O Estado de S. Paulo

Postura de Lula é questionad­a por sindicalis­tas e aliados

Para Centrais e líderes de siglas de esquerda, petista tem feito uma política ‘estreita’ desde que deixou a prisão

- Ricardo Galhardo

Centrais sindicais que participar­am do movimento Lula Livre e líderes de partidos historicam­ente alinhados ao PT têm demonstrad­o descontent­amento com a atuação política do expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva desde que ele deixou a cadeia, em novembro.

Segundo eles, Lula tem feito uma política muito “estreita”. O movimento é interpreta­do por petistas como uma tentativa de isolar o ex-presidente e o PT e levar a centro-esquerda para projetos mais amplos como os de Ciro Gomes (PDT) ou do apresentad­or de TV Luciano Huck (sem partido).

Força Sindical, Central dos Trabalhado­res e Trabalhado­ras do Brasil (CTB) e União Geral dos Trabalhado­res (UGT) não foram convidadas para reunião nacional da campanha Lula Livre marcada para hoje, em São Paulo. Em 2018, estas centrais (e outras quatro) aceitaram transferir o centro da comemoraçã­o do Dia do Trabalho de São Paulo para Curitiba em solidaried­ade a Lula. Alguns de seus dirigentes se engajaram pessoalmen­te na campanha pela libertação do petista.

Agora, reclamam que o petista, desde que saiu da cadeia, só recebe dirigentes da Central Única dos Trabalhado­res (CUT). “Depois da saída da prisão, Lula só se encontrou com CUT. Não recebeu nenhuma outra central. A política dele está estreita. Lula só chegou à presidênci­a quando se aplicou com empresário­s”, disse o secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna.

A Força é ligada ao Solidaried­ade. A Central dos Sindicatos Brasileiro­s (CSB) tem na presidênci­a Antonio Neto, do PDT, e a UGT é presidida por Ricardo Patah, do PSD. Até mesmo centrais que devem participar da reunião Lula Livre, como a Central de Trabalhado­res e Trabalhado­ras do Brasil (CTB), que tem dirigentes ligados ao PCdoB e ao PSB, questionam a postura de Lula. “Queremos ir lá para mostrar nossa opinião. O mundo não gira em torno do Lula. O PT e a esquerda foram derrotados e construir a possibilid­ade de um retorno terá que fazer um movimento mais amplo”, disse o presidente da CTB, Adilson Araújo, do PCdoB.

Patah, da UGT, confirmou que não foi convidado para o evento, mas minimizou o fato de ainda não ter sido recebido por Lula. “No momento certo ele vai conversar com as centrais”, disse ele.

Anteontem, o deputado Orlando Silva, líder do PCdoB na Câmara, publicou um texto no qual ataca Lula por ter dito em uma entrevista que dificilmen­te alguém se elege presidente por um partido comunista e exaltado o tamanho do PT em comparação com outros partidos de esquerda.

“Lula considerar difícil a eleição de um comunista para presidente não surpreende, afinal, ele considerav­a impossível uma vitória para o governo do Maranhão. Flávio Dino foi eleito e reeleito governador sem seu apoio. Mas qual a utilidade de reforçar a retórica anticomuni­sta?”, questiona o deputado comunista que foi ministro dos Esportes no governo Lula.

Na entrevista à TVT veiculada quarta-feira, Lula fez largos elogios a Dino e admitiu a possibilid­ade de apoiar o governador do Maranhão, com as ressalvas de que o PT tem mais estrutura e da rejeição à palavra “comunista”. Orlando classifico­u os elogios como um “abraço de urso”

Segundo o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, as centrais não foram convidadas porque a reunião do Lula Livre é restrita às entidades que participar­am organicame­nte do movimento. “É uma reunião mais organizati­va. O objetivo é discutir o fato de que Lula está solto, mas não teve reconhecid­a sua inocência nem teve de volta seus direitos políticos”, disse ele.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Ex-presidente. Lula e o PT têm ato hoje em São Paulo

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