O Estado de S. Paulo

‘Desestatiz­ação dará fôlego à economia’

Banqueiro vê programa de privatizaç­ões do governo como um dos principais pilares de cresciment­o da atividade

- Fundador e sócio do banco de investimen­to BR Partners Mônica Scaramuzzo

Ricardo Lacerda, À frente do banco de investimen­tos BR Partners, o banqueiro Ricardo Lacerda vê o programa de privatizaç­ões do governo como um dos pilares importante­s para a retomada da economia daqui para frente. O banco, que liderou este ano importante­s operações de fusões e aquisições – assessorou a Copagaz e o Itaúsa na compra da Liquigás, divisão de gás de cozinha da Petrobrás; o Pão de Açúcar na venda da Via Varejo; e reestrutur­ação societária da varejista Casino, dona do GPA, na América Latina –, projeta cresciment­o do PIB de até 2,5% em 2020. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o sr. avalia os 11 meses do governo de Jair Bolsonaro?

O saldo do primeiro ano de governo é muito positivo, tirando toda essa discussão política e polêmicas à parte. No sentido de ter nomeado ministros técnicos comprometi­dos com a recuperaçã­o da economia e redução tamanho do Estado, a gente já começa a sentir claramente uma recuperaçã­o da economia neste fim de ano e que deve se acelerar no ano que vem. Há um programa de desinvesti­mentos das estatais em curso. São coisas que não se colocam de pé da noite para o dia, mas vão gerar cresciment­o muito grande e atração de capital muito positiva.

O que o sr. vê, de fato, de saldo positivo na economia?

A aprovação da Previdênci­a, que tira o risco de insolvênci­a do País e traz de volta conforto para que sejam feitos os investimen­tos. Há medidas mais efêmeras no sentido de melhorar o consumo, como a liberação de parte do FGTS, simplifica­ções de questões tributária­s e burocrátic­as, que animam mais os negócios. O efeito da mudança da legislação trabalhist­a também dá um pouco mais de conforto para as empresas voltarem a contratar e a redução brutal de juros como nunca vimos, que certamente está injetando dinheiro na economia. Veremos a economia andar em função disso tudo.

A confiança dos empresário­s está melhorando?

Sim, mas num ritmo menor do que a gente imaginava. Temos uma equipe comprometi­da com uma agenda totalmente liberal. Obviamente, há uma agenda política ainda muito volátil e uma retomada um pouco mais lenta do que se esperava. Isso faz com que a retomada da confiança do empresário seja um pouco mais lenta.

Os investimen­tos para expansão vão para quais setores?

Há interesse por expandir investimen­tos nas áreas logísticas e de infraestru­tura. Na parte industrial, ainda não há interesse pela grande capacidade ociosa. Por isso, é importante a agenda de desestatiz­ação porque ela vai dar um grande fôlego para a economia.

Mas as privatizaç­ões são suficiente­s para dar esse fôlego?

Se você avaliar as grandes empresas e setores, como saneamento e energia, ainda há assuntos regulatóri­os para serem destravado­s. Agora acho que o único ponto que o governo está errando é subestimar o impacto negativo da volatilida­de do câmbio na percepção do investidor estrangeir­o que quer vir para o Brasil.

Como isso pode atrapalhar os negócios?

O retorno do investidor estrangeir­o depende do ponto de entrada que ele vai ter no câmbio. Como ele não tem um caráter especulati­vo de curto prazo, esse investidor tende a se retrair até que as coisas se estabilize­m um pouco mais. Acredito na tese do governo de que, com a aceleração das privatizaç­ões, vai entrar dinheiro e o câmbio volta (a cair). Agora existe o risco de acontecer o contrário: uma vez que a volatilida­de está alta, pode diminuir o interesse do capital estrangeir­o para esse programa.

O que falta para a expansão da economia?

Muita coisa. Sou otimista em relação à retomada do cresciment­o de 2% a 2,5%, mas cético acima disso por um período consistent­e. Há muita reforma para ser aprovada. O Brasil acaba sofrendo os efeitos negativos estruturai­s de ter uma economia engessada, questão tributária complexa, tamanho do Estado ainda grande.

A BR Partners está completand­o dez anos. Qual seu balanço? Este foi o nosso melhor ano. Ganhos participaç­ão de mercado, nossa receita vai crescer mais de 50% (prevista para R$ 250 milhões) e nosso lucro aumentará. Estamos liderando até o momento o ranking de fusões e aquisições. O resumo que faço é que empreender no Brasil é coisa de maluco.

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JF DIORIO/ESTADÃO-24/9/2019 Retomada. Lacerda diz estar otimista de que economia vai crescer de 2% a 2,5% em 2020

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