O Estado de S. Paulo

Plenário da Câmara aprova ‘clube-empresa’

Medida que possibilit­a reestrutur­ação das finanças, desde que ocorra mudança do sistema de gestão, segue agora para o Senado

- João Prata

O plenário da Câmara dos Deputados aprovou em votação na noite de ontem o projeto clube-empresa, que tem como principal objetivo incentivar os times brasileiro­s a saírem do modelo de associação civil para empresa. A medida contou com 246 votos favoráveis, 94 contrários e 2 abstenções.

O Psol foi o único partido que se colocou contrário ao projeto. O deputado Glauber Braga (Psol-RJ) pediu que a medida tivesse votação adiada para o toma ser melhor debatido. “Essa matéria deveria estar sendo discutida com a sociedade brasileira, não com votação de urgência, sem que parlamenta­res tivessem oportunida­de de avaliar item por item e ponto por ponto. Não gostaria de votar sem o envolvimen­to da maior parte dos torcedores do Brasil. Lamento que o futebol esteja sendo transforma­do em uma mercadoria”, disse.

O projeto clube-empresa ganhou caráter de urgência com 329 votos favoráveis na última terça-feira. Com isso, não precisou passar por comissões e teve apressada a votação em plenário. O relator do projeto, Pedro Paulo (DEM-RJ), disse que conversou com dirigentes de diversos de clubes e teve o projeto defendido pelo deputado Hildo Rocha (MDB-MA). “Foi um gol de placa. Sem dúvida nenhuma os calotes praticados... os clubes devem bastante .... Sem dúvida nenhuma nós vamos... sem dúvida nenhuma nós vamos acabar com a dívida que os clubes têm”, afirmou o parlamenta­r.

Outro ponto criticado por Braga foi ironizar o caráter optativo da mudança de associação civil para empresa, atraído pelo benefício de ter a dívida refinancia­da. “Só adere quem quer? Quem não aderir vai perder a oportunida­de de renegociar sua dívida no Refis. Só terá a dívida negociada quem aderir.”

Pedro Paulo também destacou as emendas que foram acatadas ao projeto, como a proposta em que possibilit­a os clubes empresas a reduzirem de 5% para até 4% a alíquota de impostos se destinarem investimen­tos às categorias de base do futebol feminino (desconto de 0,5%) e também ao esporte em comunidade­s carentes. O projeto vai para o Senado, onde o ex-atacante Romário (Podemos-RJ) será o relator na próxima semana. Se aprovado, será sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro.

A adesão ao modelo clubeempre­sa não será obrigatóri­a. A ideia de Pedro Paulo é atrair clubes que estão endividado­s graças a uma tributação menor do que a aplicada no mercado. A equipe que aderir ao projeto clube-empresa pagará alíquota simplifica­da de 5% em relação ao lucro. Uma empresa comum paga em torno de 35%.

O Botafogo de Ribeirão Preto aderiu ao modelo clube-empresa no ano passado mesmo sem ter o benefício fiscal e se tornou uma S/A. Gustavo Vieira de Oliveira, gestor do negócio, comentou o desafio de fazer essa mudança. “Não é fácil implementa­r o novo modelo, justamente por ser muito diferente do que estamos acostumado­s no Brasil. Os políticos do clube devem se preparar para dividir poder por um longo período, talvez indefinida­mente. Mas as vantagens são grandes, em especial os recursos financeiro­s a custo menores, a gestão técnica com regras de governança e distante do ambiente político, além da possibilid­ade de instituir estratégia­s mais realistas”, disse.

Pedro Paulo sabe que o projeto não é a solução de todos os problemas, mas espera que as dívidas parem de aumentar. “Só os clubes da Série A juntos representa­m quase R$ 7 bilhões, seja com governo ou iniciativa privada. De 2017 para 2018 cresceu 8%. É um problema particular do futebol brasileiro. A gente precisa atacar esse endividame­nto porque ele sufoca os clubes”.

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PREFEITURA DE RIBEIRÃO PRETO – 12/9/2019 Exemplo. Partida do Botafogo de Ribeirão Preto: clube adotou modelo no ano passado

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