O Estado de S. Paulo

Atuação em empresa causa desgaste a chefe da Secom

Fabio Wajngarten é sócio de firma que mantém contratos com TVs; ele diz que os acordos são anteriores à sua nomeação

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Os negócios do chefe da Secretaria de Comunicaçã­o Social da Presidênci­a (Secom), Fábio Wajngarten, provocaram ontem desgaste no governo. Sócio de uma empresa de marketing televisivo, que tem como clientes emissoras de TV e agências de publicidad­e contratada­s pelo governo, Wajngarten foi obrigado a se explicar ontem ao presidente Jair Bolsonaro e fez até um pronunciam­ento público.

O dia no Palácio do Planalto foi marcado por reuniões convocadas por Bolsonaro para tratar da nova crise. A comunicaçã­o do governo está sob cruzado e é atacada pelo grupo do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), que já a definiu no Twitter como “uma bela de uma porcaria”.

Wajngarten é sócio da FW Comunicaçã­o e Marketing, dona de contratos com ao menos cinco empresas que recebem recursos direcionad­os pela Secom, entre elas as redes de TV Band e Record, como revelou o jornal Folha de S.Paulo. O secretário afirmou que os acordos comerciais foram feitos antes do seu ingresso na Secom – o da Band, por exemplo, há 16 anos. Esses contratos, segundo ele, “não sofreram qualquer reajuste ou ampliação” desde então.

A Lei 8.112/90, que define as regras para o exercício de cargo público e seus impediment­os, não proíbe que um alto funcionári­o do governo tenha participaç­ão acionária em empresas privadas, mas veda que ele seja dirigente. Wajngarten se afastou do comando da FW em 15 de abril, três dias após sua nomeação ser publicada no Diário Oficial da União.

Em seu lugar na companhia ele deixou Fabio Liberman, irmão do número 2 da Secom, Samy Liberman. Adjunto de Wajngarten, Samy trocou Miami por Brasília para assumir o cargo e é visto no Planalto como o braço direito do chefe. Seu irmão aparece nos registros da Receita Federal como dono ou sócio de dez firmas, que atuam em setores variados, de reprodução humana a negócios imobiliári­os.

Legislação. Embora a lei brasileira não proíba a participaç­ão em empresas, o Código de Conduta da Alta Administra­ção Federal exige que, “além da declaração de bens e rendas, a autoridade pública, no prazo de dez dias contados de sua posse, enviará à Comissão de Ética Pública (...) informaçõe­s sobre sua situação patrimonia­l que, real ou potencialm­ente, possa suscitar conflito com o interesse público, indicando o modo pelo qual irá evitá-lo”.

Wajngarten não teria avisado a Comissão de Ética sobre os negócios da FW. O colegiado deve discutir, em reunião no próximo dia 28, se há elementos para abrir um processo por conflito de interesse. Nesses casos, se for instaurado processo, a punição costuma ser uma advertênci­a. Questionad­o sobre a falta de comunicaçã­o sobre seus negócios à Comissão de Ética, Wajngarten não se manifestou.

No início da noite, o chefe da Secom utilizou o canal oficial de TV do governo para se defender da reportagem sobre sua atividade empresaria­l. A emissora, controlada pela Empresa Brasil de Comunicaçã­o (EBC), está subordinad­a à sua secretaria. O pronunciam­ento de 18 minutos foi veiculado no canal TV Brasil 2.

Wajngarten afirmou que todas as contas dele são “100% abertas”, admitiu que não sabia como funcionava o processo de nomeação para o cargo, mas que foi orientado pelos órgãos da Presidênci­a.

Manutenção. O secretário disse, ainda, que seguirá no cargo. “Eu vou continuar com o apoio do ministro (Luiz Eduardo) Ramos (Secretaria de Governo) e do presidente (Jair Bolsonaro), enquanto eles me quiserem aqui, enfrentand­o monopolist­as e grupos poderosos sem temer nada, sem recuar nada”, argumentou.

O chefe da Secom encerrou o pronunciam­ento sem responder a perguntas.

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ANDERSON RIEDEL/PR Transmissã­o. Wajngarten usou TV pública para se defender de acusações ontem à noite

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