O Estado de S. Paulo

Toffoli pode ser ‘voto de minerva’ sobre 2ª instância

Julgamento no Supremo Tribunal Federal de ações que contestam prisões antes do trânsito em julgado está marcado para amanhã

- Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, pode dar o ‘voto de minerva’ sobre prisão após condenação em segunda instância, avaliam integrante­s da Corte ouvidos reservadam­ente pelo Estadão/Broadcast. Pressionad­o por colegas, Toffoli marcou para amanhã o início do julgamento definitivo sobre o mérito de três ações que contestam a execução antecipada de pena, medida considerad­a um dos pilares da Operação Lava Jato. A decisão vai nortear o entendimen­to sobre o assunto em todo o País. A tendência, apurou o Estadão/Broadcast, é a de que a Corte reveja o atual entendimen­to, o que pode abrir margem para beneficiar cerca de 190 mil pessoas que estão em execução provisória de pena após condenação em segundo grau – entre eles o expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso desde abril do ano passado após ser condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) no caso do triplex do Guarujá.

O tema deve dividir mais uma vez o plenário do Supremo, opondo, de um lado, o grupo que defende resposta rápida da Justiça no combate à corrupção e, do outro, os que defendem o princípio constituci­onal da presunção de inocência e os direitos fundamenta­is dos presos.

O ministro Gilmar Mendes, que já defendeu uma “solução intermediá­ria” – a tese de se aguardar o Superior Tribunal de Justiça (STJ), uma espécie de terceira instância, para a execução da pena –, já sinalizou que deve mudar de entendimen­to e votar pela prisão depois do “trânsito em julgado” – quando são esgotados todos os recursos.

Dessa forma, Gilmar se alinharia aos ministros Ricardo Lewandowsk­i, Marco Aurélio Mello (relator das três ações que serão analisadas pelo plenário) e o decano do STF, ministro Celso de Mello, pela execução da pena após o trânsito em julgado. A expectativ­a de ministros é a de que Rosa Weber também integre essa corrente contra a execução antecipada de pena, totalizand­o cinco votos com este entendimen­to.

De outro lado, ficariam os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luiz Fux, Luís Roberto Barroso e Cármen Lúcia, que defendem a possibilid­ade de prisão após condenação em segunda instância.

Se confirmado o cenário com cinco votos de cada lado, caberia ao presidente do Supremo desempatar o placar e definir o resultado final. Toffoli já defendeu a tese de se aguardar uma posição do STJ e, segundo o Estadão/Broadcast apurou, pode manter esse posicionam­ento, que serviria como um meio-termo entre as duas correntes. Toffoli já sinalizou que, na condição de presidente do Supremo, precisa ter um olhar institucio­nal para as questões julgadas, acima de vontades pessoais.

O Estado informou ontem que, nos bastidores, ganha corpo a impressão de que o Supremo vai optar por uma saída intermediá­ria – segundo a qual caberia ao STJ definir a execução da pena, mas permitindo a prisão em segunda instância em caráter excepciona­l e não mais como regra. Por este entendimen­to, na análise de cada caso, juízes de instâncias inferiores poderiam decidir manter presos réus envolvidos, por exemplo, em crimes violentos, com risco de fuga ou que represente­m uma ameaça para a sociedade.

Responsáve­l por definir a pauta das sessões plenárias, Toffoli havia marcado inicialmen­te o julgamento para abril deste ano, mas retirou o tema da pauta sob a alegação oficial de que a nova diretoria do Conselho da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – autor de uma das ações sobre a execução antecipada de pena – precisava se “inteirar” do processo.

‘Desserviço’.

Questionad­o ontem sobre o assunto, Alexandre de Moraes rechaçou a hipótese de que uma eventual alteração do entendimen­to da Corte serviria como um salvo-conduto para criminosos violentos. “O homicida vai ser solto? O homicida fica preso desde o flagrante. Depois vem a sentença de primeiro grau, ele continua preso”, disse. “O estuprador fica preso desde o flagrante. É um desserviço que estão fazendo atrapalhan­do a discussão”, completou o ministro.

“O homicida fica preso desde o flagrante. Depois vem a sentença de 1.º grau, ele continua preso. É um desserviço atrapalhan­do a discussão.”

Alexandre de Moraes

MINISTRO DO SUPREMO

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO–26/9/2019 Ministro. Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal

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