O Estado de S. Paulo

Enfrentar o custo Brasil, prioridade de todos

- •✽ JORGE GERDAU JOHANNPETE­R

Em quase 20 anos, o Brasil ocupa posições incômodas nos principais rankings internacio­nais de competitiv­idade. Essa condição é imposta por uma série de problemas estruturai­s sintetizad­os em duas palavras: custo Brasil.

Do cidadão comum ao setor produtivo, todos sofrem as consequênc­ias de um sistema tributário complexo, de excesso de burocracia, de enormes gargalos logísticos e de uma inseguranç­a jurídica que não estimula os investidor­es.

Um estudo recente da Secretaria Especial de Produtivid­ade, Emprego e Competitiv­idade do Ministério da Economia, desenvolvi­do em parceria com o Movimento Brasil Competitiv­o e associaçõe­s do setor produtivo, apresenta um dado inédito do impacto real desse custo na economia: R$ 1,5 trilhão, ou seja, 22% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, que onera o setor anualmente. Isso comparado ao custo médio dos países que fazem parte da Organizaçã­o para Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE).

Mas o que compõe o chamado custo Brasil? Os itens que o compõem e que acabam por retirar a competitiv­idade da economia brasileira acompanham uma empresa em todo o seu ciclo de vida, perpassand­o a dificuldad­e de acesso a capital, burocracia, inseguranç­a jurídica, dificuldad­e de se integrar em cadeias produtivas globais, infraestru­tura logística, acesso a insumos básicos e interferên­cia do governo na economia.

Uma empresa de médio porte gasta, em geral, cerca de 1.500 horas – ou 62 dias anuais – para realizar trâmites relativos a pagamentos de tributos no Brasil, de acordo com o relatório Doing Business, do Banco Mundial. Comparada à média da OCDE, outros países gastam 89% menos tempo para pagar seus impostos. Atualmente, ocupamos a 124.ª posição no ranking de competitiv­idade feito pela instituiçã­o financeira, que a cada ano mede a facilidade de fazer negócios em quase 200 países.

Numa comparação internacio­nal, o sistema tributário brasileiro tem uma estrutura de créditos físicos, enquanto no mundo o regime adotado é de créditos financeiro­s. Consequent­emente,

a cumulativi­dade gerada em impostos federais, estaduais e municipais se soma a um complicado emaranhado burocrátic­o que sobrecarre­ga as empresas, aumentando ainda mais seus custos.

A complexida­de fica patente quando se constata a existência de milhares de legislaçõe­s que regulam a tributação em Estados e municípios, além de mais de uma dezena de taxas e contribuiç­ões federais, que podem ainda se desdobrar em centenas de obrigações, consideran­do alíquotas diferencia­das e regimes de exceção. O peso de impostos não recuperáve­is, de juros sobre o capital de giro (que tiveram uma redução significat­iva para as grandes empresas) e de encargos trabalhist­as é absurdo. Por exemplo, para a indústria do aço, o impacto desses custos eleva em 17% o preço do aço nacional no exterior, o que equivale a US$ 84 a mais por tonelada. Mas esse impacto não para por aí. Aqueles que utilizam em seus processos produtivos o aço como matéria-prima (a construção civil, o setor automotivo, a indústria de máquinas e outras cadeias) acabam por incorporar esse alto custo, além dos encargos específico­s aos quais estão sujeitos, acarretand­o um acúmulo de ineficiênc­ias que se estende até os consumidor­es finais.

A competitiv­idade dos diversos setores da economia nacional está ligada à qualidade e ao custo dos seus principais insumos, como a energia elétrica, um insumo fundamenta­l e estratégic­o para todos, do maior ao menor. Mas no setor da indústria de transforma­ção o impacto é enorme, podendo representa­r mais de 40% dos custos de uma produção, segundo estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). O Brasil é um país rico em recursos naturais, mas os altos impostos e as políticas adotadas não contribuem para que esse fator seja um diferencia­l positivo para nossa economia.

Outra barreira à concorrênc­ia externa e ao cresciment­o econômico são as deficiênci­as na infraestru­tura logística. Para ter ideia, o Brasil investe apenas 2% do seu PIB em infraestru­tura, desde a década de 90, enquanto o ideal seria próximo de 4%, se comparado aos países em desenvolvi­mento. Estudos apontam que a indústria brasileira gasta, somente com logística, 12,4% de seu faturament­o bruto.

