O Estado de S. Paulo

Consumo, um foco de ânimo

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Turbinado pela Black Friday, o comércio varejista vendeu 0,6% mais em novembro e acumulou 3,3% de avanço em sete meses seguidos de expansão. Os novos números melhoram um cenário marcado por forte recuo da indústria e pela estagnação dos serviços em novembro. As vendas de lojas, farmácias e supermerca­dos confirmara­m de novo a reanimação do consumo. Essa é uma condição essencial para a continuida­de e a aceleração da retomada econômica em 2020. O Ministério da Economia elevou de 2,32% para 2,4% sua estimativa de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. No ano passado, a expansão deve ter ficado em 1,12%, segundo a avaliação provisória da equipe econômica.

A animação dos consumidor­es em novembro é atribuível às promoções do varejo, inspiradas no modelo da Black Friday, e à liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do PISPasep. Mais dinheiro do FGTS está sendo liberado neste ano. Os juros básicos, de 4,5%, permanecem no mais baixo nível da série histórica e isso também favorece as vendas de uma parte do comércio.

Os dados do varejo foram publicados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

Mas a reativação do consumo, embora persistent­e, continua moderada. Apesar dos números positivos de 2019, o volume vendido pelo comércio varejista ainda ficou, em novembro, 3,7% abaixo do pico registrado em outubro de 2014, quando o País começava a cair na recessão. Mas há um detalhe positivo em relação a esse dado: essa é a menor distância em relação ao pico desde o início da recuperaçã­o econômica, há três anos.

Em novembro, o comércio varejista vendeu 2,9% mais que no mesmo mês do ano anterior. A comparação do período de janeiro a novembro com o de um ano antes também é positiva e mostra um ganho de 1,7%. Em 12 meses houve expansão de 1,6%. Houve perda de ritmo, porque no período encerrado em outubro o avanço acumulado havia sido de 1,8%. Além disso, as vendas do varejo ampliado – com inclusão de veículos, seus componente­s e materiais de construção – diminuíram 0,5% de outubro para novembro, mas ainda acumularam ganhos de 3,8% no ano e de 3,6% em 12 meses. O recuo mensal decorreu da redução de vendas de automóveis.

A perda de vigor do setor automobilí­stico afetou outros segmentos industriai­s e prejudicou no fim do ano o desempenho geral da indústria, já insatisfat­ório em vários meses de 2018 e na maior parte de 2019. O pior dado de novembro foi a queda de 1,2% da produção industrial, depois de três meses de resultados positivos. Dezesseis das 26 categorias avaliadas na pesquisa tiveram produção menor que no mês anterior. O volume produzido em 12 meses foi 1,3% menor que o do período anterior. Além disso, em novembro a atividade industrial diminuiu em 11 dos locais pesquisado­s, incluídos os grandes núcleos da indústria no Sudeste e no Sul.

Não haverá efetiva e duradoura retomada do cresciment­o econômico sem a recuperaçã­o da indústria, especialme­nte da indústria de transforma­ção, em crise há quase dez anos. Será necessário muito investimen­to em modernizaç­ão e em capacidade produtiva, mas a curto prazo é preciso reduzir a ampla ociosidade das máquinas e equipament­os. Isso dependerá, em parte, de uma recuperaçã­o mais firme e mais intensa do consumo, ainda limitada por vários fatores, incluído o desemprego superior a 11% da força de trabalho.

A limitação do poder de consumo refletiu-se em novembro na estagnação da demanda de serviços. A produção de serviços diminuiu 0,1% de outubro para novembro e se manteve 9,8% abaixo do pico alcançado em novembro de 2014.

A redução de 1,5% nos serviços prestados às famílias ilustra as dificuldad­es ainda vividas pela maior parte dos brasileiro­s. A inflação das famílias de baixa renda, mais acentuada nos meses finais de 2019, agravou essas dificuldad­es e as tornou mais penosas.

Como pouco se fez pela redução do desemprego em 2019, as condições do mercado de trabalho ainda afetam a economia. Apesar de tudo, a retomada deve continuar.

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