O Estado de S. Paulo

ONG critica governo em área ambiental

HRW aponta alta do desmate na Amazônia como um dos principais problemas; governo não comentou relatório

- Paula Felix

A ONG Human Rights Watch fez críticas ao primeiro ano do governo Jair Bolsonaro em relação às questões ambientais e de segurança pública ontem durante o lançamento do Relatório Mundial 2020, que analisou a situação dos direitos humanos em mais de cem países.

Com base em dados de órgãos públicos, como o Ibama, imagens de satélite e informaçõe­s dadas por moradores e autoridade­s locais, a entidade afirmou que o governo tem adotado medidas contra a “liberdade de expressão” e que ameaçam o meio ambiente, com destaque para a Amazônia.

Em nota, o Ministério do Meio Ambiente disse que ainda não analisou o relatório e “poderá se pronunciar após ter realizado a leitura do documento”. Procurado pelo Estado, o Ministério da Justiça e Segurança Pública não se posicionou até as 20 horas de ontem.

“Uma das áreas mais preocupant­es que as instituiçõ­es democrátic­as não foram capazes de barrar foi o meio ambiente. A destruição é feita por redes criminosas que lucram com a extração da madeira, invadem terras e corrompem agentes públicos. Essas máfias são perigosas e estão se apropriand­o de algo que é público”, diz Maria Laura Canineu, diretora da ONG no Brasil.

Segundo ela, medidas devem ser tomadas de forma emergencia­l. “A gente espera que tenha um plano nacional, com ação do Ministério Público Federal e órgãos estaduais para ter a proteção dos nossos recursos naturais e acabar com esse estado de ilegalidad­e.” A entidade informou que dados preliminar­es de alertas de perda florestal apontam alta de 80% no desmate na Amazônia no período de janeiro a dezembro de 2019. Enquanto isso, conforme números do Ibama analisados pela ONG, houve queda de 25% nas multas aplicadas por desmate ilegal de janeiro a setembro de 2019, ante o mesmo período de 2018.

“Bolsonaro criou a obrigação da realização de audiências de conciliaçã­o para processos administra­tivos por infrações das leis ambientais. Desde outubro, quando entrou em vigor, todos os processos estão parados”, diz César Muñoz, pesquisado­r sênior da organizaçã­o.

Violência. Muñoz avalia que o País tem queda no total de mortes violentas – em 2018, a redução foi de 11% comparada ao ano anterior, mas o Brasil ainda precisa enfrentar a criminalid­ade e evitar o discurso que incentiva a violência. “Também não pode haver impunidade quando houver casos de abusos”, afirma.

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