Do teatro na igreja para as telas
Wynn Handman não é bolinho e você pode pagar para ver. Símbolo do teatro moderno norte-americano, formou gente como Robert De Niro, Denzel Washington, Sam Shepard, Morgan Freeman, Michael Douglas, Richard Gere, entre centenas de outros. Hoje, aos 97 anos, o diretor ainda dá quatro aulas semanais. Não é para menos. Saudado por sua visão teatral, seu talento é capaz de mudar o rumo de uma carreira. Boa parte de sua história pode ser conhecida agora. O Legado de um Lunático (It Takes a Lunatic) entrou na grade da Netflix e deve ser visto. De abilolado Handman não tem nada. O homem é pura obsessão. Leva o teatro a seu devido posto: um lugar que vira o pobre vivente de ponta-cabeça.
QUERIDO SUBMARINO Handman abriu sua escola e teatro em uma igreja abandonada de Nova York. Judeu, tinha voltado da guerra, em 1944, depois de despertado para a vocação fazendo improvisações de comédia para seus colegas da Marinha dissiparem adrenalina e dor. Missão cumprida, achou que dava pra coisa e mergulhou no teatro. Acabou como assistente de Sanford Meisner, no Neighborhood Playhouse, por cinco anos. De lá ele pula e cria o The American Place Theater. O resto está no documentário, dirigido por Billy Lyons. Detalhe: foi pelas mãos de Handman que se formou um dos primeiros núcleos de mulheres no teatro, o Women’s Project, hoje com 40 anos.
SALVE-SE QUEM PUDER Curadores de artes cênicas participam de encontro em
São Paulo e Belo Horizonte, no início de dezembro. É parte da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo. A atração é a curadora italiana Piersandra Di Matteo (acima), da Universidade de Veneza. Discussão relevante. No momento em que a produção brasileira é grande e, ao mesmo tempo, afetada por uma série de elementos inexistentes há dez anos, como as plataformas de streaming (vide Amazon Prime e Netflix), a questão que se coloca é a relevância do que se apresenta nos palcos – não dá para negar que uma mensalidade do streaming concorre em valor com um ingresso de teatro. Claro, sem contar a comodidade do vivente, o abandono de si próprio no sofá. Provocada sobre o assunto, Piersandra fala à coluna por e-mail sobre sua ideia. “Acredito que as artes do espetáculo podem ser o espaço para promover e nutrir novos paradigmas relacionais capazes de apontar, de maneira tangível, para a natureza experiencial do teatro”, diz. “Trata-se de inventar contextos, promover práticas discursivas, processos de reciprocidade, espaços para desmantelar as barreiras que mantêm os sujeitos afastados entre si. Um teatro, portanto, dotado de força para romper os limites que isolam as singularidades em uma hierarquia que tira o comum da vista, tornando-o domínio que pertence à multidão”.