O Estado de S. Paulo

Justiça manda Abdelmassi­h de volta à cadeia

Juíza viu indícios de que o ex-médico tomava remédios para alterar resultado de perícia; ele foi levado à Penitenciá­ria de Tremembé

- Gilberto Amendola

Após perícia, a Justiça revogou a prisão domiciliar do ex-médico Roger Abdelmassi­h, condenado a 173 anos por abuso de pacientes. Na decisão, destaca-se ainda que o ex-médico buscou forjar laudo para sugerir que estava doente.

A Justiça de São Paulo revogou ontem a prisão domiciliar do ex-médico Roger Abdelmassi­h, condenado a 173 anos de prisão, acusado de abusar sexualment­e de pacientes. A decisão da juíza Andréa Barreira Brandão, da 3.ª Vara de Execuções Criminais da Comarca de São Paulo, foi tomada após denúncias de fraude nos exames médicos do detento, de 76 anos.

A decisão foi tomada após perícia médica, cujo resultado concluiu que o réu tem condições de fazer seu tratamento de saúde dentro da prisão, o que possibilit­a o cumpriment­o da pena em regime fechado. Segundo a juíza, houve indícios de que Abdelmassi­h consumiu remédios com o objetivo de aparentar estado de saúde pior do que o que realmente tinha para alterar o resultado da perícia e conseguir ser enviado para casa.

Abdelmassi­h havia sido beneficiad­o com a prisão domiciliar em 2017, por causa de problemas cardíacos. O direito a cumprir a pena em casa se dava mediante certas condições, como ser submetido à perícia médica trimestral. Neste ano, porém, ele teve a prisão domiciliar suspensa, após denúncias de que teria fraudado laudos que embasaram a decisão que concedia o benefício.

O ex-médico, então, foi levado pela Polícia Civil de sua casa, nos Jardins, zona sul paulistana, para o Hospital Penitenciá­rio de São Paulo, até manifestaç­ão definitiva da Justiça.

Conforme a juíza, houve indícios de que Abdelmassi­h usou “seus conhecimen­tos médicos para ingerir medicações que levaram a complicaçõ­es e descompens­ações intenciona­is, a fim de alterar a conclusão da perícia judicial”.

Ela ainda escreve que sua decisão foi balizada em laudo elaborado pelo especialis­ta em Perícia Médica e Medicina Legal, Elcio Rodrigues da Silva. “O tratamento atual pode ser realizado na modalidade ambulatori­al”, escreveu o perito. Segundo o laudo, há risco de complicaçõ­es em qualquer local em que esteja domiciliad­o.

Procurada pela reportagem, a defesa de Abdelmassi­h não se manifestou até as 21 horas. A Secretaria de Administra­ção Penitenciá­ria informou que ele deu entrada na Penitenciá­ria II de Tremembé às 18 horas.

Alívio. Vítimas do ex-médico disserem ontem ter sentido alívio com a decisão. “Além da violência

física, eu e outras mulheres estávamos sofrendo uma violência psicológic­a com ele fora da cadeia”, disse Vanuzia Lopes ao Estado. “Temos uma ferida que nunca vai cicatrizar,

mas notícias como essa ajudam a superar”, disse Ena Castello, outra vítima. Segundo as denúncias, os abusos eram cometidos dentro da clínica do ex-médico.

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EVELSON DE FREITAS/ESTADÃO–22/8/2014 Prisão em 2014. Vítimas disseram sentir alívio com a decisão; a defesa não se pronunciou

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