O Estado de S. Paulo

Quadrilha invade aeroporto para roubar carro-forte; 3 são mortos na fuga

Grupo usou veículo com caracterís­ticas da Aeronáutic­a para acessar terminal e, com metralhado­ra, obrigou carro-forte a parar; na fuga, bandidos invadiram uma casa e dominaram mulher e bebê. Governador cumpriment­ou agentes: ‘A polícia cumpriu seu papel’

- José Maria Tomazela Cláudio Liza Júnior ESPECIAL PARA O ESTADO

Numa ação com caminhão queimado e uso de arma antiaérea, uma quadrilha tentou roubar um carro-forte dentro do aeroporto de Viracopos. Três bandidos morreram na fuga, um deles baleado por um sniper, após tomar mãe e filho como reféns. O governador João Doria elogiou a intervençã­o policial.

Criminosos armados invadiram o terminal de cargas do Aeroporto Internacio­nal de Viracopos, em Campinas (SP), trocaram tiros com seguranças e assaltaram a transporta­dora de valores Brinks, ontem. Houve confronto, pânico na rua e fuga com reféns durante a ação, que terminou com três assaltante­s mortos. Dois seguranças da empresa também foram baleados. Sem dar valores, a Brinks informou que a maior parte do dinheiro foi recuperada pela polícia. O aeroporto ficou fechado por 20 minutos para pousos e decolagens.

Um dos criminosos foi morto por um sniper, após invadir casas e fazer reféns no bairro Campina Verde, na periferia da cidade. Dos três reféns, entre eles uma criança, só uma se feriu levemente. Um major da Polícia Militar foi atingido, mas sem gravidade. À noite, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), foi ao batalhão local e cumpriment­ou os agentes pela ação. Segundo ele, bandido que reage com arma à polícia paulista vai “para o cemitério”.

O governador também cobrou mais segurança e ações preventiva­s nos aeroportos federais, lembrando o ataque anterior, em julho, em Guarulhos. “Não são razoáveis situações como esta, com grau de aparente facilidade para ingresso de bandidos em área restrita. A polícia estadual cumpriu seu papel.”

Sobre a crítica do governador, a Infraero informou que, embora não seja responsáve­l pela administra­ção desses aeroportos, concedidos à iniciativa privada, entende que as questões de segurança em aeroportos são de responsabi­lidade compartilh­ada entre os governos federal, estaduais e locais.

A ação. Inicialmen­te, por volta das 9h30, a quadrilha, com cerca de 20 criminosos, ateou fogo a três caminhões na Rodovia Santos Dumont (SP-79), principal acesso ao aeroporto, e fugiu. As duas pistas foram bloqueadas. O tráfego era intenso e houve pânico entre os usuários da rodovia.

De acordo com a administra­ção do terminal, os bandidos usaram um veículo com cores e caracterís­ticas da Aeronáutic­a. Mesmo assim, a caminhonet­e foi parada, mas acelerou e rompeu o portão de acesso. Mesmo com os pneus estourados pela grade de segurança, os criminosos seguiram para o terminal e atiraram contra os seguranças.

Imagens de câmeras de segurança mostram que o carro-forte, carregado com o dinheiro, já adentrava a pista para se dirigir ao avião que receberia o montante – a ser enviado para um banco na Inglaterra. Os criminosos usaram uma metralhado­ra ponto 50, arma antiaérea, para obrigar o carro-forte a parar. Eles também portavam fuzis.

Na sequência, os criminosos foram surpreendi­dos por guardas municipais, após roubarem um caminhão de lixo na fuga – onde foi achado um malote. Houve novo confronto, quando atiraram para afastar a GM, mas foram seguidos por policiais militares. Foi quando começou a perseguiçã­o pelas casas do bairro na região do aeroporto.

Um dos criminosos entrou em uma residência da Campina Verde, por volta do meio-dia, e passou a manter como refém uma mãe com seu bebê, de 10 meses. A casa foi cercada pela polícia e começou um processo de negociação, que se estendeu por duas horas.

Segundo o coronel Luiz Augusto Pacheco Ambar, do Grupo

de Ações Táticas Especiais (Gate), da PM, por volta das 14 horas o assaltante, identifica­do como Luciano Santiago, aumentou a agressivid­ade, com a arma voltada para a cabeça da mãe da criança. Um atirador (sniper) da polícia, postado do outro lado da rua, teria então atirado para preservar as vítimas. “Ele aumentou a agressivid­ade de forma descontrol­ada.”

A advogada de Santiago, Alessandra Girardi, disse estar revoltada com o desfecho, pois seu cliente disse ao telefone que estava disposto a se entregar. “Estava tudo certo. Não negamos o crime, ele roubou, sequestrou, mas seria preso. Agora, tirar a vida?”, indagou.

De acordo com o major André Luiz Pacheco Pereira, do Batalhão de Ações Especiais da PM (Baep), de Campinas, que iniciou as negociaçõe­s até a chegada do Gate, os outros dois assaltante­s morreram em troca de tiros ao invadir uma casa.

Medo. O dono de uma das casas invadidas, o metalúrgic­o Cleberson Constantin­o Gomes, foi surpreendi­do com uma ligação informando que seu irmão chegou a ser feito refém, no local onde os dois criminosos foram mortos. “Meu irmão, que é pedreiro, e quatro serralheir­os estavam trabalhand­o lá. Falaram que viram um carro da GM batendo na caçamba, mas eram ladrões e entraram seguidos da polícia”, disse.

Houve pânico até no aeroporto. De acordo com a concession­ária, durante o tiroteio, as pessoas que estavam no saguão de check-in, e se dirigiam para os aparelhos de raio X, acabaram invadindo a sala de embarque sem passar pela inspeção. Depois que os tiros cessaram, foi necessário evacuar a sala para uma nova passagem pelo raio X. “Havia várias pessoas nervosas por causa do tiroteio”, relatou o corredor paulistano Marcos Galdino. Por causa do ataque criminoso, a administra­ção informou que 14 voos atrasaram e um foi cancelado.

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WAGNER SOUZA / FUTURA PRESS
 ?? WAGNER SOUZA/FUTURA PRESS ?? Ação coordenada. Bandidos atearam fogo a três caminhões na Rodovia Santos Dumont, principal acesso ao terminal, que acabou fechado por 20 minutos
WAGNER SOUZA/FUTURA PRESS Ação coordenada. Bandidos atearam fogo a três caminhões na Rodovia Santos Dumont, principal acesso ao terminal, que acabou fechado por 20 minutos

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