O Estado de S. Paulo

‘Questionam­os nada ser feito na Educação’

Parlamenta­r que fez raio X do MEC diz que Weintraub ‘cruzou os braços’ e quer mudanças via Legislativ­o

- Breno Pires / BRASÍLIA

Coordenado­ra da comissão da Câmara que apontou paralisia no planejamen­to e gestão do Ministério da Economia (MEC), a deputada Tabata Amaral (PDT-SP) considera 2019 um ano perdido na educação do País. Em entrevista ao Estado, a deputada apontou o baixo índice de execução orçamentár­ia como um dos principais problemas da gestão do ministro Abraham Weintraub.

“Faz opções ideológica­s todos os dias, diz publicamen­te que está mais preocupado em perseguir fulano e sicrano do que pensar na educação, e cruza os braços. Parece que não é com ele a situação da educação no Brasil”, afirmou. Na entrevista, Tabata defendeu a aprovação de propostas no Congresso para blindar o orçamento do MEC e aumentar os repasses de emendas parlamenta­res para a área. “Claramente, este ano a gente perdeu. Tem de ficar em cima para tentar reverter o que der.”

• O que o diagnóstic­o no trabalho do MEC feito pela comissão encontrou de mais importante?

A gente não está questionan­do as questões ideológica­s que o MEC coloca. A gente questiona que nada é feito na ponta. Entendemos o contexto fiscal, e até comparamos muito com os governos Michel Temer e Dilma Rousseff. E a gente vê que a execução orçamentár­ia foi muito baixa. Mesmo quando você considera os bloqueios, não se justifica. Tem dois programas de Educação de Jovens e Adultos do governo. Um deles teve execução de zero e outro de 1%. Qual é a justificat­iva para isso? Não é o contingenc­iamento.

Outro exemplo que a gente usa e que para mim é muito emblemátic­o é o do orçamento para investimen­to, que foi de 4,4% quando se olha até julho. E mesmo comparando com o governo Temer, que foi uma situação muito parecida, chegava em 11%. Na pauta de alfabetiza­ção, que o governo elegeu como prioridade, sempre está se tratando da ideologia da metodologi­a escolhida. Houve uma preferênci­a por uma ideologia. Tudo bem, a gente pode discordar ou concordar. Mas daí nada foi feito. Não houve nenhuma direção dada para professore­s, prefeitura­s, secretário­s. O próprio Plano Nacional da Educação está sendo completame­nte ignorado. Não se pode ignorar as metas e colocar coisas novas como escola cívico-militar, que não tem embasament­o em evidências e custa muito caro.

• E o trabalho de Weintraub?

O que eu sinto é que se cruzou os braços, sabe? Em um momento que tem pouco orçamento, você não executa o orçamento que tem. Critica a ideologia que teoricamen­te baseia a alfabetiza­ção no Brasil, mas é incapaz de colocar outra no lugar. Enfim, ele (Weintraub) faz opções ideológica­s todos os dias, diz publicamen­te que está mais preocupado em perseguir fulano e sicrano do que pensar na educação, e cruza os braços.

• Além de blindar o orçamento do MEC de bloqueios, o relatório propõe uma PEC que vincula à Educação 10% das verbas de emendas individuai­s de parlamenta­res. O governo tem ido em direção contrária...

Tem resistênci­a, mas acho que cada vez mais a bancada da educação está ficando maior. Política é você tomar decisões difíceis, é fazer escolhas políticas. E a gente quer que a Câmara faça escolhas pela educação.

• Na PEC do Pacto do Federativo, o governo propõe unificar o piso de gastos que a Constituiç­ão prevê para saúde e educação. É o contrário do que a comissão está propondo?

Sim. Enfraquece a educação. Quando se coloca educação e saúde no mesmo bolo, é evidente quem vai perder e quem vai ganhar. Nossa população está envelhecen­do, os gastos com saúde tendem a aumentar. A gente tem de ajustar, fazer reformas, mas não podemos deixar de acreditar que educação é a saída para o País.

• Sobre ensino superior, o relatório propõe mudar o regime de dedicação exclusiva dos professore­s e, ao mesmo tempo, aqueles que fizessem trabalhos para o mercado privado destinaria­m 10% das receitas à instituiçã­o federal. Como funcionari­a?

Hoje a gente sabe que tem muitos professore­s universitá­rios que, ao receber convite de uma consultori­a, de algum trabalho, o recebem pela instituiçã­o na qual trabalham. A gente entende que é uma solução para esse imbróglio. Nesse caso, faz sentido que uma pequena parte fique com a instituiçã­o.

• Existe um calendário para as propostas da comissão?

Com o relatório aprovado na comissão externa que avaliou o trabalho do MEC, vamos apresentar na Comissão de Educação e conversar com o presidente e os integrante­s sobre um planejamen­to de apresentaç­ão dos projetos. Se a gente conseguir que a Comissão de Educação abrace e seja autora, incorporan­do visões, vai ser muito importante, porque tem uma representa­ção bem plural. Em relação ao MEC, a gente vai apresentar para o ministro também e no próximo ano vamos fazer um acompanham­ento muito de perto das metas.

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GABRIELA BILO/ESTADÃO Diagnóstic­o. ‘Este ano a gente perdeu. Então tem de ficar em cima para tentar reverter’

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