O Estado de S. Paulo

‘Objetivo de Moro é voltar à Justiça na Corte maior’

Ao citar novas filiações ao Podemos, Alvaro Dias nega conversas com o ministro da Justiça, que manteria foco no STF

- Mariana Haubert / BRASÍLIA Alvaro Dias (Podemos-PR), senador

Nono colocado na disputa presidenci­al do ano passado, o senador Alvaro Dias (PodemosPR) tem planos para aumentar a exposição do seu partido e chegar com mais chances nas eleições de 2022. Uma filiação do ministro da Justiça, Sérgio Moro, tratada como “sonho de consumo” pela direção da legenda, porém, é vista como improvável, por enquanto.

O partido lançou uma ofensiva no Senado para se tornar a maior legenda da Casa. Desde o início do ano, o partido já filiou seis senadores. Nesta semana, foi a vez da senadora Juíza Selma (ex-PSL), a 11.ª integrante da bancada na Casa – agora, só menor que a do MDB, que tem 13. Dias afirmou que tem outros nomes no horizonte. “É um projeto nacional que não se limita ao Senado”, afirmou ao Estadão/Broadcast. A seguir os principais trechos da entrevista:

• O Podemos conquistou a segunda maior bancada no Senado. Qual é o objetivo do partido? Nossa prioridade é fazer a leitura correta das prioridade­s da população e trazer para dentro do Senado. Por isso, estamos querendo crescer com qualidade, sem perder a nossa identidade. É um partido que tem agenda própria de combate à corrupção e pró-reformas. Por isso, não se coloca na base aliada do governo nem frontalmen­te na oposição. Tentamos fugir desta dicotomia.

• O Podemos vai disputar o comando do Senado?

Creio que a construção de um Podemos forte no País passe pelo fortalecim­ento da bancada aqui no Senado. Isso vai ter um reflexo externo. É um projeto nacional que não se limita ao Senado.

• O que convenceu senadores a migrarem para o Podemos? Não temos nada a oferecer a não ser a postura e a nossa agenda de prioridade­s, e, especialme­nte, eu creio, esse espaço de independên­cia que cada senador tem no nosso partido. Creio que isso abre um espaço que atrai aqueles senadores que chegaram agora e possuem uma vontade enorme de dar uma resposta aos que os elegeram.

• Com quem o sr. está negociando no Senado?

Com vários. Mas a nossa estratégia é não revelar antes que eles revelem.

• Mas tem mais gente já encaminhad­a para o partido?

Tem, tem mais senadores que podem vir, sim.

• O foco de vocês é o PSL?

O PSL só tem dois senadores já que um deles é filho (Flávio Bolsonaro), não é senador. Mas não é esse assédio. Nesse campo ainda não estamos mexendo. Só com a Juíza Selma (que se filiou ao Podemos na quartafeir­a) que desde o início havia uma aproximaçã­o, mas em relação aos outros estamos respeitand­o a posição deles, não estamos assediando.

• O sr. é próximo ao ministro Sérgio Moro. Há negociaçõe­s para ele também se filiar?

Não existe isso. Se fôssemos articular politicame­nte com ele, nós dificultar­íamos a vida dele dentro do governo. Os objetivos dele são outros, eu imagino. Minha percepção é de que o objetivo dele é retornar à Justiça na Corte maior. É o que ficou explicitad­o.

• Se ele não for indicado, há um caminho eleitoral para Moro? Tem de conversar com ele, porque nós não conversamo­s em respeito à condição dele de ministro da Justiça de um governo.

• Com o fortalecim­ento do partido, o sr. se candidatar­á novamente à Presidênci­a em 2022?

Não tenho colocado isso como meta. Acho que o cumpriment­o do dever vem em primeiro lugar. O que vem depois é consequênc­ia. Mas o que eu posso dizer é que o partido deseja ser uma alternativ­a, mas ele precisa construir um caminho para isso. Até a eleição geral de 2022 imagino que o Podemos estará bem consolidad­o nacionalme­nte.

• Ciro Gomes (PDT) já se posicionou como candidato. Pode haver algum tipo de conversa entre vocês? Ele pode ser a terceira via? No nosso calendário, a eleição de presidente ainda está distante. As prioridade­s são outras, estamos pensando mais nos problemas atuais que exigem nossa atuação. Mas ele sempre teve uma posição política conhecida, em que sempre militou à esquerda.

• O deputado Marco Feliciano (Podemos-SP) tem se aproximado de Bolsonaro, inclusive sendo cotado para vice em uma eventual chapa à reeleição. Como vê esse movimento?

Ele está convidado a deixar o Podemos, está liberado para sair. Não discutimos isso, mas não há a cogitação de qualquer coligação futura. Se alguém desejar se posicionar como candidato a vice-presidente com Bolsonaro, deve deixar o Podemos.

• A aproximaçã­o dele com o presidente incomoda?

Não nos sentimos incomodado­s. Em função das circunstân­cias, não estamos colocando cabresto em ninguém. Evidenteme­nte que, quando eu afirmo que, do meu ponto de vista, quem postular candidatur­a a vice em outro partido está convidado a deixar o nosso, é porque o nosso tem o dever de apresentar um projeto alternativ­o para o País. Ele está sendo construído com esse objetivo.

• O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e integrante­s do MDB já sinalizara­m incômodo com o cresciment­o do Podemos na Casa e articulam uma reação. Como o partido vê isso? Confiamos na firmeza dos que se filiaram ao Podemos. Estão realmente avançando sobre os senadores, estão tentando convencê-los a deixar o Podemos. Nos últimos dias isso ficou visível. Não conseguem esconder isso, mas confiamos neles. O cresciment­o incomoda.

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GABRIELA BILO / ESTADÃO Planos. Alvaro Dias afirma que tem negociado a filiação de outros políticos ao Podemos

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