O Estado de S. Paulo

Brasil fica com vaga em Conselho de Direitos Humanos da ONU

País foi reeleito e vai representa­r, junto com a Venezuela, a América Latina em órgão internacio­nal

- Paulo Beraldo / COLABOROU JOÃO KER

O Brasil e a Venezuela foram eleitos ontem membros do Conselho de Direitos Humanos da Organizaçã­o das Nações Unidas para o período de 20202022. Ambos foram escolhidos em votação realizada na Assembleia-Geral. Enquanto o Brasil teve apoio de 153 países e obteve a reeleição, a Venezuela foi respaldada por 105 nações e vai substituir Cuba.

Os dois países serão os representa­ntes da América Latina. O governo de Costa Rica tentou conquistar um dos assentos, mas obteve só 96 votos e ficou de fora. A candidatur­a do país caribenho tinha como objetivo atrapalhar a entrada da Venezuela, mas acabou causando preocupaçã­o também ao Brasil.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU foi criado em 2006 e escolhe seus 47 membros em votações nas quais participam os 193 países que compõem a Assembleia-Geral. O País já foi eleito para o grupo em 2006, 2008, 2012 e 2016.

Em entrevista à ONU News, o embaixador do Brasil na organizaçã­o, Mauro Vieira, afirmou que a reeleição mostra o “legado” do País na defesa dos direitos humanos. “O número elevado de apoios representa o papel que o Brasil tem, a imagem que tem nessa instituiçã­o e, sobretudo, o legado para a defesa dos direitos humanos”, afirmou.

“O Artigo 4.ª da Constituiç­ão defende a aplicação dos direitos humanos como um dos princípios orientador­es da política externa. Esse reconhecim­ento internacio­nal é muito importante e mostra que temos mantido as boas práticas nessa área.”

Outros 12 países foram eleitos ontem: Alemanha, Polônia, Holanda, Armênia, Sudão, Namíbia, Líbia, Mauritânia, Japão, Indonésia, Coreia do Sul e Ilhas Marshall.

Costa Rica. A vaga pleiteada pelo Brasil estava praticamen­te certa até o último dia 3, quando Carlos Alvarado Quesada, presidente da Costa Rica, colocou sua candidatur­a, como forma de impedir que a Venezuela assumisse um posto no conselho.

Apesar da intenção oficial de barrar o governo de Nicolás Maduro, o movimento foi encarado como uma ameaça também à vaga brasileira, cuja relação com outros países-membros da organizaçã­o tem se desgastado nos últimos meses.

Além da candidatur­a repentina da Costa Rica, havia ainda os desconfort­os diplomátic­os protagoniz­ados pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL). Em um deles, ele atacou a Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile e comissária para Direitos Humanos da ONU.

Ainda durante sua campanha à Presidênci­a, o presidente disse que pretendia retirar o Brasil da ONU, caso fosse eleito. Mais tarde, ele se retratou, esclarecen­do que se referia apenas ao Conselho de Direitos Humanos, para o qual o País acabou sendo eleito ontem.

Estados Unidos. O movimento de Bolsonaro seguiria o de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, que decidiu, no ano passado, abandonar o conselho. A iniciativa teve o apoio de Israel. Na ocasião, Nikki Haley, então representa­nte do governo americano, chamou o conselho de “hipócrita e egoísta, que ridiculari­za os direitos humanos”.

O afastament­o veio depois de manifestaç­ões do conselho sobre o embate travado por Trump na fronteira dos EUA com o México. O combate à imigração, marca da administra­ção Trump, foi classifica­da pelo conselho como uma “crise humanitári­a”.

‘Reconhecim­ento’ “Esse reconhecim­ento internacio­nal é muito importante e mostra que temos mantido as boas práticas nessa área.” Mauro Vieira

EMBAIXADOR DO BRASIL NA ONU

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