Mais ricos têm 56% das deduções de saúde do IR
Concentração. Grupo, formado por quem ganha mais de dez salários mínimos, abateu R$ 44,4 bilhões em despesas médicas na declaração do IR de 2018; alta renda também é o segmento da população mais contemplado com o benefício nos gastos com educação
Levantamento do Estado com base em dados da Receita mostra que 56% das deduções de gastos com saúde do Imposto de Renda da Pessoa Física são concedidas a contribuintes que ganham acima de dez salários mínimos por mês. Os 19,7% mais ricos entre os declarantes abateram R$ 44,4 bilhões em despesas com saúde na declaração de 2018. Na educação, esse também é o grupo mais contemplado pelo benefício.
Procurar entender os mercados financeiros é como tentar compreender as tendências em um mar violento. A informação que emerge é o produto da compra e venda pelas pessoas, com todas suas contradições. Os preços refletem uma mistura de emoção, preconceito e cálculos desapaixonados. Vistos em conjunto, porém, os mercados dizem alguma coisa sobre o estado de ânimo dos investidores e do momento.
O sinal mais comum relacionado a isso é a complacência. Isso significa que os riscos são ignorados até que se torna tarde demais. Mas o humor dominante nos mercados, hoje, como ocorreu em grande parte da década passada, não é a complacência, mas o nervosismo. Que vem se aprofundando a cada dia.
Ele é mais evidente no apetite surpreendente pelo mais seguro dos ativos: títulos de governo. Na Alemanha, onde os dados divulgados esta semana mostraram que a economia vem encolhendo, os juros estão negativos para todos os vencimentos – de títulos imediatos aos de 30 anos.
Com isso, investidores que compram e mantêm títulos até o vencimento terão prejuízo garantido. Na Suíça, os rendimentos negativos se estendem até os títulos de 50 anos. Mesmo na Itália, endividada e propensa a uma crise, um título de dez anos rende somente 1,5%. Nos Estados Unidos, a curva invertida de juros dos títulos de dez anos indica que eles valem menos do que títulos de três meses – situação peculiar que pressagia uma recessão.
A inquietação é evidente por todos os lados. O dólar, considerado um refúgio, vem se valorizando frente a muitas outras moedas. O ouro está em alta há seis anos. Os preços do cobre, que representam a saúde
industrial, vêm caindo drasticamente. Apesar da captura de petroleiros no Golfo pelo Irã, os preços do petróleo mergulharam para US$ 60 o barril.
Muitas pessoas temem que esses estranhos sinais sejam prenúncio de uma recessão global. As nuvens de tempestade com certeza estão se acumulando. Esta semana, a China informou que sua produção industrial cresceu no ritmo mais lento desde 2002. A expansão, que durou dez anos nos Estados Unidos, é a mais antiga registrada, o que para os economistas, uma desaceleração é aguardada. Com os juros já tão baixos, a capacidade de combater essa desaceleração esgotou.
Os investidores temem que o mundo esteja se transformando num Japão, com uma economia inerte que luta para vencer a deflação e, portanto, tende a se retrair.
Mas a recessão até agora é apenas medo, não realidade. A economia mundial ainda vem crescendo, embora a um ritmo menos saudável do que em 2018. Sua resistência tem por esteio os consumidores, pelo menos nos EUA. Por lá, o nível de emprego é alto, os salários estão subindo, o crédito ainda é fácil e o petróleo barato significa mais dinheiro disponível para gastar.
Contradição. Além disso, há poucos sinais da exuberância estonteante que normalmente precede um colapso. As diretorias de empresas públicas e os acionistas a que elas servem estão cautelosos. Vemos isto nas fortunas amplamente contrastantes dos mercados acionários arrojados, dominados pelas empresas de internet, que levantam capital facilmente, e as empresas de serviço que esbanjam lucros, e os da Europa, com risco de colapso de bancos e montadoras com fábricas que consomem capital. E nas bolsas europeias uma ação defensiva como a da Nestlé, é negociada com ágio superior ao de uma ação industrial como é o caso da Daimler.
Se não houve um boom e a economia mundial ainda não quebrou, por que os mercados estão tão nervosos? A melhor resposta é que empresas e mercados estão com dificuldades para lidar com a incerteza. Este, e não as tarifas, é o grande dano provocado pela guerra comercial entre Estados Unidos e China. Os limites da disputa extrapolaram as importações de alguns metais industriais para categorias mais amplas de produtos acabados. Novas frentes – incluindo as cadeias de fornecimento de tecnologia e, neste mês, moedas – foram abertas.
Enquanto Japão e Coreia do Sul deixam que suas diferenças históricas se estendam para o comércio, não se sabe claramente quem ou o que estará implicado em seguida. Como grandes investimentos são difíceis de ser revertidos,
as empresas não investem. Uma medida indireta do JP Morgan sugere que o gasto de capital global vem caindo. Evidências de que o investimento vem sendo cortado se refletem em pesquisas mostrando que o sentimento empresarial nas despencando, na produção industrial estagnada em todo o mundo e no desempenho cambaleante de economias industrializadas, especialmente a Alemanha.
Os bancos centrais também estão nervosos – e, por isso, afrouxam suas políticas. Em julho, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, cortou os juros pela primeira vez em uma década para se proteger de uma eventual desaceleração. E provavelmente decidirá novos cortes. Bancos centrais de Brasil, Índia, Nova Zelândia, Peru, Filipinas e Tailândia também reduziram sua taxa básica de juros desde que o Fed agiu. O Banco Central Europeu provavelmente retomará seu programa de compra de títulos.
Apesar desses esforços, o nervosismo
poderá se tornar alarmante e o crescimento moroso se transformar em recessão.
Três sinais de alerta devem ser observados. Primeiro, o dólar, que é o barômetro do apetite pelo risco. Quanto mais investidores buscarem segurança no dólar, mais eles veem perigo à frente. Em segundo lugar, as negociações comerciais entre EUA e China. Esta semana, o presidente Trump inesperadamente postergou a imposição de tarifas que havia anunciado em 1.º de agosto sobre itens importantes, aumentando as esperanças de um acordo. Isso deveria ser do interesse dele, porque uma economia forte é crucial para suas expectativas de reeleição. Mas ele pode estar julgando erroneamente as probabilidades de uma desaceleração e também achar que a China recuará, na esperança de anular suas chances de um segundo mandato e realizar um acordo melhor com seu sucessor democratas.
A terceira coisa a observar são os rendimentos de títulos corporativos nos Estados Unidos. Os custos de financiamento permanecem baixos. Mas o spread, ou rendimento extra que os investidores exigem para sustentar uma dívida corporativa mais arriscada, começa a se ampliar. O que pode levar as
empresas a reduzirem suas folhas de pagamento e também os investimentos para evitar o pagamento de juros. As possibilidades de uma recessão, então, se reduziriam.
Quando as pessoas olharem para trás, verão muitas inconsistências na configuração dos preços de ativos nos dias de hoje. O nervosismo extremo nos mercados de títulos parecerá uma espécie de insensatez: como os mercados poderiam conciliar a ascensão do populismo com um temor de deflação, por exemplo.
É uma ideia estranha que uma repentina diminuição do nervosismo hoje possa levar a mudanças violentas nos preços – uma disparada nos rendimentos dos títulos ou uma colisão lateral em que ações defensivas perdem valor e derrotam os ralis cíclicos. Finalmente pode haver também uma exuberância excessiva. Mas, neste momento, quem se preocupa com isso?
Investidor teme que mundo se transforme num Japão, com uma economia inerte que luta para vencer a deflação