O Estado de S. Paulo

‘É possível enxergar o caminho para saída da crise fiscal’

Para economista, queda de juros e aprovação da reforma da Previdênci­a trazem ‘perspectiv­a de uma melhora concreta’

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

Coordenado­r do Observatór­io Fiscal do Ibre/FGV, o economista Manoel Pires, diz que, com a queda dos juros básicos da economia e a aprovação da reforma da Previdênci­a, é possível enxergar uma saída da crise nas contas públicas no

Brasil. “Temos um caminho, mas já atravessam­os a zona de arrebentaç­ão da maré”, afirma. A seguir, os principais trechos.

Quais são os riscos fiscais para 2020?

Ao longo de 2019, conseguimo­s enxergar o caminho para saída da crise fiscal e do cresciment­o do endividame­nto. Primeiro, por causa da queda dos juros. Segundo, porque, com a aprovação da reforma da Previdênci­a, temos uma perspectiv­a de melhora fiscal mais concreta. A queda dos juros reduz o resultado primário (receitas com a arrecadaçã­o de impostos menos despesas, sem considerar o pagamento dos juros) requerido para estabiliza­r a dívida pública.

Como isso se reflete nos riscos fiscais?

Quando olhamos a evolução do efeito financeiro ao longo do tempo do conjunto de medidas que já foi adotado, estamos mais próximos de atingirmos esse cenário de sustentabi­lidade fiscal. No cenário básico, as projeções indicam que nesse ciclo de governo podemos não ter mais aumento de dívida, cresciment­o significat­ivo.

E por que o governo não diz? Entendo eles não dizerem isso, porque a mensagem de que o problema está encaminhad­o vai contra a manutenção da agenda que está sendo proposta. Enfraquece. Essa é uma das críticas que o meu argumento tem recebido.

Quais são essas críticas?

De que é preciso avançar um pouco mais nas reformas. Na minha avaliação são duas discussões diferentes. Várias dessas reformas têm mérito, independen­temente da questão da sustentabi­lidade fiscal. Fazer uma reforma do RH do governo tem mérito sim, aumentar a produtivid­ade e racionaliz­ar recursos. Tudo isso é importante em si. Vai abrir espaço para outras políticas públicas. A reforma tributária, a mesma coisa. O fato de termos um caminho que está sendo trilhado para a estabilida­de da dívida pública não é, de forma alguma uma, indicação de que a agenda fiscal se tornou irrelevant­e.

O que significa o País estar no caminho da sustentabi­lidade fiscal?

Significa que hoje conseguimo­s vislumbrar uma trajetória de estabilida­de da dívida dentro de um cenário de curto para médio prazo. Isso significa também que podemos ter menos volatilida­de de juros, podemos trabalhar com juros mais baixos nos próximos anos e abrir espaço para investimen­tos privados.

Pode-se dizer que o problema fiscal do governo está superado? Temos um caminho. Já atravessam­os a zona de arrebentaç­ão da maré. Evidenteme­nte que pode acontecer alguma coisa, mas é um cenário muito melhor. A questão dos Estados e municípios continua relevante e não foi equacionad­a ainda. É preciso avançar na discussão da Previdênci­a dos servidores estaduais e municipais. A reforma do RH do Estado é importante para fortalecer esse fator de risco das finanças públicas e para ter maior controle dos gastos de salários dos servidores.

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