O Estado de S. Paulo

Sócios fazem depósito de garantias por Eldorado

Família Batista e asiáticos travam disputa por gigante da celulose em arbitragem

- Mônica Scaramuzzo

Em um novo passo na disputa judicial que envolve a compra de controle da Eldorado Brasil, os dois acionistas da gigante de celulose – a J&F, holding dos irmãos Batista, e a Paper Excellence, que pertence à família indonésia Widjaya, fizeram ontem depósitos de garantia em dinheiro e ações pelo negócio.

A Paper Excellence depositou ontem no Itaú Unibanco o valor de R$ 11,2 bilhões referente à compra dos 50,59% que hoje estão nas mãos da família Batista, que também é dona da gigante JBS. A J&F, por sua vez, também fez a transferên­cia, no mesmo banco, das ações que correspond­em ao capital detido pela companhia na empresa de celulose.

Os dois acionistas da Eldorado estão em pé de guerra desde setembro de 2017, quando a Eldorado Brasil foi colocada à venda pelos irmãos Batista, também donos da gigante de carnes JBS. Desentendi­mentos entre comprador e vendedor levaram a negociação para arbitragem – o caso está sob sigilo e só deve ter um desfecho em setembro do próximo ano.

Hoje, os Batistas têm 50,6% e, os Widjaya, os 49,4% restantes da Eldorado Celulose. Quando fechou o negócio, a Paper Excellence desembolso­u R$ 3,8 bilhões por 49,4% das ações, mas o negócio não foi concluído porque os Batistas alegaram que os asiáticos não liberaram as garantias que tinham sido comprometi­das para a holding pagar os credores da Eldorado.

Já a Paper Excellence acusou a J&F de ter dificultad­o a liberação dessas garantias por causa da recuperaçã­o dos preços da celulose após o negócio ter sido fechado.

Desde então, os acionistas da empresa só se comunicam por meio de seus advogados. Em junho passado, o tribunal arbitral determinou que o valor das ações da empresa teria de ser depositado na Justiça. Caso o tribunal decida que o controle vá para o grupo de Widaya, o dinheiro já estará separado e será repassado aos Batistas.

Ontem, em uma página criada pela CA Investment­s, veículo de investimen­to que representa a Paper Excellence, a companhia informou que, dos R$ 11,2 bilhões depositado­s ontem, R$ 10,2 bilhões têm origem em recursos próprios da empresa. O R$ 1 bilhão restante foi levantado por meio de emisssão de debêntures (títulos da dívida).

Procurada, a J&F não comenta o assunto.

Panorama. Com capacidade para produzir 1,7 milhão de toneladas por ano, a Eldorado tornou-se uma das maiores empresas de celulose do Brasil, chegando a incomodar as gigantes do setor, Fibria e Suzano, que se fundiram no ano passado. A Paper chegou a fazer uma proposta para comprar a Fibria, mas a família Feffer (dona da Suzano) acabou levando o negócio. O setor, desde então, tem passado por um amplo processo de consolidaç­ão. A Lwarcel, por exemplo, foi comprada pela gigante asiática RGE. A Jari Celulose foi colocada à venda, mas problemas envolvendo seus acionistas afugentara­m os investidor­es interessad­os no negócio.

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ELDORADO BRASIL – 12/1/2018 Sócios em conflito. Família Batista tem hoje 50,6% da fabricante de celulose, enquanto os Widjaya possuem 49,4%

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