‘Faltou experiência para chegarmos ao título brasileiro’
Uruguaio considera que fato de o elenco do Santos ter vários atletas jovens dificultou a briga para ser campeão nacional
O uruguaio Carlos Sánchez é uma das estrelas internacionais do Santos. Além de defender a seleção de Óscar Tabárez desde 2014, o meia foi campeão da Libertadores com o River Plate em 2015. Engrossou seu currículo ao se tornar artilheiro, algo inédito em sua carreira. Em 2019, fez 16 gols e deu 9 assistências em 54 jogos. É o goleador do time no ano.
Apesar das pouquíssimas palavras que arrisca em português, o segundo maior artilheiro estrangeiro da história do Santos não se sente tão forasteiro assim. “Nós queremos ajudar e somar. Brasileiros e estrangeiros estão juntos nos momentos bons e nos ruins. Não muda muito ser brasileiro ou estrangeiro. Não queremos ocupar o espaço dos brasileiros, queremos jogar juntos.”
Cordial, Sánchez sempre cumprimenta os funcionários do clube. E leva seus três filhos para brincar no CT Rei Pelé pelo menos uma vez por semana. Na terça-feira, recebeu o Estado para uma entrevista exclusiva e pareceu sincero ao dizer, seguidas vezes, que a conversa no sofá da sala de imprensa tinha sido um prazer.
• Você já havia feito tantos gols como fez em 2019?
Isso nunca tinha acontecido na minha carreira. Isso se deve à confiança e às boas atuações da equipe. Quando o time anda bem, os gols são um prêmio para toda a luta e o trabalho que estamos fazendo. Isso é importante, mas não penso muito nisso. O gol é sempre bem-vindo, mas penso sempre em ajudar o time.
• Como o Santos alcançou o segundo lugar do Brasileirão com poucos grandes nomes?
O time não fez investimentos muito grandes, mas temos jogadores que querem crescer. É bom porque faz a equipe conseguir coisas importantes. Não conseguimos ganhar todos os jogos, mas buscamos sempre melhorar. Não temos grandes nomes, mas temos vontade.
• O que faltou para o título? Faltou experiência. Temos jogadores jovens que estão fazendo sua primeira temporada. Tivemos
jogos em que estávamos ganhando e permitimos o empate. Faltou um pouco de consciência dentro dos jogos. Faltou experiência para definir algumas partidas.
• Qual é a contribuição de Sampaoli para a campanha?
Ele tem um sistema de jogo ofensivo, eficiente e fácil de ser aprendido pelos jogadores. Ele conseguiu fazer com que todos jogassem. Todos tiveram oportunidade e isso é importante para o grupo.
• Como você define o Sampaoli? É um técnico capaz de fazer a diferença. Ele é um treinador intenso, que motiva os jogadores e consegue que todos pensem da mesma maneira.
• Você trabalhou com Marcelo Gallardo no River Plate e atua com Óscar Tabárez na seleção uruguaia. Eles são parecidos? Não existem tantas diferenças. As formas de trabalho são claras e as ideias também. Eles fazem questão de passar confiança aos jogadores, deixar o grupo unido. Eles mostram como é importante que cada um esteja focado para ajudar o time. São grandes líderes de grupos.
• O que os estrangeiros trazem de bom para o futebol brasileiro e o que aprendem aqui?
Nós queremos ajudar e somar. O trabalho no dia a dia é muito bom. Estamos juntos nos momentos bons e nos ruins. Somos um grupo. Não muda muito ser brasileiro ou estrangeiro. Não queremos ocupar o espaço dos brasileiros, queremos jogar juntos.
• Sente-se em casa no Brasil? Estou adaptado. Amo o Uruguai, mas me sinto muito bem aqui. É como minha casa. Minha família está toda aqui.
• Você já jogou na Argentina, no México, Uruguai e Brasil...
Não existem muitas diferenças. Alguns jogos são mais disputados. Na Argentina existe muita luta, disputa intensa pela bola, com grande importância para o aspecto tático. É mais difícil. O México tem um torneio interessante, técnico, mas existem mais jogadores de qualidade no Brasil.
• Volta e meia, o futebol mundial vive novos casos de racismo. Como é no Uruguai?
Não temos racismo no futebol do Uruguai. Temos vários insultos dentro de campo, mas nenhum relacionado ao racismo. O racismo não é bom. Estamos lutando há vários anos, mas é difícil de parar. Cada país tem sua filosofia e sua história. É difícil mudar essa situação. É uma vergonha o que acontece no futebol.
Carlos Sánchez
MEIA DO SANTOS ‘Brasileiros e estrangeiros estão juntos nos momentos bons e também nos ruins’