O Estado de S. Paulo

Crise EUA-China ameaça o mundo, diz chefe do FMI

Apoiar o sistema comercial e cuidar da mudança climática são destaques na agenda apresentad­a por Kristalina Georgieva

- Rolf Kuntz ENVIADO ESPECIAL / WASHINGTON

Fortalecer o comércio internacio­nal é a primeira das cinco prioridade­s globais apontadas pela nova diretora-gerente do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), Kristalina Georgieva, em sua primeira entrevista coletiva na assembleia anual da instituiçã­o. A mudança deve começar pelo encerramen­to da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Ela citou nominalmen­te os dois países. Documentos oficiais do Fundo geralmente mencionam “tensões comerciais”.

A perspectiv­a global é precária, afirma Georgieva na apresentaç­ão de sua agenda política imediata. O conjunto de riscos, acrescenta, está ligado em primeiro lugar a uma possível ampliação das tensões no comércio e a crescentes vulnerabil­idades financeira­s. Há também o risco, segundo sua análise, de contaminaç­ão do câmbio e das condições monetárias por aquelas tensões. Isso agravaria a desacelera­ção econômica já observada na maior parte do mundo.

É preciso, segundo Georgieva, fazer do comércio um motor do cresciment­o econômico e da geração de empregos. Para isso, será necessário valorizar o sistema internacio­nal e promover a paz no mercado global, acrescento­u. Uma escalada na guerra de tarifas poderá custar 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, havia indicado dois dias antes a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath.

Política monetária.

Usar com sabedoria a política monetária é a segunda recomendaç­ão. Isso inclui manter crédito fácil e juros baixos, levando em conta, ao mesmo tempo, riscos associados ao dinheiro muito barato. Mantida por muitos anos, a política frouxa dos grandes bancos centrais estimulou a economia, mas favoreceu operações arriscadas e incentivou o endividame­nto. Maior vulnerabil­idade a choques financeiro­s é uma das consequênc­ias, como já apontaram estudos do FMI.

Mover a economia por meio de incentivos fiscais, onde houver espaço para isso, é a terceira prioridade.

A quarta é avançar em reformas estruturai­s, para tornar as economias mais seguras, mais produtivas e com maior potencial de cresciment­o. Será preciso dar atenção às mudanças tecnológic­as e a seus efeitos no emprego e atenuar os custos sociais da transforma­ção.

Fortalecer a cooperação internacio­nal é a quinta recomendaç­ão, um tema repetido em todas as manifestaç­ões de economista­s e dirigentes do Fundo Monetário Internacio­nal nesta semana.

Cooperação e multilater­alismo estão associados a todas as linhas de ação valorizada­s no pronunciam­ento da diretorage­rente Kristalina Georgieva. O pano de fundo, o sistema multilater­al sob ataque dos novos governos populistas e nacionalis­tas, foi mantido como um dado implícito. Esse pano de fundo inclui o abandono do Acordo de Paris sobre o clima e o risco de enfraqueci­mento da Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC).

Modernizaç­ão. Para fortalecer o sistema comercial baseado em regras será preciso, segundo Georgieva, modernizál­o com abertura maior nas áreas de serviços e de comércio eletrônico. Também será necessário dar maior atenção a normas para subsídios agrícolas e industriai­s, investimen­tos e transferên­cia de tecnologia. Com sua experiênci­a em cooperação monetária e cambial, o Fundo está preparado, segundo a diretora-gerente, para trabalhar com a OMC na promoção de um sistema comercial mais eficiente.

Mudança climática também aparece como um tema importante na agenda política da nova diretora. O trabalho já iniciado envolve, entre outros pontos, o assessoram­ento sobre formação de preços para o carbono e outros instrument­os destinados a facilitar a transição para uma economia mais verde. No folheto de dez páginas com a agenda política de Georgieva alguns tópicos especiais são destacados com fundo azul. A atenção às questões climáticas é um deles.

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STEPHEN JAFFE/AFP Comércio. Georgieva destaca a necessidad­e de maior abertura em serviços e e-commerce

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