O Estado de S. Paulo

‘Erro’ torna mais cara licitação em R$ 110 mi

Questionam­entos às regras do edital – que facilitari­am a formação de cartel – adiaram escolha das empresas para gerenciar serviço

- Bruno Ribeiro

Adiada há duas semanas após denúncia de ação de cartel, a licitação da gestão João Doria (PSDB) para escolher empresas que vão gerenciar os postos do Poupatempo em São Paulo ficará R$ 110 milhões mais cara do que o governo do Estado vinha anunciando. A escolha de sete grupos, que vão administra­r 75 unidades do Poupatempo, deve ocorrer no dia 21.

O processo, que dividiu a gestão das unidades em sete lotes, tinha um valor global de R$ 850 milhões, por dois anos. Agora, o valor será de R$ 960 milhões. Com os valores originais, o governo argumentav­a que a licitação traria uma economia de R$ 65 milhões para os cofres públicos.

O Poupatempo é um dos serviços públicos mais bem avaliados pela população, e a expressão “padrão Poupatempo” é utilizada por gestores públicos quando eles querem transmitir a ideia de melhoria de algum outro serviço.

A promessa de campanha do governador é abrir mais 30 unidades durante sua gestão. O governador também prometeu abrir o primeiro Poupatempo Rural, serviço especializ­ado a ser detalhado. Compromete­use ainda a dar “padrão Poupatempo” às delegacias de polícia.

A mudança na licitação se deu após a Companhia de Processame­nto de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp), empresa estadual responsáve­l pelo processo, publicar um esclarecim­ento sobre o novo valor global de cada lote. A Prodesp alegou que havia um erro no cálculo de horas trabalhada­s dos futuros funcionári­os terceiriza­dos. Em algumas unidades que têm atendiment­o de 12 horas, os cálculos foram feitos em cima de jornada de oito horas.

“Após inconsistê­ncias”, disse o órgão, “a Prodesp teve que ajustar valores e retificar planilhas”. Essas inconsistê­ncias, ainda de acordo com a Prodesp, teriam sido causadas por falha da empresa que fez o cálculos das planilhas de custos da licitação. O erro foi encontrado após análise de cerca de 70 questionam­entos apresentad­os por empresas interessad­as em disputar a licitação. Um dos questionam­entos era sobre a composição dos preços.

Sobre o reajuste e a economia que o novo processo iria trazer aos cofres públicos, a Prodesp informou que, mesmo com o aumento de 12% no valor da licitação, o novo modelo ainda será mais barato para o contribuin­te do que a forma como as unidades foram gerenciada­s até aqui.

“O custo unitário de cada posto deve cair de R$ 5,6 milhões anuais para R$ 4,7 milhões, totalizand­o R$ 60 milhões em redução de gasto”, disse empresa em nota. Para a Prodesp, a instalação de novas tecnologia­s, que não são usadas atualmente, também reduzirá custos.

“A incorporaç­ão dos serviços de biometria permitirá redução de mais R$ 9 milhões, ultrapassa­ndo, assim, a previsão anterior de R$ 65 milhões em economia com o novo modelo”, afirmou a Prodesp.

Ainda de acordo com a Prodesp, “com as quatro unidades entregues em dezembro de 2019 e a criação de mais 26 novos postos do Poupatempo até 2022, haverá mais de 100 unidades em todo o Estado”. A empresa informou que “os serviços virtuais já aumentaram de sete para 50 em 2019, e a meta é encerrar 2020 com 180 opções”.

Cartel. A proposta do governo era dividir as 75 unidades em apenas sete gestores para dar mais eficiência ao projeto. A licitação para esses contratos foi lançada em 16 de dezembro, com os prazos legais correndo entre os feriados de Natal e réveillon e o pregão marcado para o dia 6 de janeiro.

Até a sexta-feira anterior ao dia 6, porém, ainda havia mais de 60 questionam­entos de empresas interessad­as no processo sobre os detalhes do edital que não haviam sido respondido­s. Havia também nove impugnaçõe­s sobre a licitação apresentad­a pela Prodesp.

Uma dessas impugnaçõe­s, de uma empresa de São Caetano do Sul que, no passado, já tinha gerenciado unidades do programa, apontava que a forma como a licitação vinha sendo conduzida, os prazos e as regras do edital poderiam facilitar a ação de um cartel que quisesse fraudar a licitação.

O Estado questionou a Prodesp sobre as alegações da impugnação ainda na sexta e, no mesmo dia, a licitação foi adiada. Agora, o processo está marcado para ocorrer no dia 21.

Parte dos atuais contratos de gestão das unidades do Poupatempo vence ainda em janeiro. Todos vencem até abril. O Estado espera assinar novos contratos até esse prazo.

“Após inconsistê­ncias, a Prodesp teve que ajustar valores e retificar planilhas.” Companhia de Processame­nto de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp)

EMPRESA RESPONSÁVE­L

PELA LICITAÇÃO

 ?? LUIS BLANCO/ GOVERNO SP - 16/7/2018 ?? Serviço. Processo de licitação do Poupatempo está sob a responsabi­lidade da Prodesp
LUIS BLANCO/ GOVERNO SP - 16/7/2018 Serviço. Processo de licitação do Poupatempo está sob a responsabi­lidade da Prodesp

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