O Estado de S. Paulo

HIV cai em SP, mas avança entre idosos

Número de novos casos na cidade caiu 18% entre 2017 e 2018, a maior redução desde 1996. Terapia preventiva oferecida pelo SUS é apontada como a principal causa da diminuição, mas cresciment­o de 15% dos registros em maiores de 60 anos preocupa

- Fabiana Cambricoli Paula Felix

As infecções por HIV registrara­m queda recorde na cidade de SP, de 18%, em 2018. Houve aumento entre idosos, mas jovens ainda são o grupo mais vulnerável. É para eles que falam pessoas que vivem com o vírus, como Lucas Raniel, de 27 anos, que tenta criar conteúdos que mostrem desafios e quebrem tabus.

As infecções por HIV registrara­m queda recorde na cidade de São Paulo no último ano, mas aumentaram entre os idosos. Embora o grupo mais vulnerável ao vírus continue sendo o de homens jovens, a parcela da população maior de 60 anos foi a única, entre adultos, na qual foi observado cresciment­o dos casos de HIV, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde.

No cenário geral, o número de novas infecções na capital caiu quase 18% entre 2017 e 2018, passando de 3.826 registros para 3.145. Mesmo índice de redução foi observado na taxa de detecção, que indica o número de infectados por 100 mil habitantes. O indicador passou de 32,7 para 26,8 no período analisado. É a maior queda desde 1996. Entre 2016 e 2017, a taxa de detecção já havia caído 1,9%.

Entre os idosos, o número de novos casos aumentou 15%, passando de 92 em 2017 para 106 no ano passado.

É a primeira vez, desde 2006, que a cidade observa diminuição da taxa de detecção por dois anos seguidos. “A queda consecutiv­a pelo segundo ano indica, em epidemiolo­gia, uma tendência mais sólida de queda, e não algo apenas pontual”, destaca Cristina Abbate, coordenado­ra do Programa Municipal de DST/Aids da Prefeitura.

Segundo Cristina e outros especialis­tas no tema, o principal fator para a redução significat­iva no número de infecções foi a introdução, no SUS, da profilaxia pré-exposição (PrEP), terapia com medicament­os antirretro­virais oferecida a pessoas sem o HIV de forma preventiva. Geralmente, ela é indicada a grupos mais vulnerávei­s à infecção, como jovens homossexua­is, profission­ais do sexo ou casais em que apenas um dos parceiros é soropositi­vo.

“Foram vários fatores que contribuír­am para essa queda, como aumento de testes realizados, oferta de camisinhas e ampliação do leque de opções de prevenção, como a profilaxia pós-exposição e pré-exposição. Mas se eu tiver de indicar o fator principal, foi a PrEP”, explica Cristina. A terapia passou a ser ofertada no SUS em janeiro de 2018 e hoje já é usada na cidade por cerca de 4 mil pessoas.

“Foi de fundamenta­l importânci­a porque foca nos grupos mais vulnerávei­s. É uma estratégia que funciona, mas que precisa ser ampliada para mais pessoas, incluindo idosos”, destaca Gisele Cristina Gosuen, consultora da Sociedade Brasileira de Infectolog­ia.

Idosos. A especialis­ta, responsáve­l pelo Ambulatóri­o de HIV e o Envelhecer da Universida­de Federal de São Paulo (Unifesp), destaca como causas para o aumento de casos entre idosos uma vida sexual mais ativa nessa geração, possibilit­ada por medicament­os para disfunção erétil e aplicativo­s de relacionam­ento.

Ela ressalta que as políticas públicas de HIV/Aids precisam também contemplar essa população. “Conversar com o idoso sobre sexo ainda é um tabu. As estratégia­s de prevenção e de tratamento são pensadas para os jovens. O idoso tem outro comportame­nto e condições de saúde que nem sempre permitem que ele inicie o tratamento com os mesmos medicament­os que o jovem”, afirmou.

“Falta orientação para a população idosa sobre HIV/Aids. Eles não acham que correm risco nem são informados sobre as opções de prevenção que têm.”

Gisele Cristina Gosuen

INFECTOLOG­ISTA DA UNIFESP E DA SBI

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