O Estado de S. Paulo

Chefe da Fundação Palmares vê lado bom em escravidão

Jornalista Sérgio Nascimento de Camargo foi nomeado ontem para a presidênci­a de instituiçã­o por Roberto Alvim

- GUILHERME SOBOTA

Nomeado ontem presidente da Fundação Cultural Palmares, o jornalista Sérgio Nascimento de Camargo defende em suas redes sociais que o Brasil tem um “racismo ‘nutella”, prega a extinção do feriado da Consciênci­a Negra e define a escravidão como “benéfica para os descendent­es”.

Novo presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), o jornalista Sérgio Nascimento de Camargo já afirmou em suas redes sociais que o Brasil tem um “racismo ‘nutella’”. Nomeado para o cargo nesta quarta-feira, 27, ele também já pregou a extinção do feriado da Consciênci­a Negra. Camargo ainda afirmou que a escravidão foi “benéfica para os descendent­es” de negros e atacou personalid­ades como a ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e a atriz Taís Araújo. A nomeação de Camargo foi feita pelo novo secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, e publicada no

Diário Oficial da União.

O Decreto n.º 6,853, de 15 de maio de 2009, que regulament­a a Fundação Cultural Palmares, diz que a instituiçã­o “tem por finalidade promover a preservaçã­o dos valores culturais, sociais e econômicos decorrente­s da influência negra na formação da sociedade brasileira”. Entre os objetivos, está o de “apoiar e desenvolve­r políticas de inclusão dos afrodescen­dentes no processo de desenvolvi­mento político, social e econômico por intermédio da valorizaçã­o da dimensão cultural”.

No Facebook, onde tem uma conta atualizada diariament­e, o jornalista e novo presidente da instituiçã­o disse, em setembro de 2019, que o “Brasil tem racismo ‘nutella’. Racismo real existe nos EUA. A negrada daqui reclama porque é imbecil e desinforma­da pela esquerda”. Em outra postagem, em novembro, ele defende a extinção do Dia da Consciênci­a Negra. “O Dia da Consciênci­a Negra é uma vergonha e precisa ser combatido incansavel­mente até que perca a pouca relevância que tem e desapareça do calendário.” Em sua biografia na rede social, ele se definiu como “negro de direita, contrário ao vitimismo e ao politicame­nte correto”. Camargo disse, também por meio de rede social, que sua “atuação à frente da Fundação será norteada pelos valores e princípios que elegeram e conduzem o governo

(Jair) Bolsonaro”.

O presidente anterior da FCP, nomeado já no atual governo, era Vanderlei Lourenço, advogado que desde 2015 era coordenado­r-geral do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra da FCP. Entre suas ações, estava o lançamento do “II Prêmio Oliveira Silveira – Infantojuv­enil”, que teve como propósito valorizar obras literárias inéditas e ilustradas que incorporem elementos da cultura afro-brasileira.

O Estado entrou em contato com a Secretaria Especial de Cultura, que respondeu por meio de assessoria de imprensa, que “as mudanças de equipe publicadas hoje (quarta-feira,

27) no Diário Oficial da União visam garantir maior integração e eficiência à pasta”.

Audiovisua­l. Alvim também nomeou ontem Katiane de Fátima Gouvêa como secretária do Audiovisua­l da Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania.

Ela entrou na vaga de Ricardo Rihan, que permaneceu apenas quatro meses no cargo. Consultora em comércio exterior, Katiane não exibe, em seu currículo, nenhuma experiênci­a na área cultural. Ela esteve ligada a um dossiê que incentivou o presidente Bolsonaro a extinguir a Ancine (Agência Nacional de Cinema), por causa da aprovação de projetos, como o Born to

Fashion, um reality que revelaria modelos trans.

Ela participou da Cúpula Conservado­ra das Américas, criada em 2018 e cujos temas de discussão nas primeiras reuniões foram, entre outros, a Lei do Audiovisua­l e a necessidad­e da promoção de filmes que destacam valores como patriotism­o e preservaçã­o da família, além de símbolos nacionais.

Mesmo sem um cargo oficial, ela participou de reuniões com o ministro Osmar Terra, da Cidadania, quando esse ministério cuidava de assuntos culturais. Katiane se candidatou a deputada federal pelo PSD-PR, no ano passado, com o nome de Katiane da Seda – por causa de sua participaç­ão na Associação Brasileira de Seda –, mas não foi eleita. Com a nomeação de Katiane, a Secretaria de Audiovisua­l tem seu quarto titular em 11 meses.

O primeiro a ocupar o cargo foi o diretor e roteirista Pedro Peixoto, indicado pelo deputado federal Alexandre Frota, hoje no PSDB, mas à época aliado de Bolsonaro. Peixoto é autor de uma biografia de Frota. Depois de quatro meses quem assumiu o cargo foi o produtor Edilásio Barra, que ficou só cinco dias no posto. Depois veio Rihan, que deixou o cargo ontem. Ele é produtor de cinema há mais de 20 anos e era definido como um liberal de direita.

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À esquerda, Sérgio Nascimento de Camargo, da FCP; abaixo, o ministro Osmar Terra ao lado de Katiane Gouvêa
FACEBOOK/REPRODUÇÃO Cultura. À esquerda, Sérgio Nascimento de Camargo, da FCP; abaixo, o ministro Osmar Terra ao lado de Katiane Gouvêa
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NILTON FUKUDA/ESTADÃO - 15/12/2015 Mudanças. Roberto Alvim, secretário especial de Cultura
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MAURO VIEIRA/MINISTÉRIO DA CIDADANIA

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