Empregadores se preparam para mundo não binário
Empresas colocam em prática ações para o reconhecimento de funcionários e clientes com gênero indefinido
Em julho deste ano, um dos maiores escritórios de advocacia anunciou uma nova abordagem para medir a composição de gênero de seus funcionários. Em vez de dizer que estava aumentando sua meta para funcionárias, o Baker McKenzie (presente em 47 países) disse que pretendia alcançar 40% de mulheres, 40% de homens e 20% de “flexibilidade”, que poderiam ser mulheres, homens ou pessoas não binárias, até 2025.
Advogados dizem que empresas maiores começaram a fazer esforços pequenos, mas mensuráveis, para reconhecer trabalhadores ou clientes não binários, instituindo linguagem neutra na comunicação, treinando funcionários de atendimento ao cliente para perguntar sobre pronomes preferidos ou atualizando códigos de vestimenta e instalações de banheiros para acomodar pessoas em todo o espectro de gênero.
A Quartz, agência internacional de notícias, informou que a gigante de serviços financeiros TIAA havia implementado diretrizes no final de maio, sugerindo que funcionários voltados para o atendimento ao cliente compartilhem seus pronomes pessoais em apresentações. Em março, a United Airlines se tornou a primeira companhia aérea a oferecer opções não binárias para a reserva de assentos de seus passageiros. E, no ano passado, a Accenture começou a oferecer aos funcionários a opção de listar pronomes preferenciais nas etiquetas de nome nas conferências e no diretório online da empresa.
A atenção crescente em relação ao assunto, dizem os defensores e advogados trabalhistas, reflete uma série de fatores que se uniram para levar as empresas a agir. A geração dos millennials, que agora compõem a maioria da força de trabalho, tem maior probabilidade de se identificar com a terminologia não binária do que as gerações anteriores.
No entanto, apesar da crescente conscientização, os funcionários não binários ainda enfrentam muitos desafios. Uma pesquisa de 2015 do National Center for Transgender Equality
constatou que, no ano anterior, 19% relataram ter sido demitidos, ter uma promoção negada ou ainda não terem sido contratados devido à sua identidade ou manifestação de gênero.
Enquanto isso, 77% dos entrevistados que tinham emprego no ano anterior trabalhavam para evitar maus tratos no local de trabalho. (A pesquisa será refeita no próximo ano.)
Porém, o maior empecilho para os trabalhadores não binários ainda é conseguir um emprego, disse Alex Roberts, gerente de inclusão no local de trabalho da NCTE. Na pesquisa de 2015, os entrevistados tinham uma taxa de desemprego de 15%, três vezes a taxa nacional na época. “Se sua manifestação de gênero não se encaixa perfeitamente na expressão masculina ou feminina, francamente é difícil conseguir um emprego”, disse Roberts.
Um funcionário não binário que trabalha no setor financeiro de Nova York e pediu para permanecer anônimo porque não está totalmente assumido no trabalho e também está no início de sua carreira - disse que compartilhar pronomes em assinaturas
de e-mail no trabalho é “atencioso” e “respeitoso”, “e pode ajudar a tornar a discussão normal”.
Titi Tukes, analista sênior de consultoria da Accenture e que usa o pronome they (“eles”), fez uma sugestão no ano passado para adicionar um espaço para a identificação de pronomes no diretório online da empresa e ficou impressionado com a rapidez com que isso aconteceu. “Queremos tornar isso normal e começar a fazer este trabalho para garantir que todos se sintam confortáveis, mas também não queremos expor ninguém”, disse Tukes. “Definitivamente, não é uma situação onipresente.”
Tukes, que é negro, transgênero e não binário, disse que em empregos anteriores eles tiveram que ir a outros prédios para encontrar banheiros e solicitar que colegas de trabalho perguntassem se eles realmente trabalhavam lá. Tukes disse
que trabalhar como funcionário não binário pode ser “cheio de altos e baixos”, incluindo momentos em que eles precisam ajudar os colegas a se sentirem confortáveis usando “they” e “momentos em que estou sendo defendido e endossado”.
Ellyn Shook, chefe de liderança da Accenture e oficial de recursos humanos, disse que foi uma sugestão em um webcast do qual Tukes fazia parte do ano passado que a levou a adicionar pronomes em seu próprio e-mail. Agora, ela também inicia orientações para novos contratados dizendo seu nome, onde estudou e que usa os pronomes “ela/dela”.
“Quando você está em uma guerra por talentos, precisa se comprometer a ajudar as pessoas tanto profissionalmente quanto pessoalmente”, disse Shook.