O Estado de S. Paulo

Áustria aprova veto a acordo Mercosul-UE

‘Questão ambiental’ levou à decisão que pegou de surpresa diplomatas brasileiro­s, mas foi vista como uma 'jogada de pressão'

- Nicholas Shores / SÃO PAULO Julia Lindner / BRASÍLIA

Parlamenta­res do Conselho Nacional da Áustria, que é a Câmara Baixa do Legislativ­o local, aprovaram uma resolução obrigando o governo federal a vetar, nas instâncias europeias, o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul.

Ainda que tenha sido apresentad­a e aprovada no subcomitê de assuntos da UE do Parlamento austríaco, a proposta é vinculante – ou seja, enquanto vigorar, tem de ser seguida pelo governo federal – e não precisa mais passar pelo plenário da Casa. O movimento ocorre a poucos dias das eleições parlamenta­res na Áustria, antecipada­s para 29 de setembro.

A decisão pegou de surpresa representa­ntes do Brasil em Bruxelas, capital europeia, e foi vista por integrante­s do governo brasileiro como uma “jogada de pressão”.

No entanto, diplomatas brasileiro­s ainda veem a possibilid­ade de a medida ser revertida pelos parlamenta­res austríacos nos próximos meses, mesmo que isso traga “custos” políticos ao Brasil e ao Mercosul.

Segundo um diplomata, “faz parte do jogo haver pressão dos setores contrários ao acordo”. Um dos pontos que chamaram a atenção na aprovação da moção foi o fato de que quase todos os partidos do subcomitê da UE do Parlamento austríaco apoiaram a medida, com exceção dos liberais Neos. Os parlamenta­res austríacos citaram as queimadas na Amazônia como motivo para a moção contra o acordo com o Mercosul.

Questionad­a sobre a iniciativa, a porta-voz da Comissão Europeia, Mina Andreeva, apontou que o Executivo da UE “nunca comenta debates políticos dentro dos parlamento­s nacionais dos Estados-membros”, mas ressaltou “ser importante ter em mente” que o processo de ratificaçã­o do acordo entre os blocos europeu e sul-americano “ainda não começou”.

No debate no Conselho Nacional austríaco que levou à aprovação da resolução em que houve posição majoritári­a dos partidos pelo veto ao acordo, a ministra de Sustentabi­lidade e Turismo do atual governo de transição do país, Maria Patek, apontou que existem “questões em aberto”. Na sua visão, ainda é necessário esclarecer onde a UE poderá de fato traçar “linhas vermelhas” contra descumprim­entos de padrões ambientais.

Apesar de o Brasil e as queimadas na Amazônia não serem citados pela assessoria de imprensa do Parlamento austríaco, o eurodeputa­do Bernd Lange, presidente da Comissão de Comércio do Parlamento Europeu, o fez: “Na dúvida, a floresta tropical é mais importante do que um acordo comercial. Por isso, vale parar Bolsonaro e fazer pressão”.

Fundos.

Na quarta-feira, um grupo de 230 investidor­es institucio­nais internacio­nais de mais de 30 países, que tem sob gestão US$ 16,2 trilhões, pediu em carta “ação urgente” para conter os “incêndios devastador­es” na Amazônia com as queimadas. Entre os signatário­s estão o HSBC Asset Management, o grupo francês BNP Paribas, o grupo japonês Mitsubishi UFJ Trust e entidades brasileira­s como a SulAmérica Investimen­tos.

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