EUA e China assinam 1ª fase de acordo comercial
Pequim se compromete a comprar US$ 200 bi em bens e serviços americanos, enquanto Washington reduz tarifas a produtos chineses
Estados Unidos e China oficializaram ontem, em cerimônia na Casa Branca, a chamada “fase 1” de um acordo que coloca fim a uma guerra comercial que se arrastou por quase dois anos. Desde 2018, a disputa entre as duas potências provocou uma escalada de tarifas impostas pelos EUA a US$ 360 bilhões de produtos chineses e retaliações por parte de Pequim, com reflexos na economia mundial.
Pelo acordo, os chineses aceitaram aumentar a compra de bens e serviços americanos – incluindo produção agrícola dos EUA– e em avançar na proteção de tecnologia, um pleito dos americanos. Já os EUA vão suavizar as tarifas impostas nos últimos meses, mas manter boa parte das sobretaxas em pé, com a ameaça de punição extra caso a China descumpra o acordado.
O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que as tarifas ainda em vigor são uma forma de manter as negociações para a chamada “fase 2” do acordo, mas disse que está pronto para retirar todas as sobretaxas assim que os dois países chegarem a um acordo final. “Francamente, a China e eu vamos começar a negociar (próxima fase) muito em breve”, disse.
Trump sela a trégua com os chineses a menos de onze meses da disputa presidencial de 2020, que pode conduzi-lo a mais quatro anos na Casa Branca. O setor rural, eleitorado importante do presidente, tem pressionado o governo por soluções sobre a disputa comercial. Os agricultores do Meio-Oeste sofreram com a retaliação chinesa às tarifas impostas pelos EUA e viram uma queda drástica nas exportações, mas serão beneficiados pelo acordo inicial com os chineses em pleno ano eleitoral.
Os chineses prometem a compra de US$ 200 bilhões de bens e serviços dos EUA nos próximos dois anos, sendo um incremento de US$ 12,5 bilhões em produtos agrícolas americanos para além da base de importação de 2017, na casa de US$ 24 bilhões. Isso apenas no primeiro ano do acordo. No ano que vem, o incremento é de US$ 19,5 bilhões sobre a base de 2017.
Fora o incremento de compras pelo governo chinês, os americanos conseguiram conquistas como abertura de mercado para alguns setores, como o de biotecnologia e o de carne bovina. Os chineses também se comprometem a não forçar empresas americanas a fornecer informações de sua tecnologia para poder operar na China. Os dois países se comprometem ainda a não desvalorizar moedas para obter vantagem competitiva no mercado internacional.
Em troca, os EUA cancelaram uma nova leva de tarifas que entraria em vigor e reduziram de 15% para 7,5% a sobretaxa de US$ 110 bilhões imposta em setembro. Mas as tarifas de 25% impostas a US$ 250 bilhões de produtos chineses continuam em vigor.
O mercado espera por sinais concretos do aumento das exportações, pois o acordo divulgado ao público não discrimina quanto o governo chinês pretende comprar de cada produto. “A assinatura do acordo é positiva para reduzir os atritos entre as duas maiores economias do planeta e dá otimismo aos mercados, mas vários questionamentos permanecem: qual a quantidade a ser comprada de cada produto, por quanto tempo e qual será o andamento da 'fase 2' do acordo entre os dois países” afirma Tarso Veloso, analista baseado em Chicago da ARC Mercosul, consultoria de commodities.
O presidente da União Nacional dos Fazendeiros dos EUA, Roger Johnson, ainda hesita em comemorar. “Sem detalhes mais concretos, estamos profundamente preocupados que todo o sofrimento possa não ter valido a pena”, afirmou em nota.