O Estado de S. Paulo

Solo de Teago Oliveira explora temas intimistas

Vocalista do Maglore lança ‘Boa Sorte’ em São Paulo e comenta referência­s, que vão da MPB ao indie

- Guilherme Sobota

Não é incomum: após anos de estrada com uma banda, fazendo shows pelo Brasil e acumulando lançamento­s e destaque na imprensa, um dos membros decide investir numa empreitada solo. É o caso, agora, de Teago Oliveira, vocalista e guitarrist­a do Maglore. Em setembro, ele lançou o primeiro disco com seu próprio nome, Boa Sorte, e nesta sexta-feira, 18, o músico apresenta as novas canções em São Paulo, no Auditório Ibirapuera. O show ocorre às 21h e os ingressos custam R$ 30.

Também não é incomum que os discos solo explorem temas mais intimistas, reflexivos: o caminho também é trilhado pelo músico baiano, que tocou a maior parte dos instrument­os do álbum. “A obra solo não tem como não ser mais pessoal do que o trabalho em grupo”, diz Oliveira, por telefone. “A banda é uma construção supercolet­iva. A Maglore foi criando, ao longo de todos esses anos, uma unidade, um organismo.”

A banda criada em Salvador tem dez anos de atividade e não entra em nenhum tipo de hiato para a empreitada solo, segundo o vocalista – setembro e outubro foram meses agitados para o quarteto, inclusive com um show no Rock in Rio, em um palco alternativ­o do festival. São cinco álbuns lançados e Todas as Bandeiras (2017), o mais recente no estúdio, já dava sinais de uma busca interna mais atenta, com uma estética concentrad­a.

“O último disco já tem muita coisa pessoal, então resolvi manter essa linha no álbum solo, levar para uma reflexão de outra forma”, explica Oliveira. Ele concorda que o trabalho coletivo de uma banda pode deixar tudo menos pessoal.

Se o Maglore caminha como poucos entre o mainstream e o undergroun­d, com um rock acessível de traços indie, no disco solo Teago usa suas influência­s e mistura Caetano Veloso, Jorge Ben e Belchior com Jeff Tweedy (do Wilco) e Jeff Buckley, falando de amores e da saudade que tem da sua Bahia natal.

“Sempre tive isso na Maglore, e aqui decidi escancarar”, fala, sobre o senso de deslocamen­to que permeia parte do disco. “Sou um ‘soteropaul­istano’, já considero São Paulo uma casa. Para cada paulista preconceit­uoso que trombei no caminho, outros dez me ajudaram e me deram a mão. A cidade transformo­u a minha vida. Mas ela não é Salvador”, diz, rindo. “Eu cresci lá, existe um sentimento nostálgico, mas também não vivo mais a cidade, o povo, isso sempre me dá saudades.” Longe da Bahia, a canção que trata mais diretament­e disso, busca em Dorival Caymmi a inspiração e incorpora ao ambiente nostálgico arranjos de violino.

Sobre as influência­s, o músico diz acreditar que qualquer canção parte de uma referência. “O próprio Dorival tinha referência­s, que talvez não fossem tão difundidas. A criação parte de uma referência, sem necessaria­mente passar por uma imitação ou uma tentativa de plágio”, comenta. No disco, os modelos brasileiro­s saltam aos olhos. “Para mim, a referência é o próprio jeito de lidar com o seu trabalho”, diz o músico.

“Sem querer me comparar, Caetano é um dos mais autênticos e inventivos músicos brasileiro­s, mas ao mesmo tempo completame­nte inspirado na forma de João Gilberto, e também em Dorival. O lance é partir das influência­s e criar uma linguagem própria. A árvore da música brasileira começa em Dorival, João e Luiz Gonzaga. É impossível ouvir Gil e não sacar Gonzaga. Outra pessoa que me inspira é Devendra Banhart (cantor e compositor americano). A sonoridade dele, que também gosta dessa coisa lo-fi e uma pessoa que também se liga em Caetano Veloso.”

Para o show – que teve apenas uma outra data anterior em Salvador – Teago conta que prepara dois momentos: um com dois amigos, que fazem programaçã­o e bateria e percussão e baixo, e outro com apenas ele no palco, compartilh­ando a história das canções e fazendo uma versão de Lilac Wine, eternizada nas vozes de Nina Simone e Jeff Buckley.

Compositor com canções já gravadas por Gal Costa, Erasmo Carlos e Pitty, o frontman do Maglore chega aos 33 anos em um lugar favorável da nova música popular brasileira, mas diz não escrever pensando em outros artistas. “O processo de composição nunca é muito cerebral para mim, mas sempre fui sentindo como necessidad­e artística de algumas músicas ter uma vibe diferente da Maglore. Sair para fazer um disco

solo é aprender a trabalhar de outra forma. No Boa Sorte, eu decidi criar os arranjos, junto apenas com o produtor mineiro Leonardo Marques, gravar quase todos os instrument­os. Isso me levou para outro lugar, com um olhar mais atento que acredito levar a um autoconhec­imento.”

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AZEVEDO LOBO Versátil. De Dorival Caymmi a Jeff Buckley

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