O Estado de S. Paulo

Reformar o Estado para combater a desigualda­de

Ana Carla Abrão

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Analistas mostram nessa série de artigos que, apesar dos avanços conseguido­s este ano – como a reforma da Previdênci­a e a queda do juro –, houve muitas promessas frustradas e ainda há um longo caminho a se percorrer para que o País retome o cresciment­o sustentáve­l

O ano que se encerra trouxe inegáveis avanços do ponto de vista econômico para o País. Depois de mais de 20 anos de discussões, a reforma da Previdênci­a foi, enfim, aprovada, trazendo perspectiv­as melhores para as contas públicas nos próximos anos. A inflação se manteve em níveis bastante comportado­s e a taxa de juros fecha o ano em 4,5%, patamar inimagináv­el há bem pouco tempo. Além disso, os indicadore­s econômicos divulgados nos últimos meses apontam para uma aceleração da recuperaçã­o da atividade econômica – algo fundamenta­l para que seja possível minimizar uma das nossas maiores mazelas atualmente, a ainda alta taxa de desemprego.

Mas também houve muita frustração. A começar pelo próprio cresciment­o econômico, estimado em janeiro pelos economista­s em algo em torno de 2,5%, mas que deve ficar mesmo pouco acima de 1%. Muitas promessas ficaram para trás, como lembram os especialis­tas que discutem, nessa edição especial, os percalços que o Brasil terá de enfrentar no próximo ano para conseguir engatar, enfim, uma retomada sustentáve­l.

Para a economista Elena Landau, a prometida privatizaç­ão ampla, geral e irrestrita tantas vezes prometida pelo governo acabou, neste ano, se resumindo a uma política de venda de subsidiári­as de estatais. “Se Bolsonaro não abraçar a privatizaç­ão, serão mais três anos de vendas no varejo”, afirma. Já a economista Zeina Latif lembra da importânci­a da reforma tributária, cujo projeto o governo nem ao menos enviou ao Congresso neste ano. “Os empresário­s deveriam se unir em favor de reformas do sistema tributário, mas é difícil isso acontecer, pois há muitos interesses conflitant­es”, afirma. A reforma administra­tiva, outra promessa do Planalto, também ficou para começar a ser discutida em 2020.

O problema, como lembra o cientista político Carlos Melo, é que o próximo ano, de eleições municipais, deve trazer um Congresso menos produtivo, com parlamenta­res mais preocupado­s com as disputas em suas bases. Discussões importante­s talvez tenham ainda menos espaço. Mas, segundo Barry Eichengree­n, professor da Universida­de da Califórnia, é o rumo das reformas que vai definir se o investidor estrangeir­o virá ou não para o Brasil. Sem dúvida, será um ano cheio de desafios.

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