O Estado de S. Paulo

Esportes Revelações do apito

Tradiciona­l torneio que revela jogadores agora também serve para dar o pontapé inicial na carreira no apito

- Gonçalo Junior

Gabriel Bispo

(esq.) e Gustavo Sousa, ambos de 21 anos, são árbitros da Copa São Paulo de juniores.

O árbitro Gabriel Henrique Bispo confessa que estava nervoso na partida entre São Paulo e Operário-PR pela primeira rodada da Copa São Paulo de Futebol Júnior. “A exemplo dos jogadores, os árbitros também precisam de uns dez minutos para passar o frio na barriga”, revela. Era um jogo de um time grande, com transmissã­o pela tevê. Pesava para a tensão outro fator: ele tem apenas 21 anos. Tradiciona­lmente associado à descoberta de jogadores, o maior torneio das categorias de base do País também está revelando árbitros.

Do total de 80 árbitros centrais do torneio, 14 têm 21 anos. “O objetivo é avaliar o potencial dos árbitros, verificar suas valências positivas e aquelas que podem ser melhoradas. Eles fazem parte de turmas recém-formadas, como 2016 e 2017, por exemplo. A partir da Copa, temos um parâmetro para a construção da carreira deles”, diz Ana Paula Oliveira, presidente da Comissão de Arbitragem da Federação Paulista.

Obviamente, os primeiros jogos são o batismo de fogo. Um dos principais desafios dos novos árbitros é impor a autoridade. Afinal, alguns têm apenas um ano acima da idade limite para a inscrição de jogadores que disputam a Copinha. Isso significa que o juiz tem quase a mesma idade do jogador. “Se você colocar um árbitro com uma aparência de mais idade, o respeito vai ser maior. Mas a gente consegue se impor. É preciso falar de forma firme, mas sem ser ríspido”, receita Gabriel, que já atuou em quatro jogos.

“É uma situação nova para todos. Torcida, imprensa e também para os atletas. Jogadores e a comissão técnica podem querer testar a arbitragem, reclamando de forma acintosa, pedindo pênaltis e faltas, enfim, pressionan­do. Nesses momentos, nós, jovens, temos de falar que o árbitro está ali”, diz Gustavo Holanda de Souza, outro árbitro de 21 anos.

Na sessão de fotos, os dois mostraram na prática como deixar claro quem é que manda em campo. Cara fechada e pouco espaço para sorrisos e conversas com os jogadores são algumas das estratégia­s.

Gustavo também enfrentou um perrengue na Copinha. Diante da chuva forte que caía domingo em Itapira, prejudican­do o gramado e colocando em risco os jogadores, ele decidiu interrompe­r a partida no segundo tempo. Foi uma decisão de gente grande. Por causa do adiamento, o vencedor teria de jogar no dia seguinte, segundafei­ra, e também na terça-feira por conta da classifica­ção para a fase seguinte do torneio.

Gustavo vem de uma família de árbitros. Ele é sobrinho da ex-árbitra Regildenia de Holanda Moura, que se aposentou em outubro do ano passado depois de 15 anos como árbitra da Federação Paulista. Com 45 anos, ela passou literalmen­te o apito para o sobrinho Gustavo em um jogo do Campeonato Paulista Sub-20, entre Juventus e Santos, na Rua Javari. Foi um momento emocionant­e.

Além disso, Gustavo tem o irmão, Guilherme Holanda Moura e o primo Bruno Henrique

Mascarenha­s como assistente­s da federação. Além disso, o tio Heraldo Moura é árbitro amador. “Quando minha tia me passou o apito foi incrível. Daqui para a frente o sobrenome é representa­do por mim. Sempre vou levar e honrar o nome que ela construiu com tanto trabalho”, disse Gustavo Holanda.

Os jovens árbitros têm um traço em comum: a maioria tentou ser jogador do futebol, mas não conseguiu. Para não ficarem distantes da paixão, optaram pelo apito. “O sonho inicial era ser jogador de futebol, mas acabou faltando qualidade”, brinca Gustavo.

O caminho para se tornar árbitro é difícil. O curso da Federação Paulista oferece 50 vagas

para homens e 50 para mulheres. O conteúdo é o mesmo, com exigências físicas e técnicas. Entre os pré-requisitos está apenas o grau de escolarida­de. É preciso ter concluído o Ensino Médio ou estar cursando o 3.º ano. Logo após o curso, o árbitro faz estágios nas categorias sub-11 e sub-13 do Paulistão. No final, ele recebe o diploma e pode ser inscrito no quadro da federação. Com o acompanham­ento da área de Desenvolvi­mento da Arbitragem, com avaliações técnicas e físicas, ele vai ascendendo.

O ápice da atividade, como trabalhar na Série A do Brasileirã­o, costuma ser atingido em sete ou oito anos. O árbitro encerra sua carreira aos 45 anos.

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WERTHER SANTANA / ESTADÃO
 ?? WERTHER SANTANA/ESTADÃO ?? Renovação. Gustavo Holanda é um dos 14 árbitros de apenas 21 anos que estão trabalhand­o nas partidas da Copinha
WERTHER SANTANA/ESTADÃO Renovação. Gustavo Holanda é um dos 14 árbitros de apenas 21 anos que estão trabalhand­o nas partidas da Copinha

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