Premiê faz pacto pelo Brexit com UE e busca apoio
Johnson manifestou otimismo de que acordo será aprovado, apesar da oposição de trabalhistas e unionistas norte-irlandeses
O primeiro-ministro Boris Johnson manifestou confiança de que o acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia será aprovado pelo Parlamento. Propostas semelhantes já foram rejeitadas pelos deputados.
O Reino Unido e a União Europeia chegaram ontem a um novo acordo sobre o Brexit. Agora, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, corre contra o tempo para articular apoio para a aprovação do texto no Parlamento – propostas semelhantes já foram rejeitadas pelos deputados
três vezes durante o governo de Theresa May.
O novo acordo anunciado ontem por Johnson é muito parecido com os anteriores. A única diferença é a questão irlandesa. A ilha é dividida entre Irlanda do Norte, território britânico, e a República da Irlanda, membro da UE, e só foi pacificada em 1998, com o Acordo de SextaFeira Santa, pelo qual os britânicos abriam mão de controles físicos na fronteira.
Como o Brexit significa a saída do Reino Unido do mercado comum europeu, o restabelecimento de um controle alfandegário seria inevitável e representava um impasse. May criou um mecanismo chamado de “backstop”, pelo qual mantinha a Irlanda do Norte no mercado europeu caso Reino Unido e UE não concluíssem um acordo de livre-comércio.
No entanto, o Partido Unionista Democrático (DUP), da Irlanda do Norte, e a ala eurocética do Partido Conservador não admitem que a Irlanda do Norte viva em um regime diferente do adotado por Inglaterra, Gales e Escócia – por isso a aprovação fracassou três vezes.
O novo acordo de Johnson mantém a Irlanda do Norte na união aduaneira europeia pelos próximos quatro anos – situação que pode ser mudada ou mantida por maioria simples em votação no Parlamento local. Ou seja, a menos que os norte-irlandeses decidam mudar, continuarão alinhados a um número limitado de regras da UE.
O caminho do premiê até a aprovação não será fácil. Ontem, os dez deputados do DUP descartaram apoiar Johnson e acusaram o governo de “traição”. Aliados de pequenos partidos unionistas locais criticaram a líder do DUP, Arlene Foster, por ter confiado em Johnson e colocado as duas Irlandas no caminho da reunificação.
Os trabalhistas, liderados por Jeremy Corbyn, disseram que a proposta do premiê é “pior do que as anteriores” de May. Associações de empresários e indústrias também criticaram o novo pacto.
Estimativas do próprio governo indicam que a proposta de Johnson custaria 6,7% do PIB em 15 anos – ou US$ 170 bilhões –, um prejuízo parecido com o que o Reino Unido teria com o plano de May.
Sem o DUP, Johnson teria de buscar votos entre os eurocéticos conservadores e rebeldes trabalhistas, favoráveis ao Brexit com acordo. Os eurocéticos estão divididos. Parte mantém a solidariedade ao DUP, parte pretende votar em favor do governo por medo de um segundo referendo.
Johnson está confiante na aprovação, que deve passar pelo crivo dos 27 chefes de Estado da UE, reunidos hoje e amanhã em Bruxelas. A votação em plenário no Parlamento britânico deve ocorrer no sábado. A última vez que os parlamentares se reuniram em um sábado foi em 1982, na Guerra das Malvinas.