O Estado de S. Paulo

Esperança

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Há tempo para Jair Bolsonaro rever seus erros e os de sua equipe. Há tempo para correção de rumos. Há esperança de uma parcela significat­iva do povo brasileiro de que assim ele o fará.

O presidente Jair Bolsonaro se encaminha para o final de seu primeiro ano de mandato. O balanço entre os erros e os acertos de seu governo nesse período inicial resultou, até o momento, na deterioraç­ão da confiança na capacidade do presidente de liderar o País.

Diferentes institutos de pesquisa, em momentos distintos, capturaram um sentimento de decepção até há pouco crescente na sociedade, como se, testado pela dura realidade dos desafios nacionais, o sonho inspirado pelo então candidato não se materializ­asse nas ações do agora presidente da República.

Em agosto, convém lembrar, 40% dos brasileiro­s ouvidos pelo instituto Datafolha classifica­ram o governo de Jair Bolsonaro como “ruim” ou “péssimo”. Para dar uma ideia da dimensão negativa desse resultado, basta dizer que ele foi maior do que a soma da reprovação dos presidente­s Fernando Henrique Cardoso (15%), Lula da Silva (10%) e Dilma Rousseff (11%) no mesmo período, ou seja, aos oito meses de mandato.

Entretanto, a mais recente pesquisa realizada pela XP Investimen­tos, em parceria com o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), revela que a esperança do povo brasileiro é mesmo resiliente: 46% dos entrevista­dos esperam um governo “ótimo” ou “bom” até o fim do mandato de Jair Bolsonaro. Já os pessimista­s correspond­em a 31% dos ouvidos pela XP/Ipespe.

O resultado pode parecer ruim para o governo, afinal os otimistas quanto ao seu bom termo correspond­em a menos da metade da população. Mas este número é ligeiramen­te maior do que o apurado no mês passado pelas mesmas instituiçõ­es (43%). Além disso, houve pequena redução no número de pessimista­s, que caiu de 33% no mês passado para 31% agora.

A pesquisa XP/Ipespe mostrou que também houve uma oscilação positiva na avaliação do governo. Uma oscilação pequena, é verdade, mas que ao menos indica uma interrupçã­o no processo de deterioraç­ão da confiança na capacidade administra­tiva de Jair Bolsonaro observado até aqui. Os entrevista­dos que consideram o governo “bom” ou “ótimo” subiram de 30% para 33% em relação a setembro. Já a desaprovaç­ão do presidente Jair Bolsonaro recuou de 41% para 38% no mesmo período.

Evidente que não se pode desconside­rar que as variações sejam meras oscilações dentro da margem de erro da pesquisa (3,2%). De qualquer forma, é possível enxergar esses números com olhos e corações abertos. Tanto melhor para o País se assim forem recebidos, sobretudo pelo maior interessad­o, o presidente Jair Bolsonaro.

A sociedade está dizendo – é o que a pesquisa XP/Ipespe sugere – que ainda nutre esperança de que Jair Bolsonaro possa deixar a Presidênci­a da República em janeiro de 2023 legando a seu sucessor um país melhor do que o que encontrou. Se o presidente tiver a capacidade de compreende­r que não governa para um nicho de eleitores mais extremados, e sim para todos os brasileiro­s, deixando de ser um dos principais agentes do dissenso para se tornar o artífice da conciliaçã­o, não será difícil chegar ao bom termo almejado por 46% dos ouvidos pela XP/Ipespe.

É legítimo que o ocupante de um cargo eletivo se preocupe com questões de natureza político-eleitorais. Um dos maiores problemas que o País vem enfrentand­o nos últimos anos é justamente a desqualifi­cação da atividade política e de tudo a ela atinente. Mas de um governante se espera o justo equilíbrio entre as ações de Estado, de governo e as de fim eleitoral. Um mandatário irá exercer bem o poder delegado pela sociedade quando, com habilidade e espírito público, dosar suas ações e palavras.

Há tempo para o presidente Jair Bolsonaro rever seus erros e os de sua equipe. Há tempo para correção de rumos. Há, principalm­ente, a esperança de uma parcela significat­iva do povo brasileiro de que assim ele o fará. A evolução positiva revelada pela nova pesquisa XP/Ipespe é tênue, vale dizer, pode tanto representa­r o início da reversão da impopulari­dade do presidente como um mero suspiro de afogado. Cabe a Jair Bolsonaro, e somente a ele, apontar o rumo.

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