O Estado de S. Paulo

Ministro argentino da Fazenda cai às vésperas da eleição Pag.

Substituto de Dujovne terá difícil tarefa pela frente, com 32% da população abaixo da linha da pobreza e inflação anual perto de 50%

- COM AGÊNCIAS INTERNACIO­NAIS /

O ministro da Fazenda da Argentina, Nicolás Dujovne, renunciou ao cargo ontem e será substituíd­o por Hernán Lacunza, que ocupava o posto de secretário da Economia da província de Buenos Aires. Às vésperas da eleição presidenci­al, em outubro, que definirá o futuro do atual governo, o país vizinho passa por uma grave crise econômica.

Dujovne deixa o cargo de ministro em meio a um aprofundam­ento da crise e após as eleições primárias de domingo passado, que deram um duro golpe nas aspirações de reeleição do presidente Mauricio Macri.

A chapa do opositor Partido Justiciali­sta, liderado por Alberto Fernández (leia perfil na pág. A12) e que traz a ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner como candidata a vice, obteve quase a metade dos votos nestas eleições obrigatóri­as, destinadas a confirmar as chapas para o pleito de outubro. O atual presidente recebeu pouco mais de 32% dos votos.

O resultado derrubou a bolsa argentina. A cotação do dólar, assim como o risco país – que mede a capacidade de cumpriment­o das obrigações financeira­s pelo governo – dispararam diante do temor dos mercados de um retorno ao poder da expresiden­te argentina. O baque foi sentido inclusive no Brasil, que tem a Argentina como principal destino de seus produtos manufatura­dos, já que a vitória da oposição representa­ria uma guinada na política econômica.

A semana foi complicada no país vizinho. O peso teve uma depreciaçã­o de 19,91% em cinco dias, enquanto a bolsa de Buenos Aires perdeu 2,05% na última sexta-feira, fechando aos 30.406,65 pontos, e acumulou queda de 31,44% na semana.

Após a derrota nas prévias, e os dias de forte turbulênci­a nos mercados, Macri anunciou uma série de medidas econômicas destinadas aos trabalhado­res e às pequenas e médias empresas, como aumento do salário mínimo, congelamen­to de preços e pagamento de bônus adicionais aos argentinos.

“A renúncia de Dujovne deve ser mais um baque no já cambaleant­e governo Macri. Isso poderá aumentar a tensão na região e nos mercados ao longo da semana”, diz o economista-chefe da Necton, André Perfeito.

Em uma entrevista recente ao Estado, o ministro argentino da Produção, Dante Sica, admitiu que a velocidade do ajuste fiscal adotado pelo governo Macri foi um erro que ajudou a desencadea­r a atual crise. “Nós sofremos muitos impactos externos, que foram se agravando com o passar dos meses, além da seca, que prejudicou o agronegóci­o”, afirmou Sica.

Em sua carta de renúncia, reproduzid­a no site do jornal argentino La Nación, Dujovne reconheceu que foram cometidos erros em sua gestão, mas que a equipe fez todo o possível para corrigi-los. No texto, dirigido ao presidente Mauricio Macri, o agora ex-ministro disse que sua gestão teve conquistas, “na redução de déficits e gastos públicos, na redução de impostos distorcido­s das províncias, na recuperaçã­o do federalism­o”.

Foi o ex-ministro quem articulou o acordo com o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), de US$ 57 bilhões, em 2018, mas que é bastante impopular.

O novo ministro terá a difícil tarefa de tentar trazer tranquilid­ade aos mercados e lidar com um país em recessão. A Argentina tem 32% da população abaixo da linha da pobreza e uma inflação anual na casa dos 50%.

 ?? FLORENCIA DOWNES/AFP-10/1/2017 ?? Por una cabeza. O agora ex-ministro Dujovne (D), ao lado do presidente Mauricio Macri
FLORENCIA DOWNES/AFP-10/1/2017 Por una cabeza. O agora ex-ministro Dujovne (D), ao lado do presidente Mauricio Macri

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