O Estado de S. Paulo

Grupo de Bivar no PSL impõe revés a Bolsonaro

Crise entre presidente e a cúpula de sua sigla vira guerra declarada com áudios vazados e ameaças; Eduardo e Flávio podem perder comando dos diretórios regionais

- BRASÍLIA / RENATO ONOFRE, PATRIK CAMPOREZ, CAMILA TURTELLI e DANIEL WETERMAN

A crise que opõe o presidente Jair Bolsonaro e a cúpula do seu próprio partido, o PSL, se tornou ontem uma guerra declarada com a divulgação de áudios, ameaças, rasteiras e retaliaçõe­s. Após se movimentar para isolar o grupo do presidente do partido, deputado Luciano Bivar (PE), Bolsonaro sofreu derrotas de peso. O presidente não conseguiu derrubar o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), que depois o chamou de “vagabundo” e disse que vai “implodi-lo”. A direção do partido, controlada por Bivar, indicou que vai destituir o deputado Eduardo Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro do comando dos diretórios regionais em São Paulo e no Rio, respectiva­mente.

O mais ruidoso capítulo da briga começou anteontem, quando Bolsonaro tentou substituir Waldir por Eduardo na liderança do PSL na Câmara. Para tanto, chamou um grupo de parlamenta­res do seu grupo para uma conversa a portas fechadas, no Palácio do Planalto, e exerceu seu poder de pressão. Irritado com Waldir, que no dia anterior orientara a bancada a votar contra a Medida Provisória que promovia a reestrutur­ação administra­tiva da Casa Civil e da Secretaria de Governo, Bolsonaro cobrou apoio à troca de comando na liderança. Fez o apelo pessoalmen­te e em telefonema­s.

Em uma das ligações para um parlamenta­r, Bolsonaro foi gravado detonando Waldir. “Você sabe que o humor desse cara muda”, disse ele, em referência ao líder do PSL na Câmara. Ao saber dessas articulaçõ­es, Waldir não se conteve. “Eu vou implodir o presidente”, afirmou o deputado, em reunião com colegas do partido. “Eu votei nessa p..., eu andei no sol 246 cidades, no sol gritando o nome desse vagabundo.” (mais informaçõe­s na pág. A8).

A ameaça de Waldir foi feita por volta de 17 horas de anteontem e também gravada, sem ele saber, pelo deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), do grupo de Bolsonaro, que estava “infiltrado” na reunião. Cinco horas depois, o protocolo da Câmara ainda recebia listas assinadas por deputados do PSL – duas delas pediam a substituiç­ão de Waldir da liderança e outra, a sua manutenção. A Secretaria-Geral da

Mesa Diretora da Câmara conferiu ontem as assinatura­s e invalidou quatro delas. Com isso, o líder da bancada foi mantido.

Além de uma derrota para Bolsonaro, a permanênci­a do aliado de Bivar na liderança foi um revés para o próprio Eduardo, que na noite de ontem já havia dado entrevista como líder. “Estou vindo para tentar colocar um pouco de panos quentes”, disse ele. “Muitos deputados foram retirados de comissões. Ocorreu uma retaliação e pareceu que se estava fazendo política com o fígado”, emendou ele, antes do resultado.

O desfecho da disputa também enfraquece­u a candidatur­a dele a embaixador do Brasil em Washington(mais informaçõe­s nesta página). Embora Bivar tenha dito que ainda não assinou as mudanças nos diretórios do Rio e de São Paulo, ele admitiu que todo o processo está pronto. “Está tudo lá no partido”, afirmou. Ainda hoje, o PSL deve fazer uma convenção extraordin­ária, em Brasília, para referendar mudanças no estatuto que desidratam a ala bolsonaris­ta no partido.

No meio do tiroteio, Bolsonaro também substituiu ontem a deputada Joice Hasselmann (PSLSP), líder do governo no Congresso, pelo senador Eduardo Gomes (MDB-TO). Da ala pró-Bivar e desafeta de Eduardo, Joice foi signatária de uma lista pedindo a manutenção de Waldir no posto. O movimento de Joice enfureceu Bolsonaro. “A Presidênci­a da República foi usada para interferir em outro poder, que é o Legislativ­o”, afirmou a deputada ao Estado. “Eu carreguei muitas coisas nas costas e apaguei incêndios, mas sabia que a gratidão não estava entre as qualidades que cercam o presidente.”

Ao sair ontem pela manhã do Palácio da Alvorada, Bolsonaro foi questionad­o sobre suas críticas a Waldir, gravadas por um correligio­nário. “Eu falei com alguns parlamenta­res. Me gravaram? Deram uma de jornalista?”, questionou. Sem querer esticar o assunto, o presidente encerrou a conversa. “Se alguém grampeou telefone, primeiro é uma desonestid­ade. Eu não trato publicamen­te desse assunto.”

Aliado de Bolsonaro, Daniel Silveira (RJ) admitiu ter gravado a reunião da bancada do PSL em que Waldir chamou o presidente de “vagabundo”, com o objetivo de “blindar” o presidente. “Era uma estratégia pensada”, disse o deputado, confirmand­o que o próprio Bolsonaro participou do plano. Silveira tem experiênci­a em trabalhar disfarçado. Quando integrava a PM do Rio, ele atuou na área do Serviço de Inteligênc­ia.

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JÚLIO CAVALHEIRO/SECOM SC Disputa. Ao lado do ministro Sérgio Moro, Bolsonaro participa de evento da Polícia Rodoviária Federal em Florianópo­lis (SC)
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Áudio. ‘Eu vou implodir o presidente’ estadao.com.br/e/audiowaldi­r 6
NA WEB Áudio. ‘Eu vou implodir o presidente’ estadao.com.br/e/audiowaldi­r 6

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