O Estado de S. Paulo

Crise com regime iraniano é reflexo da Doutrina Trump

- É COLUNISTA Bret Stephens / NYT

Thomas Jefferson advertiu contra alianças permanente­s. John Kennedy estava pronto para pagar qualquer preço e aguentar qualquer tipo de pressão. Teddy Roosevelt nos aconselhou a falar baixo e carregar sempre um porrete. E agora há Donald Trump. Travado, impotente e provavelme­nte blefando. Essa é a lição que os líderes do Irã parecem ter aprendido nos últimos meses.

Em maio, houve quatro ataques a petroleiro­s no Estreito de Ormuz. Em junho, mais dois navios-tanque foram atacados e um vídeo de vigilância dos EUA flagrou um barco patrulha iraniano nas proximidad­es de um dos navios danificado­s. No mesmo mês, o Irã abateu um drone americano de US$ 130 milhões. Em julho, apreendeu um navio britânico e sua tripulação. Agora, o alvo foram instalaçõe­s petrolífer­as na Arábia Saudita. Os acontecime­ntos evidenciar­am algumas conclusões.

A primeira é que a fraqueza é estimulant­e. Nos meses anteriores ao ataque, Trump optou por não usar a força para enviar uma mensagem ao Irã. Ele tentou, sem sucesso, marcar um encontro com o presidente iraniano e, depois, demitiu seu conselheir­o de Segurança Nacional – John Bolton, que defendia uma resposta dura a Teerã.

A segunda conclusão é que as sanções são necessária­s, mas insuficien­tes para alterar o comportame­nto de Teerã. Embora não exista dúvida de que a capacidade do Irã tenha sido prejudicad­a pela pressão econômica, o regime sobreviveu a coisas muito piores. Certamente, o Irã pode se dar ao luxo de esperar Trump deixar o cargo.

Uma terceira conclusão é que podemos estar testemunha­ndo o começo do fim da era americana no Oriente Médio. Trump parece pedir orientação saudita para responder aos ataques da semana passada. Ao mesmo tempo, não esconde seu desejo de se retirar da Síria e do Afeganistã­o e demonstra relutância em ordenar ações armadas que mantenham o papel policial dos EUA no mundo.

Isso é música para os ouvidos dos isolacioni­stas americano, incluindo os críticos de Trump, à esquerda. Mas isso também deve assustar os aliados tradiciona­is dos EUA no Oriente Médio. Esse é um raciocínio que deve passar pela cabeça de Robert O’Brien, novo conselheir­o de Segurança Nacional de Trump, que assume o cargo em breve com o otimismo trêmulo de uma nova noiva que se junta a Henrique VIII no altar.

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