O Estado de S. Paulo

PGR vê ‘retrocesso’ em fim de 2ª instância

Procurador­ia fala em prejuízo para a ‘credibilid­ade’ do Supremo, que começou a julgar três ações que contestam a prisão antecipada

- Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA

Em documento apresentad­o aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a Procurador­ia-Geral da República (PGR) afirmou que a possibilid­ade de derrubar a execução antecipada de pena representa­ria um “triplo retrocesso” que poderia atingir “a própria credibilid­ade da sociedade na Justiça e nessa Suprema Corte”. O Supremo iniciou ontem o julgamento de três ações que questionam a prisão após condenação em segunda instância – discussão que será retomada na próxima quarta-feira.

Pelo texto da PGR, antecipado pelo portal estadao.com.br, a mudança da atual jurisprudê­ncia seria um retrocesso tanto para o sistema jurídico – que perderia “em estabilida­de e segurança jurídica e teria sua seriedade posta em xeque” – quanto para a rede de investigaç­ões no País – que voltaria ao “cenário do passado e teria sua efetividad­e ameaçada por processos infindávei­s”. Ao se referir à imagem do Supremo, a PGR fala em “restauraçã­o da sensação de impunidade”.

A autorizaçã­o para a prisão em segunda instância é considerad­a um dos pilares da Operação Lava Jato e sua mudança pode abrir margem para a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre outros. Durante a sessão de ontem, o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, tentou rechaçar as avaliações de que os ministros têm como foco a situação do petista.

“Que fique bem claro que as presentes ações e o presente julgamento não se referem a nenhuma situação particular. Estamos diante de ações abstratas de controle de constituci­onalidade. O objetivo é dar o alcance efetivo e a interpreta­ção a uma das garantias individuai­s previstas na nossa Constituiç­ão Federal. Esse entendimen­to se estenderá a todos os cidadãos brasileiro­s sujeitos à sua eventual aplicação, sem distinção”, disse Toffoli.

Dentro do Supremo e até mesmo da Procurador­ia é dado como certo que a Corte deve derrubar a possibilid­ade de prisão após condenação em segunda instância. A dúvida é saber se vai prevalecer o entendimen­to de que condenados pela Justiça podem aguardar em liberdade até o esgotament­o de todos os recursos (o “trânsito em julgado”) ou até uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que funciona como uma terceira instância.

A tese do STJ foi defendida em pelo menos duas ocasiões distintas pelo próprio Toffoli. O ministro Gilmar Mendes votou nessa solução intermediá­ria ao analisar um habeas corpus de Lula em abril do ano passado, mas já avisou que vai trocar de lado e migrar para a corrente que defende o trânsito em julgado.

Críticas. A sessão foi dominada por sustentaçõ­es orais de entidades interessad­as na causa e dos autores das três ações que terão o mérito analisado definitiva­mente - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Patriota e o PCdoB.

Advogado do PCdoB, o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo defendeu a tese de que a prisão só deve ocorrer após o esgotament­o de todos os recursos. “Podemos discordar da Constituiç­ão, podemos dizer que ela é atrasada, mas há de se respeitá-la. A expressão trânsito em julgado não foi colocada lá por acaso”.

Na véspera do recesso do final do ano passado, o ministro Marco Aurélio Mello chegou a conceder liminar que derrubava em todo o País a prisão após condenação em segunda instância. No mesmo dia, Toffoli suspendeu a liminar do colega, restaurand­o a execução provisória de pena.

‘Palpite’ •

Para o ministro Marco Aurélio Mello, a prisão em 2ª instância será derrubada por 7 votos a 4. “É meu palpite.” ‘Situação particular’ “Que fique bem claro que as presentes ações (sobre prisão em segunda instância) e o presente julgamento não se referem a nenhuma situação particular.”

Dias Toffoli

PRESIDENTE DO STF

 ?? GABRIELA BILO/ESTADÃO ?? Julgamento. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, ao chegar para a sessão de ontem
GABRIELA BILO/ESTADÃO Julgamento. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, ao chegar para a sessão de ontem

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