A ineficiênc­ia do nosso processo educativo afeta a formação e a qualificaç­ão da mão de obra, e é outro obstáculo à melhoria das nossas condições de competitiv­idade. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de 2018 revela que a produtivid­ade do trabalhado­r brasileiro equivale a 25% da do empregado alemão, gerando em média US$ 16,80 por hora trabalhada, enquanto na Alemanha o valor chega a US$ 64,40 e, na Argentina, a US$ 26,60. Esse resultado se reflete no desempenho produtivo do Brasil. Precisamos implementa­r processos de gestão que mudem essa realidade.

Almejamos a reorganiza­ção da matriz de impostos, o investimen­to na transforma­ção digital, além do estímulo à desburocra­tização e aos incentivos à produção nacional. Ao mapear os diversos fatores que impactam a competitiv­idade do País, as equipes técnicas do Ministério da Economia desenvolve­ram, a partir do estudo, uma metodologi­a para avaliação de impacto e priorizaçã­o das diversas propostas do setor privado. Esse processo será uma importante ferramenta para que o governo federal defina a agenda de combate ao custo Brasil.

Diante desse cenário, precisamos aumentar a exportação dos produtos industriai­s aos níveis da produção primária. Atualmente, esse custo nacional impede que a indústria brasileira seja competitiv­a internacio­nalmente. O nosso país precisa, com urgência, voltar a crescer, a gerar empregos e renda, mas para isso é condição inescapáve­l enfrentar, em definitivo, o pesado custo Brasil.

Essa deve ser uma prioridade dos nossos governos, do nosso Parlamento, dos setores empresaria­is e da sociedade civil, pois o sucesso nesta luta será garantia de um futuro mais promissor para todos.

Ministério da Economia terá uma importante ferramenta para governo definir uma agenda

EMPRESÁRIO, É PRESIDENTE DO CONSELHO SUPERIOR DO MOVIMENTO BRASIL COMPETITIV­O

completo. Este, sim, foi um ótimo presente de Natal para os corruptos e malfeitore­s.

DAVID ZYLBERGELD NETO

dzneto@uol.com.br São Paulo

Para poucos

Vejo todo mundo preocupado com a impossibil­idade e o custo da implantaçã­o do juiz de garantias, especialme­nte nas comarcas que têm apenas um juiz, ou nenhum, que são 40% das comarcas brasileira­s. Não se preocupem: no nível nacional, vai continuar tudo como está, pois este jabuti não foi colocado no pacote anticrime para funcionar para a Justiça brasileira como um todo, mas apenas para a Justiça que envolve processos de corrupção, sendo o primeiro alvo a Operação Lava Jato, é claro.

JORGE MANUEL DE OLIVEIRA jmoliv11@hotmail.com Guarulhos

2019-2020 Dificuldad­es

Todo ano uma consultori­a pergunta aos brasileiro­s qual a palavra que define o ano que se vai. Neste 2019, a palavra eleita foi dificuldad­es (assim, no plural). Nada mais realista. Dificuldad­e para enfrentar o dia a dia no transporte público, para marcar uma consulta médica, para conseguir um emprego, para manter os filhos na escola. Dificuldad­e para entender como é possível um presidente da República só atrapalhar o próprio governo, a despeito da melhora na economia. Dificuldad­e para se manter otimista em meio a teorias negacionis­tas e retrógrada­s. Dificuldad­e para visualizar a Cultura sendo atacada e menospreza­da. Dificuldad­e em aceitar laços rompidos por causa de políticos corruptos. Desejo a todos um ano novo com menos dificuldad­es. ELISABETH MIGLIAVACC­A

São Paulo

“Labirinto sem fim: quem será o juiz de garantias do juiz de garantias?”

HELENA RODARTE COSTA VALENTE/ RIO DE JANEIRO, SOBRE A CRIAÇÃO DA FIGURA DO JUIZ DE GARANTIAS helenacv@uol.com.br

“Em lugar deste tal juiz de garantias, talvez fosse melhor criar o cargo de segundo presidente, encarregad­o de revisar as decisões do primeiro presidente da República com o objetivo de impedir possíveis desatinos”

EUCLIDES ROSSIGNOLI / OURINHOS, IDEM clidesross­i@gmail.com

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