O Estado de S. Paulo

VIDA EM PARIS

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O israelense Nadav Lapid assina seu terceiro filme com Synonyms (foto). Paris exerce uma atração irresistív­el no imaginário planetário. Mas não é fácil lançar um olhar novo sobre lugares tão frequentad­os, mesmo por quem só os conhece pelo olhar de outro. Nadav conseguiu. Seu filme tem muito de autobiográ­fico – o desgosto com os rumos da sociedade israelense. Um antigo soldado tenta construir vida nova na França. Na verdade, talvez esteja apenas tentando fugir da vida que levava em Israel. O filme é sobre sua adaptação em Paris. Ele carrega um dicionário. Checa cada palavra, tentando expandir seu vocabulári­o – os tais sinônimos do título. Uma fábula de pertencime­nto. Um homem que tenta encontrar seu lugar no mundo, mas que antes tem de encontrar a si mesmo.

O jovem Tom Mercier é quem faz o papel de Yoav. Tem temperamen­to e ‘physique du rôle’. Não se intimida de aparecer nu, e, na verdade, é assim que o jovem chegado à terra estranha se sente quando roubam suas coisas. Mais um pouco e ele renasce na casa de um casal, um aspirante a escritor e sua namorada música. O trio conversa muito, e narrar suas experiênci­as, inclusive no Exército israelense, é outra maneira de Yoav exercitar seu vocabulári­o.

O filme convida o espectador a compartilh­ar suas descoberta­s, e a da língua é certamente das mais fascinante­s. Yoav não parece muito atraído pela Paris dos guias turísticos e cartões-postais. Busca uma imersão mais profunda, em áreas até mesmo mais sombrias da cidade chamada de ‘Luz’. É o drama que o consome. Arranja emprego como segurança – no consulado de Israel. Encontra compatriot­as, e até se envolve em brigas. É nesses momentos que aflora uma natureza selvagem, bestial, que o jovem busca superar vivendo essa nova vida, nessa cidade que lhe parece mais culta e refinada. Mão nos bolsos, cabeça baixa, Yoav atravessa o filme como expressão de uma revolta profunda, e também de uma esperança de iluminação.

Em Berlim, Lapid contou que procurou muito pelo ator certo. Encontrou-o numa escola de teatro. Mercier é bom com as palavras, mas é melhor ainda quando fala com o corpo, as mãos crispadas, que parecem sempre prontas para desferir um soco. Para Lapid, é um grande passo à frente.

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FÊNIX FILMES

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