendo, pagando as contas.”

Com direção artística de Luísa Lima e supervisão artística de José Villamarim, a série, com estreia prevista para 2020, foi gravada em Santos e São Paulo, em locações externas. Conta ainda com os atores Camila Márdila, Ana Flávia Cavalcanti, Cacá Carvalho, Rodrigo Garcia, Rodrigo dos Santos, Bárbara Colen, entre outros.

 ?? FABIO ROCHA/TV GLOBO ?? A atriz. Como Amanda:: o vííciio em drogas a leva à autodestru­iição
FABIO ROCHA/TV GLOBO A atriz. Como Amanda:: o vííciio em drogas a leva à autodestru­iição

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil