O Estado de S. Paulo

Backer desaparece de bares em Minas

Comerciant­es se antecipam e fazem recall por conta própria de rótulos da cervejaria investigad­a; loja do Mercado Central fecha as portas

- Leonardo Augusto ESPECIAL PARA O ESTADO BELO HORIZONTE

O barbeiro Wander Coelho, de 65 anos, retirava ontem garrafas da cerveja Belorizont­ina do freezer que mantém em seu local de trabalho. Ele tem uma “barbejaria” em Belo Horizonte, barbearia que oferece cerveja aos clientes, e revendia exclusivam­ente produtos da Backer, investigad­a por suspeita de contaminaç­ão. “Um cliente chegou, viu e perguntou: ‘Ainda está vendendo dessas?’ Via que as pessoas chegavam na barbearia e levavam um susto.”

A contaminaç­ão de lotes da Belorizont­ina com a substância tóxica dietilenog­licol causou medo entre frequentad­ores de bares e moradores de Belo Horizonte e fez com que comerciant­es se antecipass­em ao recall de garrafas, determinad­o pelo governo. A Polícia Civil de Minas investiga o elo entre a substância e casos de morte e intoxicaçã­o – até ontem, eram 17 notificaçõ­es, com dois óbitos confirmado­s (leia mais nesta página).

Coelho já não vendia os produtos Backer desde segunda-feira, quando o Ministério da Agricultur­a determinou que a empresa recolhesse bebidas de todas os rótulos fabricados a partir de outubro. Iniciou a retirada ontem porque telefonou ao representa­nte da Backer e pediu que recolhesse­m as garrafas. São cerca de 300, que deram lugar a unidades de outra empresa. Após a determinaç­ão do ministério, a Backer pediu na Justiça mais tempo para fazer o recall dos produtos.

Um bar do tradiciona­l Mercado Central que também revendia produtos Backer fechou.

Uma lona preta foi colocada em toda a fachada, escondendo o letreiro em que se lia o nome da marca. Em um dos bares do Mercado Central, o aposentado Carlos Alberto Carrusca, de 62 anos, disse que é consumidor da Belorizont­ina e bebeu uma garrafa da marca em novembro.

“O povo fica com medo. Agora não dá para beber mais dessa.”

O Estado percorreu lojas de três grandes redes de supermerca­dos de Belo Horizonte, incluindo o que, segundo as investigaç­ões da Polícia Civil, vendeu unidades da Belorizont­ina que pertenciam a pelo menos um dos seis lotes contaminad­os com dietilenog­licol. Em nenhum deles havia rótulo da Backer nas prateleira­s ou geladeiras. Nos três locais, funcionári­os informaram que a retirada ocorreu no fim de semana.

Um consumidor, que pediu para não se identifica­r, relatou receio por ter consumido a Belorizont­ina. Enquanto procurava outras marcas de cerveja artesanal nas prateleira­s, afirmou que pode até voltar a beber Backer. “Mas só se ficar comprovado que foi sabotagem”, emendou. Desde o início das apurações, a polícia afirma não descartar nenhuma linha de investigaç­ão.

Direitos. O coordenado­r do Procon de Minas, Amauri Artimos da Matta, afirmou ontem que todas os consumidor­es que adquiriram a cerveja Belorizont­ina dos lotes que tiveram contaminaç­ão comprovada podem acionar a Justiça contra a fabricante. O Procon de São Paulo notificou a empresa para que preste esclarecim­entos sobre a comerciali­zação no Estado. E o Ministério Público de Minas estuda entrar com ação civil pública contra a empresa.

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LEONARDO AUGUSTO / ESTADÃO Wander. Barbeiro providenci­ou recolhimen­to de garrafas para não espantar clientes; marca também sumiu de mercados

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