BASTIDORES: Vera Rosa
A maior preocupação é com o efeito do arsenal de denúncias disparadas pelos dois grupos do partido do presidente. Para as duas alas, “vingança é um prato que se come frio”.
Alavação de roupa suja em que se transformou a crise no PSL está longe do fim e, ao que tudo indica, muita água enlameada ainda vai rolar debaixo da sigla. Depois de tanto tiroteio, com gravações de conversas para fazer inveja ao mais atento investigador, a maior preocupação dessa temporada é com o efeito do arsenal de denúncias disparadas pelos dois grupos do partido do presidente Jair Bolsonaro.
Tudo já seria estranho se Bolsonaro não tivesse deixado as digitais na fracassada articulação para derrubar o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO). O que se seguiu, porém, foi uma derrota atrás da outra para o Palácio do Planalto, que acabou fortalecendo o chefe do PSL, Luciano Bivar. De quebra, a candidatura do deputado Eduardo Bolsonaro para a embaixada do Brasil nos Estados Unidos ficou ainda mais desidratada.
Desde o último dia 15, quando a Polícia Federal vasculhou endereços ligados a Bivar, em Pernambuco, a briga no PSL virou um vale-tudo assustador. Na prática, Bolsonaro integra um partido suspeito de produzir candidaturas laranjas e de desviar dinheiro do fundo partidário e eleitoral. Noves fora é disso que se trata: um espólio em torno de R$ 1 bilhão até 2022.
Mas e o discurso da “nova política”? Depois de ter passado por oito partidos, Bolsonaro se filiou ao PSL, no ano passado, e fez campanha prometendo acabar com a corrupção. Até então nanico, o PSL virou uma superpotência e é hoje a legenda que mais recebe verba pública.
Tanto o grupo de Bivar como a ala bolsonarista querem controlar a sigla, mas ninguém abre mão do dinheiro. Em recente conversa telefônica, o vice-presidente do PSL, Antonio Rueda -- braço direito de Bivar -- chegou a fazer um apelo ao senador Flávio Bolsonaro. “Flávio, nossa separação tem de ser amigável. Não pode ser um divórcio litigioso”, disse Rueda ao primogênito do presidente.
Sob a alegação de que se sentia traído, Delegado Waldir afirmou, em reunião a portas fechadas, que iria “implodir o presidente”, a quem chamou de “vagabundo”. Em um cenário assim, que expõe a fragilidade do sistema partidário, nunca é demais lembrar a implosão do PRN do então presidente Fernando Collor, hoje senador. Os tempos são outros e, naquela época, não havia nem mesmo redes sociais. Mas o fato é que Collor e o PRN naufragaram juntos.
Nos bastidores, as duas alas que hoje disputam o comando do PSL afirmam que vingança é “um prato que se come frio”. Quem sobreviver, verá.