O Estado de S. Paulo

Premiê faz pacto pelo Brexit com UE e busca apoio

Johnson manifestou otimismo de que acordo será aprovado, apesar da oposição de trabalhist­as e unionistas norte-irlandeses

- BRUXELAS AFP e NYT

O primeiro-ministro Boris Johnson manifestou confiança de que o acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia será aprovado pelo Parlamento. Propostas semelhante­s já foram rejeitadas pelos deputados.

O Reino Unido e a União Europeia chegaram ontem a um novo acordo sobre o Brexit. Agora, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, corre contra o tempo para articular apoio para a aprovação do texto no Parlamento – propostas semelhante­s já foram rejeitadas pelos deputados

três vezes durante o governo de Theresa May.

O novo acordo anunciado ontem por Johnson é muito parecido com os anteriores. A única diferença é a questão irlandesa. A ilha é dividida entre Irlanda do Norte, território britânico, e a República da Irlanda, membro da UE, e só foi pacificada em 1998, com o Acordo de SextaFeira Santa, pelo qual os britânicos abriam mão de controles físicos na fronteira.

Como o Brexit significa a saída do Reino Unido do mercado comum europeu, o restabelec­imento de um controle alfandegár­io seria inevitável e representa­va um impasse. May criou um mecanismo chamado de “backstop”, pelo qual mantinha a Irlanda do Norte no mercado europeu caso Reino Unido e UE não concluísse­m um acordo de livre-comércio.

No entanto, o Partido Unionista Democrátic­o (DUP), da Irlanda do Norte, e a ala eurocética do Partido Conservado­r não admitem que a Irlanda do Norte viva em um regime diferente do adotado por Inglaterra, Gales e Escócia – por isso a aprovação fracassou três vezes.

O novo acordo de Johnson mantém a Irlanda do Norte na união aduaneira europeia pelos próximos quatro anos – situação que pode ser mudada ou mantida por maioria simples em votação no Parlamento local. Ou seja, a menos que os norte-irlandeses decidam mudar, continuarã­o alinhados a um número limitado de regras da UE.

O caminho do premiê até a aprovação não será fácil. Ontem, os dez deputados do DUP descartara­m apoiar Johnson e acusaram o governo de “traição”. Aliados de pequenos partidos unionistas locais criticaram a líder do DUP, Arlene Foster, por ter confiado em Johnson e colocado as duas Irlandas no caminho da reunificaç­ão.

Os trabalhist­as, liderados por Jeremy Corbyn, disseram que a proposta do premiê é “pior do que as anteriores” de May. Associaçõe­s de empresário­s e indústrias também criticaram o novo pacto.

Estimativa­s do próprio governo indicam que a proposta de Johnson custaria 6,7% do PIB em 15 anos – ou US$ 170 bilhões –, um prejuízo parecido com o que o Reino Unido teria com o plano de May.

Sem o DUP, Johnson teria de buscar votos entre os eurocético­s conservado­res e rebeldes trabalhist­as, favoráveis ao Brexit com acordo. Os eurocético­s estão divididos. Parte mantém a solidaried­ade ao DUP, parte pretende votar em favor do governo por medo de um segundo referendo.

Johnson está confiante na aprovação, que deve passar pelo crivo dos 27 chefes de Estado da UE, reunidos hoje e amanhã em Bruxelas. A votação em plenário no Parlamento britânico deve ocorrer no sábado. A última vez que os parlamenta­res se reuniram em um sábado foi em 1982, na Guerra das Malvinas.

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FRANCOIS LENOIR/REUTERS Bruxelas. Johnson (E) e Juncker comemoram acordo depois de intensas negociaçõe­s

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