O Estado de S. Paulo

Itamaraty confirma apoio dos EUA ao Brasil na OCDE

Segundo o governo, uma carta dos americanos pedindo que o País fosse priorizado foi entregue ao conselho da organizaçã­o em Paris

- Julia Lindner / BRASÍLIA Beatriz Bulla CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Depois de o Brasil fazer uma série de concessões aos Estados Unidos ao longo de 2019, o governo Donald Trump anunciou que vai dar prioridade ao pleito brasileiro de ingresso na Organizaçã­o para a Cooperação e o Desenvolvi­mento Econômico (OCDE).

De acordo com o Itamaraty, uma carta com o pedido para dar prioridade ao Brasil foi apresentad­a pelos americanos em reunião do conselho da OCDE com representa­ntes dos paísesmemb­ros, na manhã de ontem, em Paris. Sob a alegação de que o processo é confidenci­al, os EUA não confirmara­m oficialmen­te a informação.

O Brasil é um dos seis candidatos, além de Romênia, Croácia, Bulgária, Argentina, Peru e Ucrânia, a iniciar o processo de entrada nesse organismo. Os EUA vinham defendendo que Argentina e Romênia entrassem primeiro. Agora, parecem ter mudado de ideia e substituíd­o o pleito argentino pelo brasileiro.

O pedido formal para ingressar na OCDE foi feito pelo Brasil em meados de 2017. A OCDE atua como uma organizaçã­o para cooperação e discussão de políticas públicas e econômicas. Para entrar na OCDE, é necessário a implementa­ção de uma série de medidas econômicas liberais, como o controle inflacioná­rio e fiscal. Em troca, o país ganha um “selo” de investimen­to que pode atrair investidor­es.

Em nota, o Ministério de Relações

Exteriores informou que a proposta dos EUA, “de início imediato do processo de acessão do Brasil” à OCDE, “trata-se de passo fundamenta­l para destravar o processo de expansão da organizaçã­o”.

Até hoje, o governo Trump vinha se compromete­ndo com o apoio ao pleito brasileiro de entrar na OCDE, sem indicar que posição o Brasil ocuparia na “fila” de candidatos, o que deixava o País no limbo.

A mudança acontece depois de um ano em que o governo Bolsonaro mostrou alinhament­o com os americanos, apesar de viver percalços na relação com a Casa Branca, e depois de o Itamaraty ter apoiar a ação americana no Iraque.

Segundo um auxiliar de Bolsonaro, a notícia veio em “ótima hora”, consideran­do que ocorre algumas semanas após os EUA recuarem da decisão de sobretaxar o aço brasileiro – algo que tinha colocado em xeque a relação entre Trump e Bolsonaro. O próximo passo, de acordo com o interlocut­or do presidente, será oficializa­r a negociação de um acordo comercial entre Mercosul e EUA.

Cronograma. O secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacio­nais, Marcos Troyjo, disse ao Estadão/Broadcast que o Brasil quer montar um cronograma para firmar um acordo comercial com os EUA. Segundo ele, Bolsonaro e Trump já deram sinalizaçã­o positiva para as negociaçõe­s. O avanço, porém, dependerá ainda de uma flexibiliz­ação no Mercosul que permita ao Brasil e aos demais membros negociar tarifas e cotas independen­te do bloco – o que o secretário chama de “Mercosul flex”.

Ontem, o presidente Bolsonaro afirmou que o Brasil está “bastante adiantado” nos critérios para entrar na OCDE, “inclusive na frente da Argentina”. “São mais de cem requisitos para você ser aceito. Estamos bastante adiantados. E as vantagens para o Brasil são muitas. Equivale ao País entrar na primeira divisão.”

De acordo com o Ministério da Economia, foi feita uma avaliação da compatibil­idade da legislação brasileira com acervo e padrões da OCDE. Segundo a área econômica, 82,6% dos instrument­os não representa­m conflito para o País. Entre os desafios está uma simplifica­ção do sistema tributário brasileiro, tema que ainda está em discussão no Congresso.

 ?? OFFICIAL WHITE HOUSE PHOTO BY SHEALAH CRAIGHEAD-19/3/2019 ?? Parceria. Em março de 2019, em visita aos EUA, Bolsonaro recebeu apoio de Trump
OFFICIAL WHITE HOUSE PHOTO BY SHEALAH CRAIGHEAD-19/3/2019 Parceria. Em março de 2019, em visita aos EUA, Bolsonaro recebeu apoio de Trump

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil