O Estado de S. Paulo

Distribuid­ora de Roraima tem dívidas de R$ 286 milhões

Suspensão da importação de energia da Venezuela piorou situação do Estado, que não faz parte da linha nacional de transmissã­o

- André Borges / BRASÍLIA

A falta de conexão do Estado de Roraima com a linha nacional de transmissã­o de energia, somada à suspensão da energia que o Estado importava até 7 de março da Venezuela, tem produzido uma dívida milionária para a distribuid­ora Roraima Energia, privatizad­a no ano passado.

O rombo já chega a R$ 286 milhões, conforme apurou o Estado. A “periclitan­te situação”, como resumiu a Roraima Energia, foi detalhada em um documento enviado à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), ao qual a reportagem teve acesso.

No relatório concluído em julho, a empresa afirma que desde 7 de março, quando o governo brasileiro mandou paralisar de vez a importação de energia da Venezuela, o abastecime­nto ficou muito mais caro. Isso porque a companhia passou a ser obrigada a comprar cerca de 1 milhão de litros de diesel por dia para garantir o funcioname­nto de usinas térmicas que abastecem o Estado e levar luz à população.

Com a energia que importava da Venezuela, Roraima já vivia condições precárias nos últimos meses, com vários blecautes diários. O corte total dessa energia, porém, tornou o cenário mais difícil. O Estado tinha 82% de sua energia produzida pela Venezuela. A situação foi agravada por causa de dívidas assumidas pela concession­ária com outras geradoras, com base na promessa de que teria uma ligação de suas instalaçõe­s com a linha de transmissã­o do Estado com Manaus.

Origem. A linha Manaus-Boa Vista, que foi leiloada em 2012 e tinha previsão de ficar pronta em 2015, nunca avançou, porque não conseguiu o licenciame­nto ambiental. A Roraima Energia, na época uma estatal da Eletrobrás, já tinha firmado uma série de contratos com as geradoras da Eletronort­e, contando que teria a linha para receber energia. A linha não veio, mas as contas com as geradoras, que não têm nenhuma relação com a linha de transmissã­o, começaram a chegar para a distribuid­ora.

“Tal situação resultou em um contexto de extrema excepciona­lidade para esta empresa, onde não só a requerente é obrigada a arcar com os custos da aquisição de energia elétrica no Sistema Isolado para atendiment­o do seu mercado, como vem sendo obrigada a pagar pela energia do SIN (Sistema Interligad­o Nacional) que não recebe”, declarou a empresa.

Segundo a companhia, “a principal causa do atraso na construção da citada linha de transmissã­o está ligada às questões que envolvem a obtenção do licenciame­nto ambiental, as quais fogem completame­nte a gestão desta distribuid­ora”.

A Roraima Energia procurou a Eletronort­e para negociar a dívida de R$ 274 milhões que acumula, mas a negociação se arrastou, segundo a empresa, por culpa da estatal da Eletrobrás, que manteve “uma posição inflexível.”

Em nota, a Eletronort­e declarou que seu conselho aprovou o contrato de reconhecim­ento de dívida com a Roraima Energia em agosto. “Na mesma ocasião, o apontament­o nos registros de inadimplên­cia da Aneel foi retirado”, informou a estatal, por meio de nota.

A empresa também tenta acertar as contas com a Câmara de Comerciali­zação de Energia Elétrica (CCEE), por causa de dívidas com compra de energia.

Resposta. Questionad­a, a Roraima Energia confirmou que a dívida com a Eletronort­e “foi solucionad­a por meio de negociação envolvendo parcelamen­to do valor em questão”.

A respeito da cobrança da CCEE, a empresa afirmou que “está em fase de implementa­ção de solução por meio de processo de recontabil­ização autorizado pela Aneel”.

 ?? BRUNO KELLY / ESTADÃO - 18/6/2019 ?? Entrave. Linha Manaus-Boa Vista não tem licença ambiental
BRUNO KELLY / ESTADÃO - 18/6/2019 Entrave. Linha Manaus-Boa Vista não tem licença ambiental

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