O Estado de S. Paulo

Vazamento de óleo começou a 600 km da costa

Pesquisa aponta que acidente ocorreu em junho na altura de Alagoas e Sergipe

- Giovana Girardi

Estimativa de pesquisado­res da Universida­de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) aponta que o óleo que atinge 178 pontos do litoral nordestino teve origem entre 600 e 700 quilômetro­s da costa, na altura de Sergipe e Alagoas.

O vazamento de óleo que atingiu o litoral do Nordeste pode ter ocorrido em uma região entre 600 km e 700 km da costa, na altura dos Estados de Sergipe e Alagoas. A estimativa foi feita por pesquisado­res do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da Universida­de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Os cientistas trabalhara­m com uma tecnologia conhecida como modelagem inversa, que parte dos pontos de chegada das manchas nas praias e faz o caminho para trás, estimando o ponto de origem desse óleo. O estudo foi encomendad­o pela Marinha à Coppe/UFRJ. Até quarta-feira, 178 localidade­s haviam sido atingidas pelas manchas, segundo o Ibama.

O cálculo usou como ponto de partida o mapa atualizado pelo órgão ambiental que mostra os dias e locais em que as manchas estão chegando às praias. Consideran­do condições oceânicas, como correntes marinhas, temperatur­a da superfície da água e ventos, os pesquisado­res desenharam o caminho para trás. Ao cruzar essas trajetória­s, eles chegaram a uma região onde provavelme­nte o vazamento ocorreu. A análise permite estimar também o dia em que houve o acidente: por volta de 14 de junho.

O engenheiro Luiz Landau, que coordena o Laboratóri­o de Métodos Computacio­nais em Engenharia da Coppe, explica que se trata de uma estimativa, mas busca reproduzir do modo mais fiel possível o evento. “Não sabemos, por exemplo, exatamente a que horas as manchas chegaram à costa, mas, mesmo dentro dessas limitações, testamos vários cenários e chegamos a uma região provável da origem desse óleo.”

O trabalho não indica exatamente um ponto do vazamento, mas uma região provável – um retângulo cujo lado maior tem cerca de 100 km. “Com mais investigaç­ão, podemos chegar a um raio menor, mas, para dar uma resposta rápida nesse momento de crise, é o que conseguimo­s mostrar”, disse o oceanógraf­o Luiz Paulo Assad, colaborado­r do laboratóri­o

Barris • Os pesquisado­res da UFRJ disseram não ver relação das manchas de óleo no litoral do Nordeste com os barris da Shell encontrado­s em praias do Sergipe e de Natal.

e professor do Departamen­to de Meteorolog­ia da UFRJ.

Segundo ele, a análise corrobora informaçõe­s do governo de que não foi possível ver a mancha antes de as praias começarem a ser contaminad­as. Logo após o vazamento, o óleo, ainda bastante fluido, fica na superfície, o que até permitiria sua visualizaç­ão por satélites. Mas, segundo Assad, há poucos satélites voltados para o alto-mar.

“Depois de um tempo, o óleo sofre com intemperis­mo e afunda, movendo-se na subsuperfí­cie, o que o deixa invisível para sensores remotos de satélites. Por um momento, que não sabemos quanto, ele de fato ficou visível, mas em região em que não há monitorame­nto frequente por satélite. Teria de dar sorte de bem na hora estar passando um por lá, mas é quase como achar agulha no palheiro.”

Ele apontou ainda para a necessidad­e de monitorame­nto permanente do mar. “Se tivéssemos um sistema de monitorame­nto de óleo no mar, que evidenteme­nte contaria com a ajuda de instituiçõ­es de pesquisa e outros segmentos da sociedade civil, a gente poderia ter rotinas de monitorame­nto que poderiam envolver a aquisição de imagens de regiões em altomar propícias a passagens de embarcaçõe­s que transporta­m óleo.” Segundo Assad, o País tem expertise para ter um monitorame­nto do mar proativo e não reativo, como ocorre agora.

Causa. Pesquisado­res acreditam que o mais provável é que tenha ocorrido um grande vazamento neste local, talvez durante operação malsucedid­a conhecida como ship-to-ship, em que o óleo é transferid­o de uma embarcação a outra em alto-mar.

O próximo passo, agora, é tentar fazer o caminho oposto e estimar para onde a mancha pode se encaminhar.

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