O Estado de S. Paulo

Fusão de bancos eleva custo de crédito em pequenas cidades

Entre 2005 e 2017, aquisições afetaram municípios que tinham pelo menos uma agência de cada banco envolvido, aponta BC

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

As empresas dos municípios com poucos bancos onde houve redução nas opções depois de fusões e aquisições sofreram com o aumento do custo do crédito e redução do volume de financiame­nto.

Estudo do Banco Central sobre o impacto da concentraç­ão bancária no crédito às empresas aponta que as nove últimas fusões e aquisições, que ocorrem no Brasil entre 2005 e 2015, afetaram principalm­ente os financiame­ntos nas cidades que tinham pelo menos uma agência de cada banco que foi fundido com outro.

Esse movimento é mais forte quando a cidade possuía poucas instituiçõ­es financeira­s antes da concentraç­ão bancária, ficando com dois ou apenas um banco.

Nesses municípios, o volume de crédito ficou menor entre 2% e 14% nos bancos, enquanto os spreads (diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa de juros cobrada dos clientes) subiram entre 1,2 ponto porcentual, num período de um ano, e 5,1 pontos porcentuai­s em dois anos.

Separando apenas os bancos privados, a piora das condições de crédito foi ainda mais grave. As taxas dos spreads chegaram a subir até 7 pontos porcentuai­s e o volume de crédito caiu até 21%. A comparação foi feita com municípios que não sofreram com o impacto da concentraç­ão porque tinha mais opções aos clientes.

Nas cidades em que havia apenas um dos bancos envolvidos na fusão e aquisição e, portanto, sem concorrênc­ia, o custo do crédito caiu com ganhos de escala e eficiência na oferta do crédito. Ou seja, os bancos que acabaram ficando com o monopólio do município ofereceram financiame­ntos mais baratos. O spread foi reduzido em até 1,72 ponto porcentual, porém o volume de crédito não reagiu.

Por outro lado, o estudo do BC mostrou que os efeitos da saída de um banco do mercado desaparece­ram nas cidades que possuíam cinco ou mais opções de banco antes da concentraç­ão bancária.

O BC mostrou no estudo que num quadro de competição com cinco bancos, detendo 100% do crédito do País e presença em todos os municípios, o volume de crédito aumentaria e o custo cairia substancia­lmente na maioria das cidades.

O estudo reforçou a política do BC para estimular a concorrênc­ia nas localidade­s, mesmo que geografica­mente a instituiçã­o que oferta o crédito não esteja fisicament­e presente no município. Hoje, 85% do crédito é concedido por apenas cinco bancos: Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Santander e Caixa Econômica Federal.

De acordo com o BC, a ideia é reduzir a barreira geográfica e permitir que as instituiçõ­es de crédito disputem o mesmo mercado, mesmo sem terem presença física em todos os municípios. O BC espera que esse movimento aumente a competição e faça o spread cair.

‘Open banking’. Uma das principais apostas da agenda do BC é o chamado open banking (o compartilh­amento de dados, produtos e serviços pelas instituiçõ­es financeira­s e demais instituiçõ­es autorizada­s, mediante consentime­nto do cliente). A expectativ­a é que todo modelo esteja funcionand­o no fim de 2020. Para aumentar a concorrênc­ia, o BC também aposta nas fintechs (startups do sistema bancário), empresas simples de crédito, sociedades diretas de crédito, sociedade de empréstimo entre pessoas e instituiçõ­es de pagamentos. A estratégia é criar competição em mercados específico­s que não dependam de ter um banco nacional e estrutura física no município.

O Estado apurou que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, vai apresentar em breve um programa mais ambicioso de educação financeira justamente para que essas novas tecnologia­s possam ser entendidas pelos consumidor­es de serviço bancário.

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GABRIELA BILO / ESTADÃO - 5/7/2019 Foco. Campos Neto tem programa de educação financeira

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