Grupo de Bivar no PSL impõe revés a Bolsonaro
Crise entre presidente e a cúpula de sua sigla vira guerra declarada com áudios vazados e ameaças; Eduardo e Flávio podem perder comando dos diretórios regionais
A crise que opõe o presidente Jair Bolsonaro e a cúpula do seu próprio partido, o PSL, se tornou ontem uma guerra declarada com a divulgação de áudios, ameaças, rasteiras e retaliações. Após se movimentar para isolar o grupo do presidente do partido, deputado Luciano Bivar (PE), Bolsonaro sofreu derrotas de peso. O presidente não conseguiu derrubar o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), que depois o chamou de “vagabundo” e disse que vai “implodi-lo”. A direção do partido, controlada por Bivar, indicou que vai destituir o deputado Eduardo Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro do comando dos diretórios regionais em São Paulo e no Rio, respectivamente.
O mais ruidoso capítulo da briga começou anteontem, quando Bolsonaro tentou substituir Waldir por Eduardo na liderança do PSL na Câmara. Para tanto, chamou um grupo de parlamentares do seu grupo para uma conversa a portas fechadas, no Palácio do Planalto, e exerceu seu poder de pressão. Irritado com Waldir, que no dia anterior orientara a bancada a votar contra a Medida Provisória que promovia a reestruturação administrativa da Casa Civil e da Secretaria de Governo, Bolsonaro cobrou apoio à troca de comando na liderança. Fez o apelo pessoalmente e em telefonemas.
Em uma das ligações para um parlamentar, Bolsonaro foi gravado detonando Waldir. “Você sabe que o humor desse cara muda”, disse ele, em referência ao líder do PSL na Câmara. Ao saber dessas articulações, Waldir não se conteve. “Eu vou implodir o presidente”, afirmou o deputado, em reunião com colegas do partido. “Eu votei nessa p..., eu andei no sol 246 cidades, no sol gritando o nome desse vagabundo.” (mais informações na pág. A8).
A ameaça de Waldir foi feita por volta de 17 horas de anteontem e também gravada, sem ele saber, pelo deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), do grupo de Bolsonaro, que estava “infiltrado” na reunião. Cinco horas depois, o protocolo da Câmara ainda recebia listas assinadas por deputados do PSL – duas delas pediam a substituição de Waldir da liderança e outra, a sua manutenção. A Secretaria-Geral da
Mesa Diretora da Câmara conferiu ontem as assinaturas e invalidou quatro delas. Com isso, o líder da bancada foi mantido.
Além de uma derrota para Bolsonaro, a permanência do aliado de Bivar na liderança foi um revés para o próprio Eduardo, que na noite de ontem já havia dado entrevista como líder. “Estou vindo para tentar colocar um pouco de panos quentes”, disse ele. “Muitos deputados foram retirados de comissões. Ocorreu uma retaliação e pareceu que se estava fazendo política com o fígado”, emendou ele, antes do resultado.
O desfecho da disputa também enfraqueceu a candidatura dele a embaixador do Brasil em Washington(mais informações nesta página). Embora Bivar tenha dito que ainda não assinou as mudanças nos diretórios do Rio e de São Paulo, ele admitiu que todo o processo está pronto. “Está tudo lá no partido”, afirmou. Ainda hoje, o PSL deve fazer uma convenção extraordinária, em Brasília, para referendar mudanças no estatuto que desidratam a ala bolsonarista no partido.
No meio do tiroteio, Bolsonaro também substituiu ontem a deputada Joice Hasselmann (PSLSP), líder do governo no Congresso, pelo senador Eduardo Gomes (MDB-TO). Da ala pró-Bivar e desafeta de Eduardo, Joice foi signatária de uma lista pedindo a manutenção de Waldir no posto. O movimento de Joice enfureceu Bolsonaro. “A Presidência da República foi usada para interferir em outro poder, que é o Legislativo”, afirmou a deputada ao Estado. “Eu carreguei muitas coisas nas costas e apaguei incêndios, mas sabia que a gratidão não estava entre as qualidades que cercam o presidente.”
Ao sair ontem pela manhã do Palácio da Alvorada, Bolsonaro foi questionado sobre suas críticas a Waldir, gravadas por um correligionário. “Eu falei com alguns parlamentares. Me gravaram? Deram uma de jornalista?”, questionou. Sem querer esticar o assunto, o presidente encerrou a conversa. “Se alguém grampeou telefone, primeiro é uma desonestidade. Eu não trato publicamente desse assunto.”
Aliado de Bolsonaro, Daniel Silveira (RJ) admitiu ter gravado a reunião da bancada do PSL em que Waldir chamou o presidente de “vagabundo”, com o objetivo de “blindar” o presidente. “Era uma estratégia pensada”, disse o deputado, confirmando que o próprio Bolsonaro participou do plano. Silveira tem experiência em trabalhar disfarçado. Quando integrava a PM do Rio, ele atuou na área do Serviço de Inteligência.