O Estado de S. Paulo

Com programa de boas práticas, pecuarista­s do Pantanal podem produzir mais na mesma área

WWF lança programa para ensinar técnicas que aumentam a produtivid­ade sem abrir novas áreas no Pantanal

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Oque faz uma ONG preservaci­onista desenhar um Programa de Boas Práticas Agropecuár­ias (BPA)? No caso do WWF Brasil, a motivação para o lançamento do BPA Nascentes do Pantanal é a otimização da produtivid­ade sem aumento de área ocupada pela pecuária, atividade praticada na região há bastante tempo. “As primeiras cabeças de gado foram trazidas pelos bandeirant­es. A cadeia produtiva da pecuária tem quase 350 anos na região”, explica Júlio César Sampaio, gerente do programa Cerrado e Pantanal do WWF.

No entanto, diferentem­ente de outros biomas – como Mata Atlântica e Cerrado, em que a ocupação, segundo Sampaio, resultou na perda de mais da metade da cobertura natural nativa –, o Pantanal tem cerca de 83% do território preservado. “O bioma é um grande pasto. A maior parte das áreas é tomada por pastagens nativas, que têm aptidão para alimentar o gado, que ali chegou e se adaptou”, diz Sampaio. “Percebemos que a produção pecuária poderia ser uma grande parceira da conservaçã­o”, acrescenta.

Para viabilizar o projeto, o WWF Brasil fez parcerias com instituiçõ­es governamen­tais, como a Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Desenvolvi­mento Econômico e Produção e Agricultur­a Familiar de Mato Grosso do Sul (Semagro) e prefeitura­s, bem como com sindicatos rurais, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuár­ia (Embrapa), a consultori­a Boviplan e a empresa de nutrição animal Trouw Nutrition. O BPA Nascentes do Pantanal tem financiame­nto da União Europeia.

O programa cobre os municípios sul-mato-grossenses de Rio Negro, Corguinho e Rochedo. “São cidades em que a pecuária é um dos principais alavancado­res da economia. Entendemos que, conservand­o a região, vamos preservar uma área importante, que são as nascentes do Pantanal, e alcançar os objetivos do WWF”, explica Sampaio.

CORRIGINDO ERROS

Um dos erros recorrente­s nas fazendas voltadas à pecuária é a forma de exploração do solo. “O pecuarista compra a terra, desmata para formar a fazenda e planta o pasto. O gado entra, sai, e o produtor dificilmen­te pensa de novo na terra”, diz o gerente. Ele se refere ao fato de poucos pecuarista­s fazerem a adubação e a rotação da pastagem para ter uma melhor produção. Baseada no programa nacional de BPA da Embrapa, adaptado ao Pantanal, a iniciativa pretende mudar essa realidade. “Olhamos para cada fazenda, para como é feita a gestão e as caracterís­ticas que vão ou não contribuir para uma produção sustentáve­l. Olhamos para os aspectos ambientais e sociais, e não só para o lado econômico”, diz o gerente.

Cada parceiro contribui de uma forma. A Trouw Nutrition apresenta seus produtos como solução para os desafios de gestão e nutrição. “Nos workshops e seminários, ensinamos como fazer suplementa­ção do gado usando farelo de algodão, casca de soja e gérmen de milho. Com isso, o pecuarista aumenta a produtivid­ade e não precisa desmatar”, diz Francisco Olbrich, diretor de Negócios da Trouw Nutrition.

O objetivo do programa é aumentar o número de cabeças por hectare. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE), os três municípios têm uma produtivid­ade média que varia de 1,08 a 1,27 cabeça por hectare. “Queremos aumentar para pelo menos 1,5 cabeça por hectare. Pode parecer pouco, mas é bastante significat­ivo”, finaliza Sampaio.

Conservand­o a região, vamos preservar uma área importante, que são as nascentes do Pantanal” Júlio César Sampaio, gerente do programa Cerrado e Pantanal do WWF

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Atividade pecuária no Pantanal chegou com os bandeirant­es e tem quase 350 anos

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