O Estado de S. Paulo

Enquanto crime busca lucro, terrorismo tem objetivos políticos

- Cristiano Dias

Crime organizado e terrorismo são conceitual­mente diferentes, embora estejam cada vez mais embaralhad­os. A principal diferença está na finalidade. O objetivo de uma organizaçã­o terrorista é de natureza política, ideológica ou religiosa. O dinheiro é importante, mas desempenha um papel indireto – não é um fim, mas um meio que serve a um propósito mais elevado. A intenção é intimidar a população e obrigar determinad­o governo a mudar seu comportame­nto. Já organizaçõ­es criminosas, como cartéis e gangues, atuam exclusivam­ente para obter benefícios financeiro­s ou materiais – a violência e a coerção são apenas uma ferramenta para cumprir a missão.

Se os objetivos são diferentes, as atividades de terrorista­s e de grupos criminosos muitas vezes se sobrepõem. O exemplo mais conhecido é quando terrorista­s usam o crime organizado para financiar suas ações. Na outra ponta, os cartéis também podem adaptar táticas terrorista­s para cumprir seus objetivos. Quando isso acontece, organizaçõ­es criminosas e grupos terrorista­s formam uma aliança que vai de um relacionam­ento pontual de curto prazo até uma cooperação direta de longo prazo.

De acordo com a DEA (agência antidrogas dos EUA), hoje quase a metade dos grupos terrorista­s tem relações com organizaçõ­es criminosas. Nos anos 80, sob pressão da polícia italiana, os guerrilhei­ros das Brigadas Vermelhas buscaram ajuda da Camorra, a máfia napolitana. Alguns especialis­tas latino-americanos, como a venezuelan­a Vanessa Neumann, apontam para uma colaboraçã­o cada vez maior entre cartéis mexicanos e terrorista­s islâmicos. Os túneis cavados entre Israel e Gaza teriam as impressões digitais do cartel de Sinaloa, enquanto as decapitaçõ­es realizadas pelos narcotrafi­cantes do Jalisco Nova Geração seriam inspiradas no Estado Islâmico.

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