Retrocesso histórico
Muito oportuno o editorial do Estadão de ontem a respeito dos riscos do nacionalismo (Nacionalismo, risco global, A3), que se casa perfeitamente com as sábias observações da chanceler alemã, Angela Merkel, constantes da mesma edição. Ela lembrou muito oportunamente que as Nações Unidas, e também a União Europeia, foram criadas depois e como consequência da tragédia que foi a 2.ª Guerra Mundial, com o objetivo de assegurar a paz e a convivência harmônica entre as nações, em oposição ao período entreguerras das décadas de 20 e 30 do século 20, marcado por nacionalismos exacerbados que culminaram no maior conflito armado da História da humanidade. Guerras entre as principais potências europeias não houve mais, apenas conflitos nos Bálcãs, foco histórico de paixões nacionalistas incontroláveis. As duas principais nações anglosaxãs – Inglaterra e EUA –, porém, que sempre se reivindicaram, sem fundamento nos fatos, um “excepcionalismo” perante as demais nações, estão minando as bases desse globalismo com políticas retrógradas e agressivas, a primeira com o Brexit e a segunda com a adoção do protecionismo, de sanções no campo econômico e ataques militares, medidas tomadas de modo unilateral e ilegal, sem consulta e aprovação de seus Parlamentos e das instituições internacionais criadas, ironicamente, por sugestão dos próprios EUA. Não há como evitar o sentimento de que com o primeiro-ministro Boris Johnson e o presidente Donald Trump estamos vivendo um retrocesso histórico nas relações entre as nações.
PAULO A. DE SAMPAIO AMARAL
DRpaulo@uol.com.br
São Paulo